Ter acesso a toda a cadeia de produção de um produto, desde as matérias-primas até a loja, passando pelo transporte. Esta, em breve, será a realidade do varejo. Tudo graças à tecnologia blockchain. Este foi o tema do painel “Blockchain: A próxima revolução no varejo”, com a participação de Fernando Mattoso, VP de Tecnologia e Negócios Digitais da Natura; Carlos Rischioto, Blockchain Technical Leader da IBM; Joaquim Sousa, diretor comercial do Carrefour e a mediação de Caio Camargo, sócio-diretor da GS&UP.
Caio explicou que hoje a maioria das informações é armazenada em bancos de dados, guardados em algum lugar. O blockchain deixa os dados descentralizados, dividindo-os. “Estamos falando de segurança, origem dos produtos, confiança nos produtos, transações financeiras. Tudo com mais segurança e confiabilidade”, contou o executivo.
Ele disse que o investimento na tecnologia acontece devido às inúmeras fraudes que acontecem com produtos. “Nós queremos confiar naquilo que estamos consumindo. Esta demanda vem dos consumidores e não é de agora”, afirmou Caio. O especialista alertou que o uso do blockchain é para agora e não algo apenas para o futuro. “A gente discute o blockchain hoje da mesma forma que nos anos 1990 nós discutíamos a internet e o que íamos fazer com ela”, destacou.
Vários segmentos devem se beneficiar desta tecnologia, como luxo, farmácia, moda, alimentação e tecnologia. A Louis Vuitton criou um grupo de tecnologia para convidar as marcas a participar, a fim de certificar que um produto é legítimo. “Você vai ter um ID Digital que vai permitir o acesso às informações das marcas”, disse Caio.
O dinheiro vai mudar, o uso da moeda física vai cair e as carteiras virtuais devem dominar. A Libra do Facebook é um exemplo. “Ela assustou o mercado, poderia ser a moeda mais forte do mundo e muitos pediram a regulamentação”, afirmou o executivo da GS&Up. Além disso, o cartão de credito deve migrar para as carteiras digitais e o cartão físico deve cair. Outra mudança será nos marketplaces, que deverão ter menos intermediários nos pagamentos, tornando as transações mais diretas.
“Blockchain não é sobre tecnologia, é sobre as relações que as marcas têm com seus consumidores”, resumiu Caio.
Fernando trouxe exemplos de uso do blockchain pela Natura. A empresa valoriza os conhecimentos de populações indígenas e tradicionais da floresta. Para isso, existe uma preocupação de manter a natureza preservada, incentivando o extrativismo em comunidades locais. Mas é difícil comprovar isto para o consumidor. “Queremos que as nossas consultoras mostrem para a consumidora o impacto daquele bioextrato”, disse o executivo da Natura.
Ele explicou que a empresa tem todas as famílias e produtos mapeados, coletados e armazenados em dados. “É feito o registro inicial no blockchain”. Os pacotes com os produtos e as cooperativas que os armazenam também são rastreados e inseridos no blockchain. Na fábrica da Natura e no centro de distribuição este mapeamento continua, já que o produto pode ir para uma consultora, uma loja ou diretamente para a consumidora. É preciso rastrear todos os itens da cadeia de produção, não apenas as matérias primas, mas a embalagem, o transporte, etc.
Joaquim disse que a tecnologia faz parte do projeto do Carrefour para incentivar a alimentação saudável, chamado Act for Food. Ele ressaltou que as pessoas terão cada vez mais pressa para ter acesso a estas informações de origem dos produtos. A empresa deseja ampliar a utilização do blockchain para vários produtos. “A rastreabilidade é um avanço pra a cadeia produtiva de alimentos. Traz celeridade e, principalmente, confiança para a cadeia”, afirmou o executivo.
Mas, antes da inserção do blockchain, a rede já trabalhava com garantias de origens, por meio de certificações, como o selo que garante que o Carrefour só comercializa carne sustentável, que não vem de áreas desmatadas. O blockchain deverá trazer uma informação mais segura, transparente para o consumidor e a mudança deve se acelerar graças a essa exigência crescente.
A primeira linha do Carrefour a receber a tecnologia foi a de suínos. Isso aconteceu “porque trabalhávamos um produto confiável. A maior barreira para o consumidor era saber a origem deste produto, ter certeza de que é de qualidade”, contou Joaquim. Os produtos da linha tem toda a cadeia rastreada, inclusive a ração dos animais, transporte e vacinas.
Carlos trouxe exemplos para mostrar a importância da tecnologia. Um deles é a utilização do blockchain pela própria IBM em seu banco de empréstimos IGF, para resolver problemas de disputas entre fornecedores e empresas. Antes, cada processo de disputa levava 44 dias para ser resolvido. Com o blockchain, o tempo foi reduzido em 75%.
Por outro lado, o executivo destacou que a tecnologia não faz milagres. “O blockchain não vai resolver todos os seus processos, substituir o seu RH, os seus processos internos, mas vai ajudar a resolver vários problemas”, destacou Carlos.
* Foto: Terassan Fotografia