Depois de ser abastecida com as principais novidades e tendências do varejo mundial na NRF Retail’s Big Show, em Nova York, nos Estados Unidos, a Gouvêa Experience compartilhou os principais aprendizados no Retail Trends, o evento pós-NRF realizado nesta quarta-feira, 31, no Teatro Bradesco, em São Paulo. A conferência, marcada pela presença de mais de mil executivos, foi transmitido online para uma audiência de cerca de 2 mil inscritos. Subiram ao palco mais de 20 palestrantes e foram compartilhadas uma média de 8 horas de conteúdo.
Se os números evidenciam a importância do evento para o setor no Brasil, os temas apresentados – Inteligência Artificial, smart consumer, experiência nas lojas, gestão de pessoas, tendências de consumo e sustentabilidade no varejo – corroboram o interesse dos empresários e empreendedores brasileiros em absorver tendências e perspectivas que podem ser aplicadas ao negócio.
Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da Gouvêa Ecosystem, abriu oficialmente a manhã do evento com a palestra “O futuro para além do presente no varejo”.
Em seguida, dois painéis apresentaram uma análise macroeconômica sobre a realidade mundial e a influência desse cenário no varejo nacional. Marcos Troyjo, membro do Conselho do Fórum Global e do Fórum Econômico Mundial e ex-presidente dos Brics, comentou sobre os desafios de países emergentes, como o Brasil, e as oportunidades que o País tem de sair à frente dos demais quando o assunto é desenvolvimento tecnológico e sua aplicação no setor varejista.
O senador Efraim Filho acrescentou sua perspectiva especialmente em relação às questões tributárias e ao crossborder, isto é, a venda de produtos de outros países em território nacional.
Dando continuidade à abordagem econômica, mas já com foco no varejo, Karen Cavalcanti, sócia-diretora da Mosaiclab, revisitou um termo recorrente durante a NRF 2024, o “permacrisis”, um neologismo para “crise permanente”. O conceito busca sintetizar o estado vivenciado pelo consumidor atual, sujeito a demandas polarizadas nos âmbitos político, social e cultural, pressões inflacionárias e às sequelas da pós-pandemia.
“É como se o consumidor sentisse que sempre há algum problema que afetará seu consumo e as decisões durante o dia a dia”, explicou Karen. Segundo ela, as perspectivas para este ano são positivas para o mercado norte-americano, o que deve se refletir também no Brasil.
Disrupção competitiva
Para consumidores tão exigentes, em cenários bastante desafiadores, o varejista precisa conhecer as dinâmicas que movimentaram o setor e os conceitos que já redefiniram os modelos de negócio.
No bloco “Disrupção competitiva”, Eduardo Yamashita, diretor de Operações da Gouvêa Ecosystem, subiu ao palco do Retail Trends para explicar o conceito de multipolarização 4.0. Em sua apresentação, Yamashita exibiu uma estrela de quatro pontas, composta pelos quatro vértices essenciais de uma operação de sucesso no varejo atual. São eles: valor, experiência do consumidor, solução e conveniência.
“Uma coisa que a gente tem observado, e que ficou muito forte na NRF deste ano, é que para uma empresa de varejo e consumo jogar, ser minimamente relevante e ganhar um espaço dentro do seu segmento, ela precisa ser referência em um desses pontos. Precisa se posicionar frente ao consumidor”, afirmou Yamashita. “Porém, aquelas que estão ganhando o jogo, que estão transformando o ambiente de consumo e do varejo, estão empenhadas em mais de um deles ao mesmo tempo”, complementou.
Provocações como essas levam a reflexões importantes, como a de se perguntar se é chegado o momento de reposicionar a sua marca. E, para isso, é preciso olhar estrategicamente para o negócio em seu contexto interno e externo. Muitas companhias perdem o timing da mudança, aprisionadas a um conceito de consumo e venda já superados. A Swarovski, uma das maiores redes de joias de luxo do mundo, passou sete anos em crise até renovar a marca e se reposicionar em seu segmento. “E foi eleita uma das marcas mais influentes na NRF deste ano”, disse Lyana Bittencourt, CEO do Grupo Bittencourt, que abordou o tema.
A executiva apresentou oito passos para uma jornada de sucesso e perenização das companhias: analisar o mercado e a concorrência, compreender qual é a percepção da marca, definir objetivos claros, desenvolver uma proposta de valor, avaliar reposicionamento x rebranding (rejuvenescimento da marca), treinar e envolver os colaboradores, monitorar e fazer ajustes contínuos e executar o sucesso.
