No período de 2006 a 2013 os shopping centers no Brasil tiveram um crescimento de faturamento de 178,2%, atingindo R$ 60,5 bilhões. Em número de unidades, a expansão foi de 41% e existem hoje 495 shoppings no país com 12,7 milhões de m² de ABL – Área Bruta Locável, em 88 mil estabelecimentos, entre pontos de venda de serviços e produtos. O crescimento do número de pontos de vendas foi de 55,6% no período.
O setor de shopping centers foi um dos que mais se beneficiou do crescimento do consumo nesse período e as projeções de abertura de novos empreendimentos nos próximos anos deverão demandar perto de dez mil novos estabelecimentos para ocupar o espaço que será oferecido.
Esses números refletem apenas os empreendimentos cobertos pelas estatísticas da ABRASCE – Associação Brasileira de Shopping Centers – e não computam uma quantidade significativa de centros comerciais planejados, que não se enquadram nos critérios da associação mas que, considerados os parâmetros usados no mercado norte-americano, fariam mais do que dobrar esses números.
Estruturalmente ocorreram profundas mudanças com o aumento da presença internacional e o crescimento no setor precipitando alterações organizacionais e empresariais que trouxeram consigo um maior amadurecimento, profissionalização, investimento e incorporação de melhores práticas em todo o setor que deve ser colocado entre aqueles em que o Brasil mais próximo está, quando não supera, o que se faz nos mercados mais desenvolvidos.
Mas o cenário futuro apresenta um amplo espectro de mudanças que criará novas oportunidades e maiores desafios para o setor.
O lançamento simultâneo de empreendimentos em uma mesma região com potencial de consumo em crescimento, mas ainda limitado no momento, fará com que esse potencial seja dividido, criando problemas para a viabilidade de alguns empreendimentos nessas regiões e colocando forte pressão nos operadores de estabelecimentos comerciais.
A forte expansão do e-commerce altera a participação dos canais de vendas de algumas categorias de produtos e serviços, tirando dos shoppings receita que anteriormente serviu de base para os estudos de viabilidade.
O empoderado Neoconsumidor, aquele que é cada vez mais global, digital e multicanal, traz novas expectativas e ansiedades com respeito às lojas e os serviços oferecidos, ampliando a pressão competitiva no mercado, em especial pela comparação de preços e serviços oferecidos, gerando também um novo e mais desafiador cenário.
Multinformado, pelo acesso ampliado aos mais diversos canais de informação, multiestimulado, pela explosão dos meios digitais e analógicos e multiequipado pelo uso cada vez maior da mobilidade, o mercado cria um novo e desafiador cenário para entreter, envolver, vender e satisfazer o consumidor. E é dos shoppings que esses consumidores esperam muito mais.
Se de um lado o aumento da presença de marcas internacionais traz novas alternativas para o mercado, de outro lado internaliza práticas globais no mercado brasileiro que deverão gerar um novo ponto de equilíbrio nas relações entre desenvolvedores e administradores de shoppings e operadores de lojas e serviços.
Para completar o quadro no qual se insere a nova realidade não se pode esquecer os movimentos sociais que têm se espalhado pelo país, fruto da insatisfação da população com o que tem sido oferecido em termos de serviços especialmente públicos em contrapartida aos impostos pagos, que é uma componente nova, também afetando o segmento.
Esse conjunto de elementos que afeta diretamente desenvolvedores e gestores de shoppings e também os operadores de varejo e serviços, criando um cenário de iguais desafios, deveria aproximar todas as partes envolvidas, pensando, planejando, investindo e administrando de uma forma mais integrada o setor, como forma de capitalizar as muitas oportunidades ainda existentes, reduzir os riscos envolvidos e buscar caminhos para que o retorno dos investimentos pudesse ocorrer de forma mais saudável e em menor tempo.
Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.