De 2006 a 2013 os shopping centers no Brasil tiveram um crescimento de faturamento de 178,2%, atingindo R$ 60,5 bilhões. Em número de unidades, a expansão foi de 41%. Existem hoje 497 shoppings no país com 12,7 milhões de m² de ABL – Área Bruta Locável, em 88 mil estabelecimentos, entre pontos de venda de serviços e produtos.
Desde o primeiro shopping inaugurado no país, em 1966, houve muitas transformações. Os centros urbanos têm cada vez menos espaço e a expansão dos shoppings têm abraçado o interior do país, principalmente as cidades com até 500 mil habitantes. E ainda tem muito espaço para desenvolvimento do setor. Confira a entrevista com Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da GS&BW, consultoria para shopping centers, e um dos maiores especialistas do setor no país.
Qual é o cenário dos shopping centers no Brasil hoje?
O cenário de shopping center no Brasil é um cenário de expansão. De 1966 a 2006, portanto 40 anos, foram inaugurados apenas 351 shoppings no Brasil. Entre 2007 e 2013, nos seis anos seguintes, esse número saltou para 497, isso é quase 50% de crescimento na quantidade de shoppings. Se a gente considerar ainda as expansões, podemos dizer que a ABL teve crescimento maior do que 50% em apenas seis anos, o que mostra que o cenário é de expansão que foi motivada, principalmente, pelo poder de consumo das famílias.
E ainda tem muito espaço para crescer?
Sim. A proporção de ABL por mil habitantes no Brasil é inferior a de grandes países como, por exemplo, México, Alemanha, França, sem comparar com os Estados Unidos que é até covardia. O que acontece é que algumas cidades estão recebendo uma quantidade de shoppings servindo a mesma área de influência e isso é ruim porque parte da população fica desatendida, assim como cria vários impedimentos por disputar o mesmo mercado, mas isso são situações isoladas. De forma geral, tem muito espaço para crescimento dos shoppings no Brasil ainda.
E onde seria este crescimento?
Pela primeira vez na história, os shoppings localizados nas capitais são tão numerosos quanto os shoppings localizados fora das capitais, isso aconteceu agora no fechamento de 2013, segundo dados da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers). Em 2014, com os novos lançamentos previstos para este ano, esta proporção vai desequilibrar e os shoppings localizados fora das capitais vão representar 52% do total contra 48% dos shoppings nas capitais. Isso é um fato importante porque mostra o fenômeno da interiorização dos shoppings no Brasil. E também estão crescendo muito regiões como Nordeste e Centro-Oeste, mas mesmo assim ainda temos uma grande concentração dos shoppings na região Sudeste.
O que mudou desde a inauguração do primeiro shopping center no Brasil, o Shopping Iguatemi, em 1966?
Primeiro mudou o consumidor, hoje tem mais consumidores com capacidade de compra em shopping centers. Quando a gente pensa na história dos shoppings, é importante lembrar que de 1966 até 1979, tínhamos apenas 7 shoppings no Brasil. Os shoppings cresceram bastante nas décadas de 80 e de 90, um período de muita crise e dificuldade de consumo, o que travou a expansão. Hoje os shoppings voltaram a crescer porque tem mais pessoas com capacidade de comprar e consumir.
Outra mudança importante é que eles deixaram de ser um centro de compras e passaram a ser um destino mais amplo, envolvendo entretenimento, serviços e a ser integrados a complexos comerciais, universidades, hotéis etc., hoje é um destino muito mais democrático e mais amplo do que no passado.
Marinho, você está sempre se atualizando internacionalmente. Qual a maior inovação vista recentemente?
Acho que a maior inovação que temos visto nos últimos meses são os projetos piloto dos shopping centers para participar deste fenômeno que é o crescimento do e-commerce.
A Westfield tem um projeto muito interessante, em conjunto com o eBay, no San Francisco Centre, na Califórnia. Três grandes vitrines digitais interativas foram instaladas em paredes do 4º piso do shopping. Eram lojas virtuais da marca de calçados TOM’s, da estilista Rebecca Minkoff e da Sony. Os consumidores podiam navegar pelo painel e fazer compras de produtos que eram entregues gratuitamente em suas residências ou retirados em um espaço no shopping, isso mostra que, de fato, os shoppings vão começar a olhar para estas possibilidades de unir as compras virtuais com o shopping center de forma mais séria a partir de agora.
Ao mesmo tempo em que o shopping pretende trabalhar em conjunto com o e-commerce, ele precisa criar alternativas como valorizar a pose instantânea, a experiência do consumidor e, principalmente, aprimorar o atendimento, mas isso é uma tarefa bastante difícil pela maneira como o varejo brasileiro encara a o atendimento, mas preocupado em fechar vendas do que com a satisfação do cliente e isso, de certa maneira, interfere na experiência do consumidor.