Para quem é do varejo um novo momento com variáveis impactantes num novo ano, com um novo governo com velhas propostas, uma realidade interna impactada pelo caso Americanas e um cenário internacional ainda mais complexo.
Vale lembrar o poema de Carlos Drummond de Andrade E agora José? A festa acabou. A luz apagou. O povo sumiu. A noite esfriou…
No cenário internacional, a perspectiva do mais do mesmo, com economias debilitadas e impactadas ainda pela inflação, menores do que no passado recente, mas altas para seus padrões históricos. E sempre solenemente ignorada nos reportes de vendas do varejo.
Como nos EUA, que antecipa vendas no varejo em dezembro de 2022, de US$ 588,80 bilhões, com crescimento nominal de 5,17% sobre o ano anterior. Mas, se considerada a inflação de 6,5%, significaria um resultado negativo.
Essa é uma situação similar à da maioria dos países europeus com patamares de inflação em torno de 6%. No caso da China, a inflação de 2022 é estimada em 2% para um crescimento econômico de apenas 3%, menor do que no Brasil.
Um dos únicos países com elevada representatividade e relevante crescimento econômico é a Índia, que deve crescer em torno de 6,5% em 2022, com uma inflação de 5,72%. Mas é exceção no debilitado cenário global.
Todos esses aspectos e muito mais, envolvendo a reconfiguração do varejo nas suas estratégias, práticas e inovações, foram vistos e discutidos durante a NRF Show 2023 na semana passada em Nova York.
Na realidade local, o cenário sinaliza um período de ajustes econômicos com impactos de curto e médio prazos no varejo, que será parcialmente compensado pelos programas de auxílio aos segmentos de menor poder aquisitivo, com redesenho da geografia do potencial de consumo.
Esses elementos devem gerar fortes preocupações pela lógica do empoderamento do Estado, o que pressupõe aumento das receitas tributárias para equilibrar elevação de custos e a não continuidade dos programas de concessões e privatizações.
Como resultado, ainda que negado, a pretendida reforma tributária deverá, na prática, significar aumento de impostos, em especial para os setores de serviços, incluindo o comércio e o varejo.
A visão de um Estado maior, mais empregador e mais provedor e indutor do crescimento econômico é velha conhecida e todos já conhecemos seu significado na prática: o setor privado terá que bancar essa proposta através do aumento da já elevada e carga tributária. Talvez alguma simplificação de processo possa ser a compensação.
Em outra frente, o setor de varejo como um todo acaba recebendo os respingos do drama das Lojas Americanas, agora em recuperação judicial, numa ainda mal explicada e inusitada situação que teria criado um rombo superior a R$ 40 bilhões.
O potencial impacto no varejo de forma ampla acabou restrito, mas muito tempo, recurso e atenção foram e serão necessários nas mais diversas empresas do setor e seus fornecedores, bancos e empresas de seguro para mostrar diferenças que afastem qualquer risco sistêmico.
É, enfim, um período turbulento e que, como outros tantos, vai passar, mas marcará o início e talvez de um ano dos mais agitados e imprevisíveis.
E são nesses momentos que é preciso maturidade, visão estratégica e equilíbrio, para não se deixar contaminar pelos sobressaltos do curto e médio prazos, e continuar com os olhos no futuro. Sem tirar a barriga do balcão.
Nota: No próximo dia 31 de janeiro, teremos o Pós-NRF Retail Trends, evento que trará uma visão integrada com tudo de mais importante ocorreu na NRF 2023, nas visitas e programas paralelos, na análise de especialistas do Ecossistema Gouvêa e de convidados especiais, comparando e discutindo o seu impacto na realidade brasileira.
A participação poderá ser presencial, virtual individual ou nos spots, locais para onde o evento será transmitido em tempo real, que poderão discutir os impactos diretos para aquela comunidade.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
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