Fazendo jus às palavras de Marcos Gouvêa, CEO da Gouvêa Ecosystem e publisher da MERCADO&CONSUMO, o que acontece na Ásia não fica na Ásia. E o primeiro encontro pós-NRF Asia Pacific, realizado nesta quinta-feira, 27, em São Paulo, reforça essa máxima. O evento, promovido pela Gouvêa Experience, vertical de experiência do grupo, apresentou os principais insights da delegação que acompanhou a primeira edição da NRF – Retail’s Big Show fora dos Estados Unidos e fez visitas técnicas a empresas e varejistas em Singapura e Coreia do Sul.
Entre os palestrantes convidados para a conferência, foi unânime a comparação positiva entre a feira de Singapura e Nova York. Muito do que se considerou como o futuro da Inteligência Artificial (IA) no evento tradicional no ocidente já é realidade do outro lado do mundo, como o uso de robôs no atendimento a hóspedes. “O que vai ser novidade já era realidade no hotel em que nos hospedamos”, disse Gouvêa.
Capacidade de renovação e integração
Ao colocar o consumidor no centro dos negócios, o varejo asiático investe na criatividade e na renovação para atrair os clientes e manter a fidelização. Marcos Gouvêa relatou que uma das operações da Dior, que a delegação visitou em Seul, na capital da Coreia do Sul, muda a sua configuração a cada 20 dias.
Outro destaque da capital coreana foi a loja de 189 mil metros quadrados da Hyundai. A operação combina os conceitos de loja de departamentos com shopping center. O megaedifício possui seis pisos ocupados com 500 lojas, sendo 300 delas destinadas ao foodservice.
O executivo se recorda de ter usado a Nordstrom, uma das maiores varejistas norte-americanas, como exemplo de empresa que oferece soluções integradas entre produtos e serviços, destacando as 300 operações de foodservice no país. “A Hyundai tem 300 em uma única loja”, comparou. E boa parte dos restaurantes é renovada anualmente.
Aliás, as lojas pop-ups, cujo conceito se aproxima dos quiosques no Brasil, é um dos modelos de negócio que mais funcionam em Seul em razão dessa necessidade de renovação. Em geral, permanecem de 3 a 6 meses em um mesmo local. O formato também ajuda o varejo a avançar em inovação a ponto de que até a Ikea, especializada em móveis e decoração para o lar, aderir ao modelo.
Outro exemplo marcante na operação de supermercados em Singapura, apresentado por Gouvêa, foi o FairPrice Market, considerado benchmark sobre operações integradas. O cliente seleciona os produtos e, dentro do estabelecimento, existe uma grande área de restaurante, onde é possível pagar pelos itens, como alimentos e bebidas, e consumi-los naquele local ou, ainda, pedir para que seja preparado para ser consumido. As refeições podem ser feitas a qualquer momento do dia.
Na China, 85% da população faz refeições fora do lar e na Coreia, 69%. O percentual reflete características locais, em que as residências são muito pequenas e a intensa atividade de trabalho.
Em Myeong-Dong Zaemiro, também em Seul, uma multiplicidade de operações de alimentos se reúne a partir do final da tarde. Todo preparo é feito ao ar livre e atrai, não apenas a população local, mas também os turistas. Sobre o turismo, Gouvêa lembrou que enquanto o Brasil atraiu 6 milhões de turistas por ano na última década, Singapura recebeu14 milhões.
Tendências do varejo global
Um dos temas abordados por Marcos Gouvêa em seus artigos e que o executivo observou bem de perto na missão Ásia-Pacífico, foi a desglobalização do varejo físico, a exemplo do encerramento de operações de grandes companhias como o Carrefour na China e o Walmart no Brasil, em países latino-americanos e em partes da Europa.
Esse fenômeno global, que impacta as relações de negócio, sobretudo no varejo, cresce em consequência de duas principais vertentes ligadas ao e-commerce: metaglobalização do varejo digitial e hiperdesentermediação.
“Ocorre um avanço do que nós chamamos de metaglobalização do varejo digital, que faz com que os produtos se movimentem através do mundo sem a necessidade do ponto físico, o que nós temos visto com as plataformas”, pontou Gouvêa. Além disso, a hiperdesentermediação faz com que as marcas cheguem aos consumidores finais, no mundo inteiro, de forma muito rápida. “Isso acontece com as marcas, com os serviços, com absolutamente tudo”.
Redes sociais
As redes sociais possuem um papel de extrema relevância nos negócios da Coreia, China e Singapura. A Kakao Friends é uma rede social que transformou a sua marca em uma operação de varejo com uma linha completa de produtos e meios de pagamento. Um dos chaveiros produzidos, em formato de gatinho, é utilizado como meio de pagamento de produtos e serviços em qualquer local.
As marcas próprias, com algumas diferenças, estão em plena expansão. De acordo com Gouvêa, o investimento é uma das principais estratégias do varejo para enfrentar a concorrência direta dos fabricantes com os consumidores finais.
O destaque ficou com a marca No Brand, criada pela Emart, do Grupo Shinsegae, “que se propôs a enfrentar o varejo orientado para valor dentro de uma operação tradicional de varejo”. A Emart reuniu todos os produtos da linha em uma parte específica da loja, com preços muito baixos e grande diversidade de produtos e categorias, variando entre itens estilo Stanley à alimentação para pets.
A iniciativa foi acompanhada de um posicionamento sustentável da linha. Segundo Gouvêa, a população endossou a marca, cujos itens não têm custos de marketing. elimina intermediários e vai direto do varejista para o consumidor. As embalagens são integralmente recicladas.
Soluções para o crescimento dos negócios
Gouvêa também destacou que a integração entre produtos e serviços tem se mostrado como uma das alternativas bem-sucedidas para os negócios em um cenário competitivo e desafiador, mas alerta para a importância de mudanças significativas na forma de pensar e de agir.
Dois exemplos que ele citou em sua palestra foram as integrações entre Samsung e Starbucks – “não se sabe onde começa uma e acaba a outra”, descreveu – e da Daiso na operação do Super Center da Lotte, integrando negócios, como forma de obter ganhos do tráfego que uma gera para a outra.
Reconfiguração dos centros comerciais
Para encerrar sua fala, Marcos Gouvêa abordou a reconfiguração dos centros comerciais, como shoppings e malls, desafiados pelo comércio online.
Ele destacou, primeiramente, a migração dos serviços para esses espaços. Essas atividades ocupam cerca de 80% das unidades ante 20% do venda de produtos. Ao mesmo tempo, tornaram-se templos de experiência para atrair o consumidor. Um dos shoppings inseriu uma imensa biblioteca e um aquário. Tais propostas somam oportunidades de vivência e se tornam pontos de visita e permanência no novo conceito de shopping. Em outro local, a administração construiu um canal interno, com um bote para passeio; em outro, uma pista de bicicleta atravessa todo centro comercial.
Por fim, e não menos importante, a experiência 5.0, que integra físico e digital, para envolver, personalizar, entreter e potencializar negócios”, usa o reconhecimento facial combinado com elementos demográficos e características pessoais para recomendar produtos e personalizar ofertas.
Para se ter uma ideia desse alcance, algumas lojas d BYD, na China, mudam a decoração do espaço conforme o reconhecimento do perfil do cliente para criar uma conexão maior com o produto.
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