Dentro do Instituto Mulheres do Varejo, uma das nossas Conselheiras na gestão passada, Adriana Muratore, citou uma frase que utilizamos até hoje quando falamos sobre a questão da diversidade: “Se não é por conhecimento, será por constrangimento”. A citação nunca fez tanto sentido.
Com tantas informações em nossas mãos através de um clique, as pessoas estão mais atentas e querem saber: com quem quero estar! Reputação é fundamental. Para se ter uma ideia, de acordo com um estudo da Universidade de Oxford, a reputação pode representar até 80% do valor do mercado para organizações de capital aberto.
Nessa linha, tenho pedido a minha própria consciência para me dar sabedoria para reaprender diante tantas mudanças e sabe discernir coisas que aprendi e hoje não cabem mais. Digo isso, pois outro dia fui convidada para fazer uma palestra e num dos intervalos um professor, que beirava uns 70 anos, me abordou dizendo enfaticamente: “O movimento de vocês mulheres é incrível, mas vocês têm de maneirar, pois nem todas as áreas servem para vocês mulheres no varejo. Na área comercial, os meninos falam palavrões, tem banheiro sujo…esse lugar não é para vocês. Não adiantam insistir”.
Eu ainda tentei argumentar, dizendo que tinha conversado com o CEO da Pernambucanas, Sergio Borriello, no dia anterior e ele tinha me dito que as mulheres estava batendo todas as metas de vendas! Ainda emendei dizendo que a escolha tinha de ser nossa. Podemos estar onde queremos. Mesmo assim ele não se conformou. Fui tirada de lá para tirar fotos do evento, mas fiquei pensando muito na conversa. Imaginem se algum aluno, da faculdade em que ele leciona, tivesse gravado a nossa conversa e postado nas redes sociais. Pensem no estrago da reputação desse professor e da universidade.
Portanto, não há mais espaços para quem não quer reaprender. A diversidade é sim um dos pilares importantes para que as empresas sejam relevantes, tenham respeito, construam a sua reputação e colham resultados sustentáveis.
Não é fácil para o varejo colocar a operações para funcionar todos os dias, mas é preciso que os líderes estejam atentos. Ainda caminhamos a passos lentos no quesito diversidade. E não adianta comentar que o quadro é composto por muitas mulheres se elas não saem da base operacional e não conseguem chegar aos cargos de diretoria e C-levels. Tanto que vocês podem pensar agora: quantas CEOs no varejo, ou mesmo diretoras, temos nesse mundo administrado por homens? E devem ficar atentos, pois já foi comprovado que a diversidade traz mais lucro, ou seja, quem teima em continuar pensando da mesma forma, está perdendo dinheiro.
Do outro lado, tenho ainda ouvido de profissionais de RH e headhunters que há vagas na diretoria para mulheres, mas dizem que nós é que não queremos estar lá. E eu costumo dizer que temos uma coisa diferente: nós engravidamos e temos “obrigação”, de criar um cidadão saudável para a sociedade. Trabalhamos para sociedade de forma voluntária, não é mesmo? E por que temos de sofrer preconceito no mundo corporativo quando engravidamos? Temos uma rede de apoio para nos suportar? Como então podemos mudar nosso mindset?
Vamos quebrar paradigmas e fazer mudanças para termos resultados impressionantes. Continuo citando o Super das Frutas, em Santa Catarina, em que o supermercado é operado 100% por mulheres que ainda chama muita atenção pelo engajamento das colaboradoras e dos elogios dos clientes que por lá passam.
O impacto social, promovido pelo supermercado, tem revertido em mulheres chefes de família que conseguem manter suas casas, consumir mais e desenvolver todo um ecossistema econômico. Dê seu primeiro passo, mesmo com pequenas ações. Mas não fique para trás, pois como comecei o artigo, sua empresa se movimentará pelo conhecimento ou pelo constrangimento?
Sandra Takata é presidente do Instituto Mulheres do Varejo.
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