Companhias tradicionais implementam modelo de trabalho de startups

A revolução digital mudou a forma de trabalhar das empresas da ‘velha’ economia. Gigantes como Whirlpool, Unilever, Natura e Vivo, por exemplo, tentam copiar o modelo rápido e flexível das startups.

A antiga rotina – na qual um projeto levava meses e até anos para ser concluído e, quando terminava, muitas vezes já estava ultrapassado – começa ser substituída por métodos mais ágeis, na velocidade da economia digital.

A quantidade de empresas que começou a quebrar os muros que separam os seus departamentos para obter resultados mais rápidos é crescente nos últimos dois anos. Elas passaram a organizar os trabalhos em pequenos grupos de funcionários, misturando diferentes áreas.

“Substituindo estruturas rígidas, hierárquicas e com pouco questionamento da base ao topo, as empresas que pensam na frente trabalham com grupos que funcionam como pequenas startups, conectadas entre si pela liderança, cultura e objetivos combinados entre si. Juntos, esses grupos ganham um objetivo a cumprir e uma autonomia para tomar decisões”, explicou Fabiana Mendes, sócia-diretora da GS&Friedman.

É como se cada squad fosse uma mini empresa, mais ágil e autônoma.

O formato virou referência no mundo da administração por causa dos ganhos de produtividade alcançados que, a depender do caso, podem ser quatro vezes maiores, se comparados ao de uma empresa tradicional. O segredo para o funcionamento dos squads é montar grupos multidisciplinares.

Nos grupos, como há redução de uma série de entraves burocráticos, ganha-se tempo e produtividade. Além disso, os resultados são entregues a conta-gotas. A cada 15 dias, por exemplo, uma nova funcionalidade do site é colocada no mercado, no caso de projetos digitais, onde essa forma de trabalho já é mais familiar. Isso permite que o projeto seja testado e, se necessário, modificado, enquanto é feito.

Fabiana acredita que uma das grandes vantagens dos squads é a descentralização. “Dentro das vantagens do modelo, está a agilidade nesta tomada de decisões, a proximidade entre os membros e a integração, observando todos os pontos de vista dos envolvidos. O modelo preza a descentralização, transparência e constante evolução. O objetivo é que o grupo se auto-organize para propor soluções  multidisciplinares para os problemas. Todas as pessoas podem e devem dar suas opiniões e contribuições. Não há a presença de um líder ou gestor mas sim de um product owner  que é quem define as prioridades a respeito do projeto que está sendo desenvolvido”, explicou.

O jeito de trabalhar das startups vem ganhando a adesão de empresas dos mais variados setores. Um exemplo é a Whirlpool, fabricante de eletrodomésticos, que começou a utilizar o novo modelo em fevereiro.

Hoje, a companhia tem 50 funcionários agrupados em cinco grupos. Até dezembro, quer dobrar esse número. “Não acho que a companhia inteira vá trabalhar dessa forma”, disse Renato Firmiano, diretor de marketing digital da Whirlpool. Como uma grande indústria, baseada nas formas tradicionais de linha de montagem, a empresa decidiu usar squads nas áreas ligadas ao atendimento ao consumidor.

E alcançou resultados: em menos de quatro meses, dois grupos voltados ao tema inteligência artificial puseram em prática projetos de um assistente virtual que atende aos clientes em várias demandas e também vende produtos.

Já a Natura, tradicional fabricante de cosméticos, começou antes. Em 2012, iniciou um projeto-piloto, focado no canal online para as suas consultoras. O modelo ganhou velocidade no último ano, de acordo com Luciano Abrantes, diretor de Inovação Digital. Hoje, são 52 squads operando, e a empresa quer chegar a 100 até dezembro.

O grande salto ocorreu em 2018, quando a companhia passou a usar essa forma de trabalho para desenvolver os cosméticos. “É algo arrojado, que acelera bastante o ritmo de lançamentos, ao se comparar com o modelo tradicional.” O diretor também pondera que não há intenção de transformar toda a companhia em squads, só nas áreas onde faz sentido. Na Unilever, gigante de alimentos e itens de higiene e limpeza, o quadro é semelhante. A empresa começou a usar squads faz três anos.

“Na época, tínhamos a preocupação de trazer a agilidade das startups para uma empresa que neste ano completa 90 anos no país”, contou Carolina Mazziero, diretora de RH. Atualmente, há grupos de trabalho espalhados em áreas específicas da companhia. Na fábrica, por exemplo, há squads voltados para a redução de perdas, outros são para resolver demandas do consumidor.

Para Luiz Medici, vice-presidente de Inteligência Artificial da Vivo, o grande impulso para começar a organizar o trabalho em squads veio das empresas digitais. A Vivo viu a entrada de players digitais alcançando resultados muito rápidos e entendeu que um dos catalisadores disso era a forma de trabalho em ambientes colaborativos. “Para competir nesse mercado novo digital, precisamos nos reinventar.” A operadora começou a usar grupos de trabalho em 2018, com o laboratório digital. Agora, são mais de 100 squads em funcionamento.

Fabiana porém que é preciso tomar cuidado e não achar que o modelo faz milagres. “Estimuladas pela promessa de crescimento rápido, não são poucas as empresas mais tradicionais que abraçaram e vivem em busca de inspiração. Se por um lado isso força as empresas a se reinventarem e repensarem seus modelos de negócio, por outro, pode se criar a ilusão de que basta trabalhar como um startup para ter os mesmos resultados que uma empresa deste tipo. Entre teoria e prática, mais importante do que ter uma empresa organizada em Squads é ter claro quais são os objetivos estratégicos dos programas e iniciativas de inovação”, concluiu.

Fonte: Época Negócios
* Imagem reprodução

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