A pandemia em si e seus efeitos ainda não passaram. E, dependendo do setor econômico, vão demorar para passar. Para outros, o período exigiu grandes esforços de adaptação, mas o período foi muito bom, até mesmo muito superior ao que previam antes da pandemia. Perguntem para o pessoal do cash and carry ou atacarejos, material de construção ou mesmo para farmácias e drogarias. Além dos super e hipermercados.
Com a necessária cautela, é possível dizer que o pior já passou, se é que é possível simplificar a análise que mostra quase 14% de desempregados e mais de 140 mil mortes.
No macro, muita constatação pode ser feita sobre vencedores e perdedores e especulação sobre a nova realidade emergente e o que veio para ficar e o que foi fumaça e vai desanuviar.
No real, só o tempo poderá responder, ainda que muito possa ser especulado.
Mas talvez seja no plano individual que algumas constatações mais definitivas possam ser feitas. Ainda que sejam definitivas enquanto durarem.
É interessante especular sobre que percentual de pessoas de diferentes classes, idade, escolaridade e atividade assume que mudou sua vida pessoal e profissional para sempre.
Que percentual assumiu outra postura com relação a si próprio e com os que compartilham sua companhia.
Quem tomou decisões, em quaisquer planos, de investimentos a atividades pessoais, que marcam essa guinada.
Quem usou esse tempo, contingenciado pelas circunstâncias, para se propor a ser melhor no que quer que seja.
Quem simplesmente passou pela pandemia.
Quem enfrentou a pandemia e se propôs a sair fortalecido de todo esse processo.
Quem aprendeu algo, existencial, durante a pandemia.
Quem se deixou levar, esperando a pandemia passar.
Talvez esteja nessa análise uma dica importante de como o mundo emerge da pandemia no contexto do comportamento individual e coletivo.
Sem falar no fato de que, no Brasil, os efeitos da pandemia foram potencializados por questões financeiras estruturais, como a taxa real de juros próxima a zero e seus impactos nos investimentos individuais.
Contribuição importante para essa análise pode ser buscada no material apresentado de forma sintética durante o Global Retail Show nos dois painéis com dirigentes e executivos de algumas das mais importantes organizações atuando no Brasil e no mundo que tiveram como base o estudo “O Consumidor Pós-Pandemia”, realizado em 17 países e com 5.023 entrevistas virtuais pela Mosaiclab com apoio da Toluna, com um recorte muito especial da realidade brasileira.
Acreditamos que muita coisa mudou, e assim permanecerá, pois pessoas foram submetidas a um conjunto de circunstâncias, pressões e estímulos que ensejaram mudanças estruturais de comportamentos.
E outras alterações ocorreram e permanecerão por decisões empresariais que impactam a vida e hábitos das pessoas. Como exemplo-provocacão, as mudanças que envolvem o local de trabalho permanente ou parcial e suas consequências em termos de deslocamentos, transporte, local e hábito de compra e uso de produtos e serviços e seu impacto na geografia de consumo. Ou o fechamento de escritórios e o home office serão revertidos em algum momento futuro?
Cada um a seu modo tomou decisões ou foi impactado por decisões de quem tinha obrigação de tomá-las e isso precipita mudanças estruturais de comportamento que, em muitos aspectos, não voltam atrás. Ou quem se habituou com a conveniência e facilidade das compras por e-commerce para algumas categorias de produtos e serviços vai voltar integralmente à situação pré-pandemia?
Ou quem descobriu virtudes no abastecimento e serviços de proximidades vai voltar atrás em relação aos novos hábitos incorporados?
Ou quem se deu conta da importância de prestar mais atenção às questões que envolvem origem e rastreabilidade de alimentos, cuidados com a saúde e atividade física vai voltar à situação anterior?
Ou quem se deu conta da fragilidade coletiva em situações dessa dimensão vai esquecer disso brevemente, tão logo a situação esteja desenhada na nova realidade?
Ou tudo que cresceu de importância com respeito à Propósito e Causa das organizações, negócios e marcas será em breve novamente minimizado?
Estamos entre aqueles que acreditam que a realidade que vai emergir de todo esse processo pelo qual estamos passando e que enfrentando nos fez diferentes. Em maior ou menor escala. Com menor ou maior sensibilidade. Com menor ou maior consciência.
Mas estamos diferentes. Alguns para melhor. Outros, talvez não.
Seguramente, individual ou coletivamente, vale a reflexão.
Como foi, e como será, para você?
* Imagem: Reprodução