A Amazon foi uma das maiores vencedoras da pandemia de Covid-19 nos mercados em que já estava estabelecida, como Estados Unidos, Alemanha e Grã-Bretanha. Foi a ela que muitos clientes se dirigiram para comprar de tudo – de papel higiênico a jogos de tabuleiro.
Mas uma reportagem publicada neste fim de semana no jornal The New York Times mostra que até os países que tradicionalmente resistiam à gigante do comércio eletrônico agora também estão caindo nas garras dela.
A mudança foi particularmente percebida na Itália, um dos primeiros países duramente atingidos pelo vírus. Tradicionalmente, os italianos preferem fazer compras nas lojas e pagar à vista. Mas, depois que o governo impôs o primeiro bloqueio nacional contra o coronavírus na Europa, os italianos começaram a comprar itens online em números recordes.
Mesmo depois de as lojas terem sido reabertas, a mudança do comportamento dos italianos em direção ao e-commerce não parou. As pessoas estão usando a Amazon para comprar produtos básicos , como vinho e presunto, assim como webcam e cartuchos de impressora. Os pedidos de piscinas infláveis pelo site foram em número tão grande que alguns clientes reclamaram da demora na entrega.
Sucesso ‘discreto’ em dez anos
Desde que aportou no país, em 2010, a Amazon tinha tido um sucesso considerado apenas discreto. Menos de 40% dos italianos compraram online no ano passado, em comparação com 87% na Grã-Bretanha e 79% na Alemanha, de acordo com o Eurostat.
Entre os motivos, estavam a falta de banda larga generalizada e as estradas ruins para a entrega de pacotes, especialmente no Sul. A Itália também tem a população mais velha da Europa, o que sempre fez muita gente ter medo de fornecer dados financeiros online. O comércio eletrônico responde por apenas 8% dos gastos de varejo no país.
“Houve alguns problemas estruturais que tivemos de enfrentar”, admitiu Mariangela Marseglia, gerente nacional da Amazon para a Itália, ao The New York Times. “Infelizmente, nosso país foi e ainda é um daqueles em que o conhecimento e a cultura tecnológica são baixos.”
A empresa começou a ganhar muita força, no entanto, na pandemia. Segundo Mariangela, 75% dos italianos fizeram compras online em meio aos bloqueios impostos na tentativa de contenção do vírus. Estima-se que as vendas online totais cresçam 26% em 2020, para um recorde de 22,7 bilhões de euros, de acordo com pesquisadores da Universidade Politécnica de Milão.
A Netcomm, um consórcio varejista italiano, chamou isso de “salto evolutivo de dez anos”. Mais de dois milhões de italianos experimentaram o comércio eletrônico pela primeira vez entre janeiro e maio.
Sucesso atraiu as atenções e as críticas
Ainda assim, existem obstáculos. As pequenas e médias empresas são parte integrante da sociedade italiana. Elas representam cerca de 67% da economia, excluindo finanças, e cerca de 78% dos empregos.
O sucesso da Amazon também atraiu críticas. O foco dos sindicatos foram as práticas trabalhistas – o que resultou numa greve de vários dias em março por causa das políticas de segurança relacionadas ao vírus. Já os órgãos reguladores italianos estão investigando o aumento de preços durante a pandemia.
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