“É inegável que vivemos um período de intensas, profundas e amplas transformações devido à disseminação da IA (Inteligência Artificial) em todos os aspectos, das quais nos daremos conta em termos reais somente daqui a alguns anos, quando pudermos olhar para trás e comparar realidades.
Neste momento, vivemos a intensidade, volatilidade e profundidade das mudanças, e é complexo conciliar os desafios do presente com o redesenho do futuro. Não é a primeira vez que isso acontece; lembremos o boom da internet.
Nem sempre os líderes podem escolher o momento e o ambiente para exercer sua liderança. O habitual é liderar no ambiente que as circunstâncias determinam.
Conflitos políticos e disputas econômicas polarizam o mundo e realidades locais e reconfiguram o presente e o futuro por meio da massificação do acesso à Inteligência Artificial Generativa. Esse é o elemento diferencial fundamental no presente.
Para muito além do empoderamento do omniconsumidor-cidadão vivemos o primeiro ciclo (IA 1.1) de um processo que vai redesenhar a realidade impactando a política, a sociedade, os negócios, as relações pessoais, profissionais e empresariais e impor novas dimensões em quase tudo que nos envolvemos. E sobre tudo isso não pairam dúvidas.“
De forma geral, temos nos debruçado para discutir, analisar e agir sobre as transformações e possibilidades de melhorar o desempenho operacional, a experiência, a produtividade e os resultados dos negócios, processos e recursos pela crescente disseminação da Inteligência Artificial como ferramenta para que tudo isso aconteça, sem esquecer os temas mais existenciais e éticos que envolvem o acesso e a liberdade individual.
Os exemplos, as possibilidades e os resultados se espalham e reconfiguram quase tudo o que conhecemos, desde as inúmeras perspectivas de melhorias de desempenho e resultados ao redesenho do cenário num futuro que é cada vez mais próximo.
Mas existe uma outra e mais desafiadora dimensão, que envolve o repensar da transformação em termos mais amplos e profundos, para além do existencial, dos acessos e da liberdade, especificamente falando no ambiente empresarial e dos negócios, o que gera inevitáveis questões a serem equacionadas
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- Como as organizações poderão ser reconfiguradas para incorporar todos os benefícios gerados pela IA?
- Como o empoderamento do ominiconsumidor-cidadão desafiará os negócios, as marcas, as empresas, as estruturas formais e informais, e os próprios governos a se reposicionarem e, em última análise, sobreviverem com a nova realidade?
- Como o futuro será redesenhado pela transferência de ainda maior poder para os extremos das cadeias de valor de produtos, serviços e soluções?
- Como repensar modelos de negócios, organizações, estruturas, valores, cultura e modelos de gestão diante da perspectiva de que, tão importante quanto as respostas, serão as indagações que deverão ser feitas nesses novos cenários?
- Como nos repensarmos como líderes relevantes e transformadores quando tudo conspira para tornar volátil tudo que se sabia e conhecíamos até então?
- Como liderar negócios, iniciativas, entidades e atividades nesse novo emergente cenário?
- Como se manter relevante e protagonista como organização num ambiente em que o poder e protagonismo estarão muitomais dispersos e disseminados?
- Como liderar a criação do futuro num cenário tão desafiador, instável, volátil e cada vez mais inexoravelmente global em realidades digitais?
De forma definitiva, não existem respostas objetivas e seguras para essas questões (experimentem perguntar no ChatGPT e suas alternativas), mas vamos ter que evoluir nessa perspectiva. E, talvez, uma das poucas certezas é que novas dimensões de integração, colaboração e articulação serão elementos fundamentais para conviver com esse futuro reconfigurado.
Nos modelos de organização, destaca-se a expansão dos Ecossistemas de Negócios. Entre organizações, as metafusões, como o acordo entre Magalu e Alibaba.
Nas alternativas estratégicas de expansão, estão os grupos voluntários, as alianças ou centrais de negócios, as franquias e as parcerias estratégicas em todas as suas versões.
O fato é que no presente, além de cuidarmos dos muitos desafios que a realidade atual desenha, será preciso uma imersão para buscar também respostas estratégicas para as emergentes possibilidades e desafios gerados pela perspectiva DIA (Depois da IA).
Vale a reflexão. E, de preferência, não só. Mas muito mais coletiva e integrada. Essa já é uma lição.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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