John Chambers, autor do livro “Connecting the Dots”, certa vez, afirmou que “as empresas morrem porque fazem bem as mesmas coisas durante tempo demais”. Essa frase reflete uma verdade crucial para o mundo dos negócios: o sucesso no passado não garante a sobrevivência futura. No contexto do varejo, a inovação é, muitas vezes, vista como um desafio complexo e arriscado, porém, essencial para o crescimento e a adaptação às novas exigências do mercado.
Manter práticas que funcionaram por muito tempo pode ser confortável, mas também ser o caminho para a obsolescência. Empresas que não se renovam ficam para trás, especialmente em um setor que muda rapidamente, como o varejo.
Muitos estudos apontam que em torno de 80% das iniciativas de inovação falham por um motivo simples: a falta de compreensão do que realmente é inovação. A visão comum de que inovar é apenas lançar novos produtos é limitada e não reflete toda a complexidade envolvida. Inovar significa muito mais do que isso; é a capacidade de criar valor de maneiras novas e surpreendentes, seja por meio de processos mais eficientes, novos modelos de negócio ou transformações tecnológicas que melhorem a experiência do consumidor.
A inovação pode ser classificada em várias frentes, como a de produto, que se refere ao desenvolvimento de novos itens ou à melhoria de produtos já existentes. Além disso, há a inovação de processo, que foca em otimizar métodos de produção e distribuição.
Outra categoria relevante é a inovação de modelo de negócio, que envolve repensar como a empresa cria, entrega e captura valor no mercado. No varejo, por exemplo, isso pode significar a transição para o e-commerce ou a adoção de modelos híbridos que combinem o físico e o digital de maneira eficaz. A inovação organizacional, por sua vez, trata de mudanças internas que impactam a forma como a empresa opera e se relaciona com seus colaboradores e clientes.
Embora o varejo tradicional enfrente desafios significativos, ainda há muito espaço para inovação. A resistência à mudança é uma barreira comum, especialmente em empresas que seguem modelos tradicionais. Muitos varejistas hesitam em adotar novas tecnologias ou em modificar práticas que, até então, pareciam funcionar.
Além disso, a limitação de orçamento é uma preocupação constante, já que muitas empresas enxergam a inovação como um investimento de alto risco, sem garantia de retorno imediato. Contudo, esse pensamento pode ser um mito, pois inovar nem sempre requer grandes investimentos financeiros. Muitas inovações começam com pequenos ajustes incrementais, que, com o tempo, trazem resultados significativos.
A inovação incremental, aliás, é uma abordagem que muitas empresas no varejo podem adotar. Trata-se de melhorar continuamente produtos e processos, em vez de buscar mudanças radicais. Pequenos avanços podem se somar e, gradualmente, transformar uma operação de forma sustentável. Essa abordagem não só minimiza riscos, como também facilita a adaptação de clientes e colaboradores às mudanças.
No entanto, inovar é um processo que exige consistência e disciplina. Inovar não é uma escolha esporádica, mas uma necessidade em um ambiente de negócios em constante mudança. Empresas que não inovam estão fadadas a perder relevância, enquanto aquelas que integram a inovação em sua estratégia e cultura conseguem se adaptar e prosperar.
A ideia de que para inovar é preciso investir grandes quantias de dinheiro também é um mito. Embora alguns projetos de inovação possam ser caros, muitos começam com experimentações de baixo custo. É nesse contexto que surge o conceito da “verba do erro” — uma parcela do orçamento destinada a experimentação e aprendizado, que reconhece que falhas fazem parte do processo de inovação. Aprender com os erros e iterar rapidamente é parte fundamental de qualquer estratégia inovadora de sucesso.
A inovação no varejo não é sobre modismos, mas sobre uma transformação estratégica, profundamente enraizada na cultura e nos objetivos de longo prazo de uma empresa. Ou seja, inovar não é apenas uma questão de tecnologia, mas de atitude. O varejo, em particular, precisa equilibrar inovações incrementais com mudanças mais disruptivas para se manter relevante, especialmente em um cenário onde o comportamento do consumidor muda tão rapidamente.
Portanto, a inovação no varejo não é um privilégio de grandes empresas de tecnologia ou de startups. É uma necessidade e uma oportunidade para qualquer empresa que queira se manter competitiva. As barreiras existem, mas são superáveis com uma abordagem estratégica que valorize tanto o erro quanto o aprendizado, e que entenda a inovação como um processo contínuo e integrado ao dia a dia da operação.
Fernanda Dalben é diretora de Marketing da rede de Supermercados Dalben.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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