Inovação guiada pela IA
Regiane Relva Romano, diretora de Inovação da VIP-Systems, tomou a palavra para “colocar tecnologia em tudo isso aí”, como brincou com o público e com os palestrantes anteriores. Ela listou diversas inovações apresentadas na NRF com uso de Inteligência Artificial, mas, no fim, uma das contribuições mais significativas de sua palestra foi a volta ao básico: “o cliente sempre em primeiro lugar”.
“Se realmente quisermos que o negócio dê certo, temos que focar em pessoas. O varejo é vida, interatividade, gamificação e pessoas. A Inteligência Artificial é apenas um meio. O foco deve ser gente”, disse.
Nativa digital, a Petlove fez bem a sua lição de casa. A empresa adotou a Inteligência Artificial generativa para engajar clientes e gerar fidelidade à marca. A implementação de novas tecnologias para bots de atendimento, os quais respondem a dúvidas sobre plano de saúde no WhatsApp ou sugerem opções de reabastecimento de produtos, resultou na melhora de 20% a 30% da retenção de clientes.
“Muitas vezes, o cliente tem dificuldade de entender a frequência de compra que garanta que seu pet esteja sempre alimentado. Com base nas informações do perfil do animal e da ração escolhida pelo cliente, conseguimos recomendar uma frequência ideal”, explicou Bruno Curtarelli, head de Data Science da Petlove.
Rodrigo Faro
O ator e apresentador Rodrigo Faro também foi um dos palestrantes do Retail Trends. Sócio-fundador do Aceleraí, o artista mostrou como a plataforma está transformando o mercado publicitário do varejo, reunindo tecnologia de ponta, uma lista que ultrapassa 70 celebridades e a expertise do CEO Allan Barros.
O projeto, nascido para “democratizar a publicidade”, gera conteúdos para diferentes mídias, inclusive em vídeo, ajustada para o segmento e para o objetivo da campanha, em dois minutos. O empreendedor recebe o material contratado por WhatsApp.
A dupla Faro-Barros fez duas demonstrações ao vivo e encantou o público com as possibilidades de “acelerar o seu negócio” com a ferramenta desenvolvida pela plataforma.
Retail media
Aiana Freitas, editora-executiva da MERCADO&CONSUMO, dividiu o palco com Paulo Sérgio Mariano da Silva, gerente de Trade Marketing, Retail Media, Dados e Monetização do Grupo Pão de Açúcar (GPA) para falar de uma das tendências mais relevantes para o varejo em 2024: o retail media.
O assunto foi abordado na NRF 2024 e compartilhado com a audiência do Retail Trends com um case do próprio GPA com a Pepsi Black. “Crescemos três dígitos com a marca Pepsi Black durante a ação de retail media, e mais de 300% em vendas”, relatou Silva. A campanha, com ativação digital e física, teve duração de 4 meses.
Para executivos com pouco ou nenhum contato com o assunto, Aiana explicou, resumidamente, que “o retail media é uma estratégia de marketing precisa e assertiva que permite o ganho em toda cadeia de consumo, desde a indústria ao consumidor, com passagem obrigatória pelo varejo”. Ainda, segundo a jornalista, permite que as marcas insiram anúncios dentro dos pontos de venda físico, em sites ou aplicativos, utilizando, para isso, uma base de dados qualificada para campanhas hiperpersonalizadas.
Sustentabilidade
Não havia dúvidas de que a sustentabilidade seria um dos temas centrais do evento. E foi Cristina Souza, sócia-fundadora e CEO da Gouvêa Foodservice, quem abriu o tema, chamando a atenção de todos os presentes para a forma como a nova geração começa a questionar a produção da cadeia de consumo e o destino do pós-consumo diante da escassez de recursos ambientais e mudanças climáticas severas.
Apesar de a última edição da NRF não ter pautado o tema “liderança”, Cristina ressaltou a importância de cada um dos presentes como agente transformador. “Nós, líderes, é que vamos fazer as mudanças”, provocou a executiva. E de quais mudanças se trata? Suscintamente, de enfrentar todos os desafios que se tornar sustentável exige de um varejista.
Ela disse que, depois de Inteligência Artificial, a palavra mais reproduzida na feira do varejo de Nova York foi resale, que significa revenda. Mais que uma palavra, a compra de objetos usados, possibilidades de renovação customizada de vestuário ou de móveis, aluguel de itens diversos, influenciarão, cada vez mais, o modelos de negócio.
