Brasil é considerado incubadora de golpes financeiros em painel da Febraban Tech

Com perdas globais de US$ 1 tri, combate a golpe foi debatido por representantes do Google, Itaú Unibanco e Silverguard

O painel “Combatendo o aumento da fraude global” apresentou uma realidade dura sobre o País. O Brasil foi considerado uma incubadora de golpes financeiros, do tipo exportação, no segundo dia da Febraban Tech, que acontece de 25 a 27 de junho no Transamérica Expo Center, zona sul de São Paulo. A MERCADO&CONSUMO é media partner da feira e faz uma cobertura especial do evento.

“Somos avançados em golpes, somos incubadora de tendências de golpe e [as] exportamos”, afirmou Marcia Netto, da Silverguard, empresa de tecnologia responsável pelo SOS Golpe, plataforma digital que apresenta informações sobre fraudes em meios de pagamento, alertas, informações sobre autoproteção, além de protocolos sobre o que fazer em caso de ser vítima de criminosos. Segundo a executiva, crimes praticados no Brasil surgem como tendência na Índia quase dois anos depois.

As fraudes e os golpes custam aos consumidores mais de US$ 1 trilhão em perdas em todo mundo. No caso dos brasileiros, Marcia acredita que o sucesso dos golpistas esteja baseado na confiança exagerada das pessoas sem nenhum tipo de checagem ou conferência sobre quem está do outro lado.

Ao lado de Adriano Volpini, do Itaú Unibanco, e de Eugene Liderman, do Google, a executiva da Silverguard destacou que, embora existam algumas diferenças, os golpistas atuam baseados em dois cenários:

  1. Autoridade e emergência: o golpista informa ser de uma instituição financeira ou de uma central de atendimento para justificar o contato com a vítima, utilizando-se da credibilidade das empresas para facilitar a aproximação. Em seguida, informa que há um problema gravíssimo com a conta, que é preciso resolver imediatamente por causa das consequências daquele fato, e pede o pagamento imediato.
  2. Bom demais para ser verdade: o golpista entra em contato com uma oferta irrecusável ou anuncia na internet promoções hiperatraentes, que resultam em economia muito significativas, como, por exemplo, adquirir o último modelo do iPhone por R$ 2.999,99.

Em Singapura, onde a população gosta muito de doce, as tentativas de golpes se concentraram em oferecer as iguarias a preços baixíssimos.

Entre os brasileiros, os idosos são alvos mais frequentes de “golpes analógicos”, em que são solicitadas transferências de pagamento imediato. Em relação aos mais jovens, a forma para fisgar a vítima ficou mais sofisticada em razão do maior acesso à tecnologia e à conectividade. Dificilmente, uma pessoa da geração Z fará um Pix emergencial. Mas, pode ter sua vida escaneada, os seus hábitos de consumo e as suas preferências destrinchados pelos fraudadores, por meio dos rastros digitais de publicações, pesquisas e acessos online, e se deixar levar pela oferta de um objeto de desejo que aparece à venda na rede social de um amigo, com um link de pagamento. Depois da transferência, descobre que a conta do amigo foi hackeada.

Alguns golpes levam até três semanas ou mais para serem concluídos.

Para Volpini, os golpes não são todos iguais, mas mantêm a essência anteriormente mencionada por Marcia Netto: pagamento instantâneo e oferta muito vantajosa. Por essa razão, enfatiza a tomada de responsabilidade dos titulares das contas sobre os cuidados para não caírem nessas armadilhas.

Na opinião dele, o Pix, que facilitou as operações de pagamento no Brasil, também se tornou um desafio para os bancos, uma vez que, mesmo em casos de fraude, na análise de dados da instituição financeira, é mais uma transação normal, direta, entre duas pessoas: já que todo passo a passo é feito pelo próprio correntista, com os seus próprios dados.

“Todos os parâmetros são de uma transação normal”, pontuou. “Nesse momento, a semelhança entre um fraudador e um cliente é muito grande”, disse Volpini. Para ele, os clientes precisam ajudar os bancos a protegê-los, precavendo-se em situações adversas e, assim, contribuir com o aumento da segurança do seu dinheiro.

Um dos exemplos mais simples é conferir a origem das ligações emergenciais, buscando o número oficial da instituição ou call center e ligar de volta para confirmar as informações. Outro método que vem sendo utilizado é o contato de um desconhecido pelo WhatsApp. Um dia, a pessoa manda um oi. Se houver brecha para resposta, o falseador ganha a confiança e o diálogo deve terminar em algum tipo de prejuízo financeiro.

Avanço da IA e das fraudes

Na mesma medida em que a Inteligência Artificial generativa avança para o bem, não faltarão oportunistas tentando fazer um “mal proveito” das mesmas tecnologias em benefício próprio. Tomar consciência da sua própria responsabilidade com os seus dados, conferência de informações, é um movimento que o setor financeiro está iniciando e pretende ampliar.

Liderman recordou-se de uma palestra em que uma pessoa disse que a sua comunidade estava protegida de golpes porque seu idioma era pouquíssimo falado e conhecido apenas entre os nativos da língua. Hoje, no entanto, com a IA generativa, é possível criar um plano de golpe, adaptado para o idioma da vítima em qualquer parte do mundo.

Os bancos investiram muito dinheiro para implementar a biometria facial e ampliar a segurança dos correntistas. Contudo, já existe uma desconfiança de que o sistema possa ser superado pela IA generativa. Sobre esse tema, os conferencistas concordaram que a produção de imagens por Inteligência Artificial para reconhecimento facial ou simulação em vídeo de um pedido de ajuda ainda é um recurso muito aprimorado para os tempos atuais, porém, não pode ser descartada para um futuro próximo.

Como forma de aperfeiçoar os sistemas de segurança, especialmente os bancários, os palestrantes defenderam a implementação de verificações combinadas com biometria, senha, palavra-chave, entre outras.

Confiança zero

Marcia Netto defendeu a “confiança zero” como meio de os clientes dos bancos evitarem boa parte dos golpes. “Tudo deve ser analisado. Recebeu uma ligação urgente? A pessoa é que precisa provar quem ela é, os meus dados estão públicos na internet”, complementou Volpini.

O executivo contou que, no Itaú, é possível identificar o risco online. Quando o mecanismo do banco aponta probabilidade de golpe, é emitido um alerta e a compra, bloqueada. A liberação do pagamento ocorre após a ciência do titular da conta e o seu desejo de concluir aquela operação. Para Adriano Volpini, esse modelo desperta mais a consciência do cliente e o educa sobre o tipo de transação que ele pretende realizar.

Para finalizar a apresentação, Eugene Liderman informou que tanto o Google quanto a Febraban estão avaliando em conjunto os riscos das operações financeiras – fraudes e golpes – e trabalhando em parceria sobre como melhorar a oferta de serviços.

Imagem: MERCADO&CONSUMO

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