A Macy’s fechou 11 lojas nos estados da Califórnia, Indiana, Florida e outros mercados, no começo deste ano, e vai fechar mais 19 quando vencerem os contratos.
O grupo Ascena Retail que opera redes de moda feminina como Ann Taylor, Loft e outras fechou 250 lojas nos últimos meses.
A RadioShack, no passado um dos ícones do varejo de eletrônicos norte-americano, está fechando 1000, exatamente isso, mil lojas, e continuará operando apenas 70 unidades. Sabe-se lá por quanto tempo.
Michael Kors, pelos péssimos resultados de vendas, está fechando mais de 100 lojas, assim como a Guess fechou mais de 60 lojas no ano passado e a Gymboree, 350 unidades e entrou em Chapter 11, a concordata nos Estados Unidos.
Da mesma forma, a Sears fechou no ano passado mais 20 lojas e Payless outras 408.
A Toys R Us fechou todas as suas unidades.
De fato, o varejo norte-americano nunca fechou tantas lojas, nem mesmo durante a crise de 2007-2008.
A Crocs fechou perto de 160 lojas e a Abercrombie & Fitch outras 60 filiais.
Tudo isso para falar só no varejo norte-americano, mas poderíamos usar muitos mais exemplos na Inglaterra, França e Itália.
Até mesmo o grupo Inditex, dono da Zara da Espanha tem fechado lojas, tanto quanto a HM ou a C&A na Europa.
No Brasil, por diversas razões, mas, mais especificamente, por conta da recessão de 2014-2016, estima-se tenham sido fechadas 200 mil lojas. De meados de 2017 em diante, recomeçou a expansão de lojas que, dificilmente, nos próximos anos, irá repor a mesma quantidade de lojas fechadas.
O cenário é razoavelmente claro em sua mensagem. Algo de estrutural está acontecendo no universo do varejo do mundo.
É a combinação, virtuosa ou perniciosa, dependendo do ponto de vista, de uma série de fatores que contribui para que a maior rede de lojas do mundo hoje seja a “Retail Space Available”, ou suas licenciadas no Brasil, a “Passo o Ponto” ou a “Aluga-se”.
Nos Estados Unidos, na Europa ou no Brasil, o conjunto de elementos que precipita essa transformação estrutural está baseado na expansão das alternativas digitais que, em parte, pode ser medido pelo crescimento da participação das vendas via ecommerce no varejo total de cada país, mas também, e principalmente, na redução do tráfego de consumidores nas lojas, causa e consequencia desse processo.
Nos mercados mais maduros, não é a participação do ecommerce nas vendas do varejo que impressiona.
Os 10,5% dos Estados Unidos, os 15% da Inglaterra, os 18% da Coréia do Sul ou os 24% da China, comparados ainda com os tímidos 4% no Brasil, sempre dependendo muito da fonte da informação.
O que impressiona é a diferença entre o índice de crescimento das vendas via e-commerce em relação ao crescimento das vendas por outros canais em cada mercado. No mínimo, o dobro em relação ao varejo tradicional em cada país.
O que mais impressiona é a redução do tráfego nas lojas como resultado da combinação do aumento das vendas via ecommerce com o pragmatismo dos omniconsumidores que pesquisam anteriormente produtos, marcas, ofertas, resenhas e promoções e, quando vão às lojas, o fazem de forma muito mais objetiva e direcionada, reduzindo o que no passado se chamou de “window shopping”, ou seja, ver vitrines para se informar e poder decidir melhor.
Atualmente tudo isso é feito, antes, pela internet e, principalmente, tendo como maior referência, o que outros omniconsumidores expressam como resultado de sua própria experiência.
Como resultado, o tráfego de consumidores nas lojas dos Estados Unidos caiu perto de 50% nos últimos anos.
E o quadro é similar em todos os países maduros do mundo, sendo apenas diferente nos mercados emergentes, onde a atração do “shopping”, privilégio recém-incorporporado a esses mercados, ainda é motivo de atração e interesse.
A perspectiva futura
Olhando o cenário à frente, é razoavelmente claro o processo de redução do tráfego de consumidores nas lojas e nos shoppings, como resultado de um maior envolvimento com os canais digitais.
E com forte potencial de aceleração, à medida que a Realidade Virtual seja incorporada como novo canal de vendas, experimentação e relacionamento.
Neste primeiro momento, o uso da Realidade Virtual pelo varejo é ainda bastante limitado pela infra estrutura necessária para criar vivências e sensações diferenciadas em ambientes físicos preparados para tal.
À medida que avance o acesso à maior velocidade de banda de forma disseminada nos mercados, especialmente para os consumidores mais afluentes, os elementos físicos, sensoriais, visuais, virtuais e auditivos que serão incorporados poderão reduzir ainda mais a propensão ao deslocamento físico para visitar lojas e malls.
Vamos poder comprar uma moto num espaço de 2×2 m2 no interior de um shopping em qualquer lugar do mundo, dirigindo, virtualmente, por estradas na Borgonha na França, conhecendo todo o conjunto de suas características e atributos, vivenciando curvas, barulho do motor, aceleração, vento, cheiros e movimentos como se lá estivéssemos de fato.
Assustador como perspectiva e possibilidades.
Essa tendencia é apenas equilibrada pela crescente e fundamental incorporação de outras formas de experiências, sensações, interações, vivências e relacionamento humano possíveis nas novas concepções de lojas, malls e espaços comerciais, que podem suscitar interesse pelo deslocamento físico para vivenciá-las, ante o forte apelo da conveniência e facilidade de ter tudo ao seu alcance a um clique.
Vale a pena pensar e considerar as alternativas futuras e seu impacto no presente.
Tudo está mudando rápido demais.
*Imagem reprodução