Em resposta a uma geração de consumidores saturados de “coisas”, algumas marcas estão aproveitando o crescente desejo dos millennials por empresas mais sustentáveis para mudar alguns conceitos tradicionalmente ancorados no varejo
Projeto Gaveta
Criado por Giovanna Nader e Raquel Lino, o Projeto Gaveta é uma dessas iniciativas, que começou em 2013 como um evento de troca de roupas entre amigas. Mas, no lugar de um bazar informal, as sócias criaram um espaço de troca profissional: as peças passavam por uma seleção e só ganhava posto na arara aquelas que, além de boas condições, tivessem potencial de troca. O evento deu certo, cresceu e já está na sexta edição, com edições realizadas em São Paulo e Rio de Janeiro.
Clothing swap
A ideia inicial do Projeto Gaveta era difundir por aqui o conceito do clothing swap, prática comum em países da Europa, além dos EUA e Austrália. Nos encontros, além da troca de roupas há exposições, workshops, palestras e oficinas, que estimulam a descoberta do estilo próprio e o consumo consciente.
“Ao entender nosso estilo, passamos a consumir menos e, consequentemente, adotamos um guarda-roupa prático e funcional”, explica Giovanna.
Os workshops dão um panorama do mercado de moda sustentável e orientam o participante a consumir menos e melhor, além de desapegar daquilo que não usa mais. Recebe ainda dicas de como deixar o armário mais compacto e técnicas de customização.
“Ao aplicar o desapego como forma de investigação do processo, provocamos uma mudança de consciência e de comportamento em relação à moda e ao consumo”, completa Raquel.
Experiência Corporativa
A primeira experiência corporativa do Projeto Gaveta foi realizada com funcionários da empresa Johnson & Johnson, que resultou numa conexão diferenciada entre os funcionários, proporcionando uma nova consciência de consumo que não segue só tendência, como também faz com que o ser humano aprenda a viver melhor com menos.
“Foi gratificante ver a felicidade no rosto dos funcionários participado da ação, não só por terem roupas novas sem gastar nada, mas pelo experimento da troca em si”, aponta Giovanna.
Como funciona a troca de roupas?
Os participantes devem tirar do armário tudo que não usam mais e levar ao local indicado pela organização do evento, que promove uma curadoria de moda para definir quais peças serão selecionadas para o encontro – a intenção é garantir que tudo seja atual, bem conservado e com apelo fashion. Cada peça selecionada se transforma em Moeda Gaveta, que será usada para a troca. O valor é correspondente ao tipo de peça (uma camiseta vale uma moeda; uma calça vale duas, etc.).
Gaveta na Rua
As peças que não passam pela curadoria ganham outro destino útil: uma loja montada ao ar livre com intuito de fazer os próprios moradores de rua e pessoas necessitadas escolherem as peças que querem receber como doação. A iniciativa devolve a essas pessoas o direito de escolha, reforça a autoestima e resgata o estilo de cada um, como pode ser visto no vídeo abaixo.
LOJA AO AR LIVRE DEVOLVE O DIREITO DE ESCOLHA AO MORADOR DE RUA
Consciência Global
Tais iniciativas estão sintonizadas com as novas gerações de consumidores: os millennials e a Geração Z. Segundo pesquisa global, 66% dos millennials afirmam que estão dispostos a pagar mais por ofertas sustentáveis de empresas comprometidas com impacto social e ambiental positivo (Nielsen, 2016). Enquanto isso, para 94% da Geração Z na China é essencial que as marcas sejam sustentáveis e ambientalmente conscientes (RTG Consulting Group, 2016).
Assinatura de roupas de bebê
Outro exemplo de iniciativa que aposta no consumo consciente é a Vigga, uma marca dinamarquesa que oferece uma assinatura circular de roupas para crianças de 0 a 2 anos. Funciona assim: o usuário se inscreve durante a gravidez para receber uma mala com um guarda-roupa inicial para o recém-nascido. As peças são de algodão orgânico e unisex. A mala é enviada uma semana antes do nascimento da criança e, após a fase inicial, quando o bebê começou a crescer, esses itens são trocados pelo próximo tamanho. As peças usadas são lavadas a seco e enviadas a um próximo bebê. O serviço custa cerca de 50 dólares por mês, por um período mínimo de 3 meses de assinatura e máximo de 27 meses.
CONHEÇA VIGGA: E SE AS ROUPAS CRESCESSEM COM O SEU BEBÊ?
Escala de desperdício global
Tal iniciativa é apenas um pequeno passo no combate ao enorme desperdício global de vestuário. Mais de 12 milhões de toneladas de roupas usadas terminam em aterros sanitários ou incineradores todos os anos nos Estados Unidos (Smart, 2016), enquanto a Grã-Bretanha prevê ver 235 milhões de itens de roupas para o aterro sanitário em 2017 (Oxfam & Sainsbury, 2017). Estender a vida da roupa por apenas três meses pode reduzir as pegadas de carbono, água e resíduos em até 10% (Wrap, 2016).
Outro estudo também mostra o crescente desejo do consumidor em alugar ou invés de comprar roupas próprias (Westfield, 2016): 20% das pessoas no Reino Unido estão interessadas em alugar de sua loja favorita – uma cifra que eleva mais de 33% em Londres.
Com informações Stylus.com