Forças muito potentes estão surgindo no mundo – tecnologia, acesso a informações. Essas forças estão capacitando equipes cada vez menores a fazer o que antes era possível somente por meio de grandes corporações ou governos.
Com isso, o número de inovações aumentou e continuará aumentando em ritmo absurdamente rápido. E com isso aparecem inúmeros desafios de gestão, de modelos de negócio e de treinamento de pessoas.
Ficam as perguntas: Como você vai se organizar para competir nesse mundo novo? Como você vai preparar sua empresa e expandir nesse cenário?
Vivemos numa era onde tudo é exponencial. Não podemos mais considerar o contexto minimamente previsível em que a maioria estava acostumada a viver e no qual geria as empresas. Tudo muda o tempo todo. A linearidade de que o ser humano gosta tanto acabou e não se vê no horizonte que voltará a ser protagonista.
Vivemos o mundo das organizações exponenciais. O mundo das organizações exponenciais é um lugar onde nem a idade, nem o tamanho, nem a reputação, nem mesmo as vendas atuais, garantem que você está vivo amanhã. A organização precisa ser veloz, inteligente, escalável, adaptável.
Mas o que é uma organização exponencial?
Grandes mentes de Harvard, como Salim Ismail, Michael Malone e Yuri Van Gueest, estudaram durante anos o comportamento de empresas americanas e perceberam que umas cresciam e se consolidavam em velocidades muito maiores que suas concorrentes diretas. E, assim, criaram um framework que mostrou algumas características em comum entre elas.
Essas características de destaque podem se manifestar por meio de linhas de comunicação, protocolos de tomada de decisão, infraestrutura de informação, gerenciamento, filosofia e cultura.
Organizações lineares são em sua grande maioria orientadas a resultados financeiros, pensamento lineares, intolerância ao risco, inflexibilidade de processos e grande número de colaboradores. O planejamento estratégico geralmente é uma extrapolação do passado.
Essas organizações raramente serão disruptivas, pois elas não têm as ferramentas, a atitude ou a perspectiva para isso. As estruturas matriciais são presentes nesse modelo de organização, e com o tempo o poder se acumula nas estruturas horizontais (RH, jurídico, Finanças, TI) e se conflita com produto, marketing e vendas.
Porém existe algo não menos importante e que fala muito sobre a cultura organizacional. Toda organização exponencial, por definição, pensa grande.
Uma empresa que pensa pequeno jamais buscará estratégias de rápido crescimento. Mesmo que isso aconteça, a escala dos seus negócios vai superar rapidamente seu modelo de negócios e deixará a empresa perdida e sem rumo.
Crescer rápido e se tornar uma organização exponencial dói. A maioria dos empresários não está preparada para suportar as dores do crescimento. Não está preparada para ressignificar constantemente seu negócio até que se torne o melhor do mercado.
Existe uma fase da empresa, conhecida como crescimento disfarçado ou fase da desilusão, em que, aos olhos do mercado, parece que ela não apresenta taxas de crescimento. Não aparece nas redes, não causa impacto, não vira notícia. Nessa fase, a empresa está investindo em CRM, em construção de processos, em estabelecer metodologias ágeis de formação de time. Investe em capacitação de pessoal para que, quando atingir o ponto de inflexão, o “joelho da curva”, seu crescimento seja pelo menos 10 vezes maior do que o de seus pares.
Dizemos sempre que quem sai na frente e assume uma posição de liderança rapidamente adota simultaneamente uma estratégia de ataque, mas também de defesa. Ataca o mercado com força, determinação e foco, mas também se defende de possíveis concorrentes, que estará com as energias voltadas a combater seu crescimento, muito mais do que a pensar no próprio negócio.
Eu ainda sinto que o varejo nacional, embora correto em combater as desigualdades de competição com plataformas estrangeiras, está caindo inconscientemente nessa armadilha. A armadilha de colocar a energia em atacar a concorrência, muito mais do que pensar em como ter essa mentalidade exponencial.
Alguns movimentos começaram a surgir essa semana vindo de alguns protagonistas do mercado, que estão anunciando investimentos e cadeias de suprimentos por meio do cross border, entre outras iniciativas.
A pergunta que fica é: seria esse um movimento um olhar interno para buscar alternativas e ser mais disruptivo que a concorrência, ou apenas uma reação aos movimentos da concorrência como forma de pressão política?
O presente e futuro próximos nos dirão. Vamos atentamente acompanhar.
Fabio Aloi é sócio-diretor da ONE Friedman.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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