Seis em cada dez brasilieiros querem que o governo faça uma regulação das empresas de aposta online, as chamadas bets. É o que mostra a pesquisa Radar Febraban, desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) com apoio da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF) e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Segundo a pesquisa, 85% da população não confia nas bets e 59% são contrárias a esse tipo de jogo (59%). Ainda de acordo com o estudo, 60% defendem limites para as apostas e são contrários ao uso do Bolsa Família nessa modalidade.
“Temos nesse estudo um material aprofundado para que governo e sociedade reflitam e debatam o tema, de modo a se planejar e implementar estratégias de prevenção e limitação, dentro de uma política de regulamentação que combata o vício”, diz Marcelo Garcia, especialista em Gestão de Políticas Sociais e Consultor da CNF. “Esta pesquisa abre uma enorme lanterna sobre um problema que pode ser diminuído. É um ponto de partida fundamental para a discussão e o enfrentamento do problema, antes que haja um impacto ainda maior no endividamento e na desagregação das famílias.”
A pesquisa foi realizada nos dias 15 a 23 de outubro com 2 mil entrevistados em todas as regiões do País. No total, 40% deles declaram que, atualmente, jogam ou têm alguém na casa que joga em apostas esportivas online ou bets. Há ainda 21% que afirmam terem deixado de jogar.
Do total da população que admite apostar, 45% admitem que tiveram sua qualidade de vida ou da sua família afetada. O valor separado para as apostas teve impacto em outros compromissos financeiros para 41% dos entrevistados, na compra de comida para 37% e para o pagamento de contas para 36%. Além disso, 24% dos apostadores dizem fazê-lo todos os dias e 52% jogam entre uma e seis vezes por semana.
A relação dos brasileiros com as bets
Confira, a seguir, os principais insights da pesquisa que mostra a relação dos brasileiros com as bets.
- Mais da metade dos entrevistados (57%) faz uma avaliação negativa dos sites de apostas no Brasil, considerando-os “ruins ou péssimos”. Menos de um quinto (17%) considera os sites “ótimos e bons”. Nos extremos da avaliação (escala 0 a 10), 42% deram nota zero para os sites e 4% deram nota 10. O apostador, em grande maioria, joga com receio e desconfiança.
- Para 83% dos ouvidos, as bets são inseguras ou muito inseguras “com riscos que podem fugir do controle e gerar prejuízos” (45%) e “com consequências graves na vida das pessoas e suas famílias” (38%).
- 59% são contra os jogos online. Entre os entrevistados, 66% não jogam e 53% dizem que ninguém em sua casa joga.
- O futebol domina com 60% as apostas. Depois desse item, os outros meios de apostas são diluídos.
- 40% dizem que familiares ou pessoas próximas fizeram dívidas por conta das apostas; destes, 45% tiveram sua qualidade de vida ou da família afetada em função dessas dívidas.
- Entre os que jogam, 24% dizem que o fazem todos os dias; 18% dizem que fazem uma vez por semana; 21% jogam de 2 a 3 vezes por semana; e 12% entre 4 e 6 vezes por semana.
- O gasto mensal entre 52% dos que jogam varia de R$ 30 a R$ 500; 14% dizem que gastam até R$ 30 por mês.
- Para os que apostam, 56% admitem que o valor aplicado faz falta no orçamento mensal e 53% temem perder dinheiro e se endividar.
- O ganho com as apostas é bastante limitado. A pesquisa aponta que 52% admitem que perdem mais do que ganham (44%) ou perdem todas as vezes (8%). Apenas 30% dizem que ganha mais do que perdem (24%) ou ganham sempre (6%).
- O Pix é a forma de pagamento das apostas: 79% jogam via Pix, 24% usam cartão de crédito; 18% recorrem ao cartão de débito; e 17% fazem transferência bancária (questão de múltiplas respostas). Modelar e regular o uso do Pix nas apostas é um desafio que não pode interferir nas liberdades individuais do cidadão.
- A grande parte realmente acredita que as apostas possibilitam um ganho financeiro rápido (40%) ou são motivados pela chance de ganhar muito investindo pouco (11%).
- Para 69% dos ouvidos, os jogos online causam dependência ou vício em apostas; 61% causam endividamento e perdas financeiras; e 42% causam problemas de saúde mental, como estresse, ansiedade e depressão.
- A população quer informação, limites e, em certa medida, cuidados gerais com a saúde mental de quem aposta. A esse respeito 66% dos entrevistados se posicionam a favor da proibição da propaganda de bets no Brasil, assim como acontece com a propaganda de cigarro.
- O brasileiro não quer a legalização de jogos como cassinos, bingos e jogos do bicho (apenas 33% são a favor).
- Metade avalia que endividamento com os jogos online são um problema público e que afeta o País e 47% avaliam que a dependência nas apostas online são um problema de saúde pública.
- Sobre a possível regulação do governo para citadas combater o vício dos jogos, 35% avaliam que deveria coibir fraudes e lavagem de dinheiro, 28% avaliam que deveria limitar ou disciplinar a publicidade das empresas de apostas, 26% deveriam proibir o uso do cartão de crédito pelos apostadores e 26% dizem que deveria proteger a saúde mental e física do apostador.
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