Coreia: um país, um mercado e um varejo, no mínimo, surpreendentes – Parte 4 (Final)

No primeiro artigo desta série sobre a Coreia, Momentum 831, discutimos os aspectos macroeconômicos e de mercado que configuram o comportamento do varejo por lá. Nas semanas passadas, nos Momentums 832 e 833, mostramos algumas características diferenciadas do varejo da Coreia e damos hoje continuidade, finalizando esta série.

9 – O rápido crescimento da economia da Coreia no seu período áureo, foi baseado no crescimento e expansão do modelo empresarial Chaebol, conglomerados de origem industrial com atuação diversificada e controlado por uma família e inspirado no modelo japonês dos Zaibatsu, com a diferença fundamental que nos Chaebols, a atividade financeira ficava necessariamente apartada da matriz de negócios.

O modelo de negócios foi um elemento fundamental da expansão econômica e no crescimento da relevância sul-coreana no mercado global, mas viveu altos e baixos ao longo do tempo, por sua relevância econômica e política, mas continua sendo fonte de inspiração da parceria governo-setor empresarial para o desenvolvimento de um país ou região.

O modelo Chaebol limitava um número pequeno de quatro a cinco negócios para um controlador de uma família, porém esses negócios podiam controlar outras empresas e atividades, criando uma rede importante que se espalhava por diferentes segmentos e negócios.

Ainda que sua principal proposta se concentrasse na formação de conglomerados industriais, como modelo de organização empresarial, os Chaebols inspiraram outros segmentos, entre eles o varejo.

Um dos grupos empresariais mais importantes na Coreia do Sul é o Shinsegae, o maior e mais antigo conglomerado varejista do país, com atuação em outros países asiáticos e mais recentemente expandindo no mercado norte-americano, tendo adquirido redes de supermercados na Costa Oeste e com planos de crescer através de novas aquisições e expansão orgânica;

10 – O conglomerado Shinsegae, representa muito bem o modelo de organização e atuação baseado no conceito Chaebol e teve vendas globais de US$ 33 bilhões em 2018 e sua atuação envolve diversos formatos, canais, marcas e negócios, incluindo também produção de alimentos e bebidas, shopping centers, hotéis, construção e tecnologia. É um dos principais players no universo do e-commerce da Coreia, com sua marca E-Mart, a mesma de sua operação de supermercados.

A marca Shinsegae é usada na principal rede de lojas de departamentos, operando no modelo mais tradicional com operações verticais em vários andares, incluindo área de alimentação própria e concessões no subsolo.

Na área de supermercados também operam uma rede SSG Food Market, diferenciada e voltada ao segmento mais afluente e a PK Market.

Mas operam diversos outros formatos como Toy Kingdon, de brinquedos; a Baby Circle, para bebês; a E-Mart Traders, claramente mais do que inspirada na Costco norte-americana, as farmácias licenciadas Boots, as lojas de conveniência EMart 24, a Electro Mart, um modelo próprio de operação inspirado na Best Buy e reconfigurada para ser quase que um parque de diversões masculino mesclando produtos eletrônicos, bebidas, papelaria, mobilidade e muito mais, apresentado na forma a criar experiências de compras e relacionamento.

O grupo opera lojas Starbucks em sociedade com a rede global, além dos restaurantes Peacock Kitchen, e a Nobrand, inovador modelo de varejo de valor trabalhando com produtos sem marca, buscando a melhor oferta possível de preço. A Life Container é outra operação mais do que inspirada na norte americana Container Store, com as mesmas características, linha de produtos, layout e comunicação.

No setor de material de construção e acabamento opera a StoneBrick, que tem como inspiração a Home Depot e outras similares.

Outra operação muito peculiar, essa exclusiva, é a Pierrot Shopping, com alguma similaridade com Tiger, porém auto definida como Fun & Crazy Store, uma evolução do antigo conceito de lojas de variedades e que mescla muitas categorias de produtos de baixo valor unitário, incluindo uma área de eróticos, de forma a criar um espaço onde a experiência de compra é tão ou mais importante do que a compra em si.

Na linha de lojas mais do que inspiradas, o grupo também opera a Jaju, genérico da Muji japonesa, com propostas muito similares em todos os aspectos.

Outro negócio importante do grupo Shinsegae na área de desenvolvimento imobiliário são os shoppings Starfield, onde todos os conceitos do grupo estão presentes junto com marcas globais dos diversos setores, porém organizados em termos de espaços físicos agregando a oferta das diversas categorias. Assim toda a oferta de criança e bebê está concentrada numa determinada área do shopping, assim como moda, alimentação, entretenimento, coisas para casa, artigos esportivos, etc.

Na conclusão desta pequena série sobre o mercado, o varejo e o consumo da Coreia do Sul ficam os insights gerados pelo país, em seus múltiplos aspectos e a inspiração criada pelo desenvolvimento local de alternativas para concorrer com os conglomerados globais, antes que esses cresçam no país, além daquela proporcionada por um país de apenas pouco mais de cem milhões de habitantes que se transformou na 12ª economia do mundo com adoção de um modelo muito particular de colaboração governo-setor empresarial.

Vale a pena estudar, conhecer e visitar.

NOTA: este é o último artigo sobre o mercado e o varejo da Coreia, dentro da série “O Varejo do Mundo e o Mundo do Varejo”. Em 2020, o Grupo GS& Gouvêa de Souza desenvolverá um programa Insights 360° na Coreia, integrado com visita à Dubai, por conta da Feira Mundial Dubai 2020.

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