A pandemia de covid-19 atrasou os planos de milhares de brasileiros de subir ao altar. Com o retorno das festas, o mercado de casamentos vive uma retomada, impulsionada pela demanda reprimida na pandemia e pelos novos casais que decidiram “dizer sim”.
Levantamento da plataforma Casar.com estima que, este ano, o setor deve faturar cerca de R$ 40 bilhões. Se confirmado, o desempenho será bem superior aos R$ 3,5 bilhões registrados em 2021, quando ainda havia restrições à realização de eventos e parte dos casamentos já tinha sido paga em anos anteriores. Segundo a empresa, entre março de 2020 e setembro de 2021, estima-se que o setor tenha deixado movimentar cerca de R$ 24 bilhões com cancelamentos e adiamentos de cerimônias.
De acordo com a presidente da Casar.com, Camila Piccini, o resultado expressivo deste ano deve ser puxado pelos eventos que tinham sido adiados. “As pessoas ficaram muito tempo sem poder se reunir e agora elas querem celebrar essas uniões”, avalia.
Conforme a Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta), anualmente são realizados aproximadamente 1,1 mil casamentos no País. Em 2022, o número deve crescer 45%, chegando a 1,6 mil cerimônias.
Mas quem decidiu se casar este ano foi surpreendido com o reajuste dos contratos, já que, como apontam entidades do setor, a inflação média dos serviços matrimoniais foi de 30%, em comparação ao valor praticado pré-pandemia. Mesmo com a alta nos preços, empresários ouvidos pelo Estadão relatam que, até o momento, não é possível repassar integralmente os custos para os consumidores, em especial nos casos de contratos feitos nos anos anteriores.
Realocação de despesas
Com os eventos pesando mais no bolso, os casais acabam elegendo algumas prioridades. Sócio do espaço paulistano Casa Petra, de uma empresa de decoração e de uma agência de viagens especializada em casamentos, Luciano Martins diz que os seus clientes acabaram realocando as despesas das festas.
Ele conta que, atualmente, quem casa prefere reduzir a lista de convidados para manter a qualidade do serviço e da comida e da bebida disponíveis no evento. “As pessoas estão revendo os seus valores, elas querem celebrar melhor, mesmo que seja ao lado de menos pessoas”, afirma o empresário.
Além das mudanças nas celebrações, Martins observa que, por causa do período de isolamento social, os noivos têm dado preferência a investir mais em viagens do que na própria cerimônia.
Foi com uma festa menor que os noivos João Venâncio e Vinicius Galhardo decidiram continuar com os planos de festejar sua união. Eles planejavam a festa desde 2020 e a ideia era convidar 150 pessoas e gastar cerca de R$ 50 mil.
Dois anos depois, o casal teve de renegociar alguns contratos e enxugar a lista para cem convidados – mesmo assim, o custo total da cerimônia subiu 45%, para R$ 80 mil. “A decoração foi o que mais encareceu. Nós tivemos de fazer ajustes para manter itens como as bebidas melhores e os doces finos, por exemplo”, relata Venâncio.
Agenda cheia e falta de pessoal
O retorno com força total das festas criou uma disputa pela agenda das empresas especializadas em casamentos. A maioria delas agora só tem agenda disponível para novas celebrações para o ano que vem.
Diante dessa realidade, quem faz questão de trocar os votos de matrimônio o quanto antes vai precisar escolher entre datas menos tradicionais e concorridas. Além de sexta-feira e sábado, outras opções de dias da semana vão ganhando protagonismo.
“Antes era muito raro alguém querer se casar em uma terça-feira, por exemplo. Mas agora nós temos quase o dobro de festas em uma mesma semana”, conta a presidente da Casar.com, Camila Piccini.
Na chácara de eventos Santa Victória, cresceu a busca por eventos na manhã de sábado e noite do domingo. “Nós fazemos muitos ‘mini-wedding’, que são as festas de até 50 pessoas, nestes dias”, afirma a gerente da empresa, Bárbara Bortolini.
Mão de obra
Para dar conta desse número maior de celebrações, os empresários têm de buscar reforço no time. Segundo a Casar.com, a defasagem de mão de obra no setor gira em torno de 40%, nas mais diversas atividades.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta), Ricardo Dias, o principal desafio do setor nesta fase de reaquecimento é encontrar profissionais qualificados. “Nossos freelancers acabaram deixando o ‘bico’ de garçom para ser entregadores de aplicativo. Para resolver isso, a solução que encontramos foi profissionalizar novas pessoas para atender a essa demanda crescente”, relata.
Com informações de Estadão Conteúdo (Wesley Gonsalves)
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