As perdas no varejo são um fenômeno comum e não são exclusividades do segmento. Diversos setores têm essas estatísticas em seus registros e podemos até arriscar que é um fato natural dos negócios. Entretanto, quando os danos apresentam cifras exorbitantes e ameaçadoras, é hora de rever as estratégias e investir em melhorias para reverter o quadro.
Segundo levantamento feito pela Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe) junto à KPMG, as perdas no varejo brasileiro registram R$ 4 milhões por hora ao longo do ano. Somente em 2023, a cifra atingiu R$ 35 bilhões, seguido de R$ 31,7 bilhões em 2022. Os motivos para esses números alarmantes estão relacionados a danos financeiros, perdas de produtos e operação, entre outros.
Aquela máxima de que estoque é prejuízo se encaixa perfeitamente como um dos fatores contribuintes para tamanhas perdas. Mas não podemos jogar a responsabilidade apenas nele (estoque). Desde a pandemia, o mundo se transformou. Todos nós tivemos que voltar para a escola e aprender a lidar com o “novo mundo” repleto de incertezas, insegurança e uma economia mundial dilacerada. Resultado disso é um pós-pandemia ainda em processo de reestruturação.
As relações comerciais sofreram mudanças e foi necessário adaptar-se a esse cenário. Durante a pandemia, cresceram exponencialmente as operações de e-commerce, impactando assim os negócios físicos, como a redução do número de colaboradores, falhas nas operações, furtos e uma gestão nada preparada para o quadro da época.
Os pilares de uma boa gestão consistem em identificar os problemas de forma rápida e eficaz, definir metas e objetivos, ter previsibilidade e informações claras visando a redução de prejuízos.
A solução é mapear o cenário e identificar em quais etapas estão acontecendo esses prejuízos. Sabemos que isso demanda tempo e investimento, mas é fundamental para traçar um plano de negócios de reestruturação. Ainda de acordo com a Abrappe, esses danos correspondem a dois grupos. São eles: as quebras operacionais que incluem perdas financeiras, administrativas e produtividade, e as chamadas perdas invisíveis, que competem aos erros de estoque, furtos não identificados e até mesmo registros de valores errados. Otimizar essa cadeia é fundamental.
Percentual de perdas por segmento
- Lojas de conveniência: 3,86%
- Mercado de vizinhança: 3,31%
- Supermercado: 2,50%
- Perfumarias: 2,33%
- Hipermercado: 2,03%
- Moda: 1,87%
- Construção/lar: 1,41%
- Magazine regional: 1,36%
- Magazine nacional: 1,30%
- Atacado/atacarejos: 1,25%
- Artigos esportivos: 0,96%
- Calçados: 0,90%
- Drogarias: 0,90%
- Eletromóveis/informática: 0,17%
A proposta para reverter esse cenário negativo é investir em diversas melhorias direcionadas à prevenção, como, por exemplo, treinamento, segurança, políticas objetivas, mapeamento e gestão de estoque. Engajar equipes também é essencial para conscientizar e melhorar o entendimento entre os envolvidos nos processos. Só assim será possível focar os esforços para aumentar a margem de lucro e se tornar competitivo no segmento. Com a Inteligência Artificial, é possível realizar um diagnóstico mais preciso para gerenciar essas demandas e evitar futuros prejuízos.
Roberto Mateus Ordine é presidente da Associação Comercial de São Paulo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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