Não importam quais fossem as preferências individuais, definitivamente essa não terá sido uma eleição presidencial que possamos nos orgulhar de seu encaminhamento no plano das propostas para o país que sonhamos.
A primeira eleição presidencial definida pelas redes sociais deixa aprendizados e novas realidades, além de muitas preocupações. E precipita uma discussão mais profunda e abrangente sobre poder, impacto e retorno dos investimentos em comunicação, nas mídias tradicionais versus as mídias digitais.
E sobre a relevância do resultado gerado pelo boca a boca digital expresso nas redes sociais.
Deveremos ter aceleração na migração de investimentos entre canais, com aumento ainda maior na atenção com as alternativas digitais que se sobrepuseram em importância e eficácia aos veículos tradicionais, especialmente por sua interatividade, contribuindo para resultados surpreendentes. Especialmente em áreas onde predominam consumidores-cidadãos mais afluentes. Mas não só.
Um dos indicativos mais fortes dessa realidade foi a surpreendente renovação acontecida no Congresso Nacional que, semanas antes da eleição do primeiro turno, não era considerada como provável por nenhum dos mais reputados analistas ou pesquisadores.
O fosso se ampliou
A polarização observada no segundo turno da eleição presidencial, calçada nas acusações parte a parte e centrada no periférico ideológico de uma eleição presidencial, opôs uma visão conservadora nos costumes e liberal na economia à continuidade de uma proposta populista que se desgastou com o tempo e gerou um quadro exacerbado de corrupção endêmica que envolveu os setores público e privado.
No embate das facções opuseram-se os que ansiavam por mudanças estruturais com novas ideias e propostas e aqueles que defendiam o continuísmo de uma agenda conhecida de um partido cujo discurso, apesar de apaixonado, causava arrepios para parcela crescente da sociedade.
O que não se pode negar é que, na disputa da guerra eleitoral, parafraseando, a primeira vítima é o bom senso, especialmente nesta eleição presidencial. E o resultado é um país dividido, rancoroso e polarizado.
Onde, no plano político, o tratamento inevitável será de vencidos e vencedores, aprofundando as diferenças e afastando, ainda mais, a visão do futuro da realidade do presente.
Um presente onde estamos cada vez mais distantes do mundo mais desenvolvido e civilizado. Estamos em muitos aspectos liderando a vanguarda do atraso.
E não podemos nos iludir. É exatamente isso.
Enquanto ficávamos envolvidos com a pequenez das ideias fúteis e circunstanciais, afastamo-nos dos movimentos inovadores e disruptivos que florescem em várias partes do mundo. E não nos deixemos iludir pelo muito que tem ocorrido envolvendo startups, digitalização e avanços do comércio eletrônico.
É tudo muito pouco ante a dimensão das transformações que têm acontecido na China, na Coreia do Sul, nos Estados Unidos e nos países mais desenvolvidos da Europa e da Ásia.
E a análise e a oportunidade de tocar essas realidades não deixam dúvidas sobre a ampliação do fosso.
O caminho da conciliação
O setor empresarial brasileiro, em sua mais abrangente maioria, envolveu-se de forma mais direta nas recentes eleições. Dos apoios explícitos à própria participação que determinou a ascensão de governadores e congressistas diretamente egressos do setor.
Mas o traço mais comum dos setores empresariais que não se deixaram corromper pelas oportunidades espúrias de curto prazo e foram envolvidos pela corrupção, é um compromisso de longo prazo com o país.
Com a visão estratégica da dimensão e profundidade das transformações que acontecem no mundo. E com a importância de alinharmos o país para potencializarmos a combinação virtuosa de recursos naturais, dimensão territorial e uma população miscigenada e plural que poderia ser convertida em matéria-prima de um país ainda maior economicamente, mais justo socialmente e mais relevante no cenário global.
O privilégio dessa visão mais abrangente no tempo e no espaço é o atributo mais importante para a conscientização e um chamamento aos setores empresariais para que, combinados, assumam o protagonismo num processo de distensão e construção da real ponte para o futuro.
Aquela que pode reunir os melhores talentos entre todas as ideologias e facções para combinar, de forma virtuosa e competente, visões, propostas e contribuições para criar o futuro que as próximas gerações anseiam e merecem.
É preciso desprendimento, grandeza e visão de longo prazo, combinados com o necessário compromisso maior com o país, características natas dos empresários brasileiros, para esse próximo e decisivo passo.
O setor empresarial pode ser o articulador, avalista e promotor da necessária e inadiável conciliação nacional para o salto que é vital para o país.
Não vamos nos “apequenar” e voltar nossos olhos apenas para a realidade setorial ou de nossos negócios. Nunca foi tão importante o setor empresarial do Brasil assumir o papel que a História lhe reservou.
É o momento de promover a necessária conciliação pelo bem do país, da sociedade, de nossos setores empresariais, de nossos negócios e, principalmente, de nossos descendentes.
Nota:
Na próxima semana retornamos a análise com mais detalhes da transformação do mercado chinês a partir de nosso projeto Ignition 360, que envolveu visitas de estudos, relacionamento e negócios às cidades de Beijing, Shangai, Shenzen, Hanghzou e Hong Kong neste mês de outubro – em abril de 2019 iremos promover outra viagem dentro do mesmo projeto para as mesmas cidades.
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