No três primeiros anos desta década, no período de 2011 a 2013, o Investimento Direto Externo Líquido (IED) no Brasil, uma importante medida da confiança que o país desperta no mercado internacional, foi de US$ 196 bilhões com um crescimento de quase 50% quando comparado com toda a década de 90.
Nessa década, o total do IED foi de US$ 131 bilhões, muito inferior ao observado na década seguinte que chegou a US$ 255,3 bilhões, baseando-se nos dados da Unctad – a organização Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento que acompanha e divulga dados sobre o fluxo de investimento externo direto em diversos países.
Apesar do Brasil ter ocupado a 5a posição no ranking do IED, em 2013, com US$ 64 bilhões, houve uma queda de 2% em relação a 2012, quando havia alcançado US $ 65,3 bilhões.
Pelos dados recém divulgados de 2013, a América Latina como um todo teve um aumento consolidado de 6% apesar de uma queda de 6% na América do Sul, fortemente influenciada pela queda no Brasil.
A análise dessas informações reforça a percepção de quanto o Brasil se beneficiou durante a década passada das dificuldades vividas pelas economias mais maduras e desenvolvidas, com os problemas financeiros advindos da crise norte-americana, que redirecionou o fluxo de investimentos diretos para economia emergentes, fazendo com que, no período 2001-2010, o IED do Brasil tivesse um crescimento de perto de 95 %, associado ao fato de que o próprio desenvolvimento brasileiro, em especial pela expansão do consumo, atraiu o interesse econômico global.
Mas também é importante considerar que em 2013 tivemos uma inversão desse processo com a primeira queda depois de três anos seguidos de crescimento constante sinalizando dois aspectos: o primeiro que a recuperação econômica mundial, em especial nos Estados Unidos e Europa, que começa a redirecionar o fluxo de investimentos e, em segundo lugar, o baixo crescimento econômico brasileiro também começa a afastar o interesse por novos e maiores investimentos na região.
Não se pode negar a mudança do humor no mercado global com o Brasil retratada de uma forma exponenciada nas capas da revista The Economist em 2009 e 2013, na primeira alardeando a decolagem do país e na outra sinalizando o descontrole que estaria vivendo a economia, que de alguma forma refletem a visão externa e a confiança gerada pelo país na captação de interesse e investimentos.
E nada parece indicar que teremos em 2014 uma mudança significativa nesse indicador. Ao contrário. As revisões sucessivas feitas pelo Banco Central e os agentes econômicos sobre o comportamento do PIB neste e, por contaminação direta, no próximo ano deverão reforçar o sentimento de que o cenário próximo futuro sinaliza preocupações e, consequentemente, redução do Investimento Externo Direto no país.
Mais um ponto para suscitar reflexões em quem tem a responsabilidade de pensar o futuro.
Por Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.