Deve ser impensável abrir o guarda-roupa e não encontrar um jeans entre as peças de vestuário favoritas. Versátil, aplicado a diversos formatos, composição de looks do casual ao chic, da rebeldia das ruas às passarelas, a perenidade do jeans caminha ao lado dos 170 anos da fundação da Levi’s nos Estados Unidos. Para Francisco Alves, diretor-geral da Levi’s para Brasil, Argentina e Uruguai, a chave para o sucesso e a longevidade de qualquer marca, incluindo a companhia em que atua, é ter seu propósito claro e que vá além de fornecer produtos e serviços. O executivo é um dos painelistas confirmados no Latam Retail Show, principal evento de varejo B2B da América Latina, realizado pela Gouvêa Experience, entre os dias 17 e 19 de setembro, no Expo Center Norte, em São Paulo. A Mercado&Consumo é media partner e faz cobertura especial do evento.
A empresa acredita que cada indivíduo deve ter a liberdade de se expressar da maneira que acredita. “Esse propósito norteia todas as ações da marca, desde o design dos seus produtos até o seu envolvimento em movimentos sociais. Para a Levi’s, não se trata apenas de vender roupas, mas de oferecer aos seus clientes as ferramentas para que possam expressar sua identidade e seus valores por meio do que vestem”, diz Alves. “Esse compromisso com a autenticidade e a liberdade individual é o que mantém a marca relevante e conectada ao longo de seus 170 anos de história”, complementa o diretor brasileiro.
Para ele, embora seja legítimo querer lucrar, o diferencial de uma marca que deseja durar por décadas é entender e comunicar claramente por que existe e o que quer oferecer à sociedade. “Esse propósito deve ir além de meros produtos ou serviços, deve se conectar com algo maior, que ressoe profundamente com os consumidores”, argumenta. Em sua perspectiva, esse propósito é o que fortalece a marca nos momentos difíceis e sustenta seu crescimento ao longo do tempo.
Tal propósito pode não estar claro no primeiro dia da abertura da empresa, mas deve ser construído ao longo de sua construção.
A Levi Strauss & Co, a Levi’s, nasceu para atender à necessidade dos trabalhadores das minas durante a Corrida do Ouro (1848 a 1855), nos Estados Unidos, e se tornou símbolo de liberdade, resistência e identidade, destacadamente, a partir da década de 1960, com os movimentos sociais e culturais da juventude em todo mundo à queda do muro de Berlim, no final dos anos 1980, que dividia a Alemanha em ocidental e oriental. Hoje, continua a apoiar movimentos como o Black Lives Matter ((Vidas Negras Importam) e os direitos LGBTQIA+, demonstrando seu compromisso com a diversidade e inclusão.
O engajamento não é apenas estratégia marketing e, sim, parte do DNA da marca. Foi a primeira empresa a abolir a segregação racial em suas fábricas nos Estados Unidos e a estender os mesmos benefícios a casais homoafetivos. No ponto de venda, procura reduzir as diferenças entre gêneros para o uso dos seus produtos, sugerindo modelos masculinos para biotipos femininos e vice-versa quando a recomendação fizer sentido para o cliente.
A sociedade elegeu o jeans
A história do tecido começou em 1792, na cidade francesa de Nîmes, de onde se originou o nome “denim”. A sarja de algodão marrom era um tecido resistente, utilizado por trabalhadores de serviços pesados, como o dos campos e das minas.
Em 1953, o imigrante alemão Levi Strauss, que deixou a região da Baviera (antigo Império da Prússia) para tentar a sorte nos Estados Unidos, fundou uma loja com seu nome – a Levi Strauss & Co. -, em São Francisco, na Califórnia, onde comercializava roupas, botas e outros produtos para pequenos varejistas do oeste norte-americano.
A demanda por roupas resistentes e duráveis para o trabalho pesado e mal remunerado dos trabalhadores, inspirou Strauss a criar uma peça de vestuário resistente e barata. Em 1872, associou-se ao alfaiate Jacob Davis para desenvolver uma calça para esse público, que foi reforçada com rebites de brim. No ano seguinte, Strauss e Davis receberam a patente da primeira calça jeans originalmente chamada “XX”.
O primeiro jeans comercial do mundo, batizado de 501, foi lançado em 1874 e se tornou o alicerce da marca, sendo relançado eventualmente com algumas atualizações, conta o diretor da empresa no Brasil. Ao longo das décadas, a Levi’s evoluiu nos designs, criou tendências e reforçou seu papel junto às questões relevantes para a sociedade.
A coleção global da empresa é composta por 2 mil artigos únicos. No Brasil, cada coleção é lançada com um portfólio de 700 peças únicas nas mais diversas categorias de vestuário masculino e feminino.
Hoje, está presente em 110 países com 45 mil pontos de vendas físicos. De acordo com os números da própria companhia, atingiu receita líquida de US$ 6,2 bilhões em 2023. No Brasil, são 87 lojas, com mais da metade delas – 48 no total – concentradas na Região Sudeste.
Quando olha para a história do jeans e da Levi’s, Alves não hesita em afirmar que a sociedade escolheu o jeans, não foi um desejo do fundador ou dos sucessores produzir um artigo de moda universal, entretanto, soube se posicionar. “O jeans, inicialmente uma vestimenta para operários, foi adotado pelos vaqueiros e, eventualmente, se tornou um símbolo de movimentos sociais e de expressão individual. Não fomos nós que decidimos isso, foi a sociedade que escolheu o jeans como um símbolo, e a Levi’s acompanhou essa evolução, apoiando os movimentos e se adaptando às novas demandas do mercado”, pontua.
Desafios
A Levi’s enfrenta o desafio de se conectar com a geração Z, ao mesmo tempo em que mantém sua base de clientes fiel, formada por consumidores que a acompanham há décadas, principalmente, aqueles da geração X (nascidos entre 1965 e 1982) e parte dos millenials (1982 a 1994).
A empresa também está em constante evolução para se adaptar às tendências de moda, sem perder a essência, e busca expandir sua linha de produtos para se posicionar como “marca de estilo de vida casual”, com foco crescente em sustentabilidade e inovação.
Diante do cenário desafiador, para Francisco Alves é crucial não esquecer das pessoas, não só daquelas que compram a marca como também das que fazem o negócio acontecer.
Latam Retail Show
Além de abordar a relevância da Levi’s no Latam Retail Show, o executivo pretende destacar a importância da gestão de pessoas no varejo. Para ele, apesar de todas as inovações tecnológicas e avanços no atendimento ao cliente, o fator humano continua a ser fundamental.
Segundo o diretor, a Levi’s está focada em melhorar a experiência de seus clientes não apenas por meio de tecnologias, mas, principalmente, por meio de um atendimento personalizado e humanizado.
A 9ª edição do Latam Retail Show, principal evento de varejo e consumo B2B da América Latina, contará com um espaço gratuito, a Área Expo, que deve receber cerca de 10 mil pessoas entre os dias 17 e 19 de setembro, no Expo Center Norte, em São Paulo.
O espaço conta com a parceria da Francal na organização e promoção e terá como novidade o Shop AI, um lab de loja futurista, impulsionada pela Inteligência Artificial, que irá incorporar soluções especificamente desenhadas para o mundo do varejo.
Imagens da galeria: Divulgação/Arquivo/Levi’s
Imagem principal e loja de Los Angeles: Shutterstock