O Nubank está investindo US$ 150 milhões (o equivalente a R$ 795 milhões pelo câmbio de hoje) para testar produtos de crédito no México, seu segundo maior mercado, depois do Brasil. Os valores estão sendo aplicados nos chamados “testes fundamentais”, forma como a fintech chama os primeiros passos que dá com um determinado produto antes de atingir velocidade de cruzeiro. O montante equivale a cerca de 20% do portfólio da instituição no país, mercado em que o banco digital vem tentando acelerar sua expansão.
Em dezembro passado, 5,2 milhões dos 94 milhões de clientes do Nubank estavam no México. O país é considerado pelo mercado a principal alavanca do crescimento da fintech nos próximos anos, em especial após o lançamento da conta digital, vista como um acelerador importante da fidelidade dos clientes.
Em um videocast, foi o mediador da conversa, o diretor sênior de relações com investidores e inteligência de mercado do Nubank, Jorg Friedemann, que trouxe o número de US$ 150 milhões, ressaltando os gastos com pesquisa e desenvolvimento de produtos do banco digital no México.
Na conversa, o presidente e diretor de Operações da fintech, Youssef Lahrech, afirma que a conta digital permite dizer “sim” a todos os clientes que buscam o Nubank. Antes, o neobanco só operava no México e na Colômbia com o cartão de crédito, que é concedido após análise de crédito.
Lahrech afirma que a base dos modelos de crédito utilizados no Brasil pode ser exportada aos demais mercados, sendo que a etapa final, ou seja, a análise propriamente dita dos clientes, utiliza ciência de dados e inteligência artificial, e por isso, se adapta aos diferentes contextos.
O que muda entre os mercados é a forma como os clientes usam cada produto. “Cartões de crédito no Brasil tendem a ser muito mais transacionais, enquanto no México é diferente, o rotativo tende a ser mais utilizado”, afirma ele. O cartão de crédito foi o primeiro produto do Nubank nos três mercados.
A aplicação de tecnologia não substitui práticas tradicionais na indústria financeira, segundo Lahrech. Entretanto, de acordo com o chefe global de Risco de Crédito da fintech, Ravi Prakash, a união das duas coisas é o grande desafio.
“Não conheço nenhuma fintech que tenha de fato decifrado o negócio de crédito além do Nubank”, diz. E mesmo na comparação com os grandes bancos, o executivo diz que o Nubank consegue mudar de um modelo para outro mais evoluído “em questão de meses”, enquanto os bancões levam “anos” para fazer uma mudança similar.
Nos testes fundamentais, afirma, o Nubank consegue detectar os impactos de mudanças na economia, no comportamento do consumidor ou no ambiente competitivo nos riscos de crédito e vai calibrando o que emprestar. “Em nossa filosofia, a decisão de correr mais ou menos risco é quase que inteiramente pautada por dados e testes”, diz Prakash.
O banco digital chega a dar limites de crédito de apenas R$ 50,00, em um modelo de concessão chamado “low and grow”, em que vai testando a capacidade de pagamento do cliente. E para que essa estratégia tenha retornos com valores tão baixo de empréstimo, Ravi observa que a estrutura de custos precisa ser muito eficiente. Por isso, não funciona em um banco tradicional.
O banco digital, por exemplo, por não ter agências, tem estrutura de custo muito baixa. “Temos custo quase zero de aquisição do cliente”, comenta. Na fintech, 61% dos clientes usam o Nubank como seu principal banco.
O executivo afirmou, por outro lado, que conceder limites iniciais baixos não funciona junto aos clientes de alta renda. O Nubank tem como um dos focos neste ano ganhar espaço neste segmento, que faz transações com valores mais elevados e que tem risco de crédito menor. Segundo Prakash, o cliente do Ultravioleta, segmento de alta renda do banco digital, já entra no Nubank com limite mais alto.
Ontem, o Nubank anunciou que para financiar seus investimentos no México, fará um aporte de US$ 100 milhões (o equivalente a R$ 526 milhões), incluindo os recursos que usará para desenvolver produtos de crédito no país. Com a nova capitalização, o investimento total na operação mexicana, desde 2019, subiu para US$ 1,4 bilhão, o que equivale a R$ 7,4 bilhões.
Ainda em suas operações internacionais, na semana passada, o banco digital anunciou que obteve um empréstimo de US$ 150 milhões (o equivalente a R$ 755 milhões) junto ao DFC, agência de fomento dos Estados Unidos. O banco lançou recentemente uma conta digital no país, a Cuenta Nu, que segundo o comunicado tem uma fila de 400 mil interessados.
Com informações de Estadão Conteúdo (Matheus Piovesana e Altamiro Silva Junior).
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