Na mesma trilha, Cecília Rapassi, sócia-diretora da Gouvêa Fashion Business, abriu a sua palestra “O que realmente está moda?” mostrando as influências desse mercado e como a moda está conectada com as tendências da rua, isto é, orgânicas, com a arte e a cultura, que influenciam hábitos de compra, a exemplo da “febre” gerada no pré-lançamento do filme da Barbie, e com as aspirações ensejadas pelo mercado de luxo, hedonista e que promove sensação de escassez para acelerar decisões de compra.
No entanto, esse conjunto de tendências, agora, está inserido em um contexto em que a sustentabilidade passa a ser o pilar de relevância na cadeia de consumo. Cecília destaca que o segmento têxtil é o segundo maior consumidor de água no mundo atrás apenas da agricultura e um dos mais poluentes.
Para que o varejo de moda continue relevante e para aqueles que desejam contribuir com um negócio ambientalmente correto e bem aceito nas práticas de ESG é urgente repensar a questão e adotar medidas práticas. Como afirmou a executiva, o consumidor não é tolo e percebe a diferença entre postura e greenwashing (ações de marketing que não se traduzem em ações efetivas).
“O que realmente está na moda é a sustentabilidade”, esclareceu Cecília.
Para encerrar o bloco de negócios sustentáveis, o evento contou com a apresentação da B4, uma plataforma digital que se autodefine como “uma bolsa de ação climática real: transparente, imutável, inclusiva e com rastreabilidade em tempo real”.
Odair Rodrigues, CEO e fundador da companhia, e Xênia Filippett, diretora de Sustentabilidade, apresentaram a solução que desenvolveram para as empresas interessadas em reduzir a sua pegada de carbono e aderir ao movimento global para frear o aquecimento do planeta.
Rodrigues destacou que a B4 simplificou o processo para pessoas e empresas. O ClimAI, lançado neste ano, é a ferramenta com uso de Inteligência Artificial capaz de calcular a emissão de carbono de uma empresa e gerar um relatório de impacto, gratuitamente, em até 24 horas.
A plataforma lista créditos de carbono e promove desde segurança de dados com uso de blockchain a soluções de lucros sustentáveis.
Canais de venda múltiplos e plurais
Depois de muita informação sobre o negócio do varejo, Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da Gouvêa Malls, falou sobre vendas, afinal, a vida das empresas depende dessa troca com o consumidor.
Contudo, a forma de vender também se transformou com os hábitos de consumo e o evento pandemia global de covid-19. O consumidor aprovou os formatos digitais e mesmo que os indicadores de e-commerce tenham recuado com a volta das vendas físicas, a opção compõe, hoje, um dos diversos canais de compra disponíveis para o omniconsumidor.
Marinho levou fez uma reflexão sobre a evolução desses canais. “É natural associar varejo principalmente à loja física ou, mais recentemente, ao e-commerce. No entanto, as novas tecnologias, turbinadas pela IA, permitirão, em breve, que cada consumidor tenha uma loja hiperpersonalizada na palma das mãos”, disse no painel “Custom PDX elevado à IA: a evolução dos canais de venda”.
Na perspectiva do consultor, que acompanha a NRF há 25 anos, “vai ganhar o jogo, não quem tiver as melhores lojas, ou sites. Isso será condição básica. Vai ganhar o jogo quem conseguir estabelecer relações mais profundas e personalizadas com os clientes”, sentenciou.
Realidade brasileira
A M&C é parceira da Gouvêa Experience no Retail Trends e realiza uma cobertura especial do evento pós-NRF.
“O Retail Trends proporcionou não apenas uma análise abrangente do que de mais relevante foi observado durante a NRF 2024 e a imersão em Nova York, mas também destacou o que é verdadeiramente aplicável para os negócios brasileiros no setor de varejo e consumo”, disse Ana Paula Rocha, diretora-executiva da Gouvêa Experience.
“O Retail Trends não se limitou a analisar as tendências da NRF. Foi além, ao ampliar visões sobre o cenário brasileiro, trazer cases nacionais e apresentar soluções que respondem às novas dores do varejo. Nesse sentido, ofereceu em um único dia, um guia completo para quem trabalha com consumo”, resumiu Marinho sobre o evento.
Imagem: Divulgação