A Web Summit começou em Dublin, na Irlanda, em 2010, com 400 participantes e há três anos mudou para Lisboa – e lá deverá permanecer nos próximos dez anos. Foi uma mudança fundamental para ajudar a torná-lo o maior evento de empreendedorismo digital do mundo e reuniu perto de 70 mil pessoas de 159 países na semana passada.
Por conta de contrato recém-concluído, Portugal vai pagar 11 milhões de euros por ano para manter o evento que se tornou estratégico para o país pelo protagonismo que tem conseguido.
Aliás, todos os números são superlativos. Os 1.200 palestrantes em 24 palcos, mais de 1.800 startups, 2.600 jornalistas e bloggers, 1.500 investidores e mais de 813.500 visitas a perfis investidores e startups no app do evento.
O evento reuniu neste ano, mais uma vez, lideranças e estrelas globais em profusão e isso o torna influenciador, inspirador e muito midiático pois, todos, sem exceção, guardam para o evento algo que justifique o convite para estar nesse palco privilegiado.
Líderes políticos como o ex-primeiro ministro britânico, Tony Blair, que se posicionou totalmente contrário ao Brexit; o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterrez; a comissária europeia para a Concorrência, Margrethe Vestager; e Ana Brnabic, primeira-ministra da Sérvia.
Líderes empresariais e CEOs como Young Sohn, da Samsung, que mostrou que AI é o motor quando os dados se tornam o petróleo; Ben Van Beurden, da Shell, que fez um “mea culpa” em nome da empresa pela difusão de informações erradas sobre reservas de petróleo; Brad Smith, da Microsoft, que propôs legislação internacional sobre uso da Inteligência Artificial; Ev Williams, co-fundador e antigo CEO do Twitter e fundador da Mediu; ou Antonio Mexia da EDP, que anunciou a disposição da empresa em investir 45 milhões de euros em startups.
Visionários como Tim Berners-Lee, criador da Internet, propondo um pacto global pela melhoria da rede, ou Cristopher Wylie, ex-diretor da Cambridge Analytcs que expôs o vazamento dos dados das contas do Facebook.
Além de atrações como Sophia, the robot que adquiriu cidadania na Arábia Saudita, e que neste ano apresentou seu companheiro Han, mas passou a ter a concorrência direta de Furhat, um robot social que pode manter conversas em 40 idiomas.
Tem para todos os gostos, especialmente os conectados com temas envolvendo o Digital e as grandes transformações atuais da Economia, da Sociedade, Comportamento, Política, Negócios, Comunicação, Saúde, Diversidade, Regulamentações Sociais, Sustentabilidade, Segurança Digital, Educação, Trabalho, enfim tudo que tem tido seu comportamento acelerado, modificado e diversificado pelo avanço da tecnologia.
Afinal são 1.200 palestrantes, muitas vezes quatro reunidos num mesmo palco numa sessão de 20 minutos. Para as grandes estrelas com sessões mais longas é reservado o palco principal da Arena Altice, com capacidade para vinte mil pessoas. Não falta assunto ainda que, em muitos casos, a abordagem seja mais superficial. Conecta, sensibiliza, provoca, mas não aprofunda, pois essa é sua proposta com um conjunto de atividades tão diversificado num período relativamente curto de tempo.
O evento celebra a transformação da realidade pela evolução e disseminação da tecnologia e do digital e é fundamentalmente orientado para jovens empreendedores digitais.
Uma de suas principais atividades é a exposição, conexão e competição de startups do mundo todo, numa grande feira de ideias, propostas e pesquisas realizadas nos três dias onde jovens, e não tão jovens empreendedores, se interconectam com potenciais investidores e podem apresentar suas concepções, todas elas gravitando em torno de tecnologia.
Caórdico na sua essência
No seu modelo e organização reproduz aquilo que foi definido como caórdico, ou seja, o caos com alguma organização.
Fisicamente, o evento ocorre no Parque das Nações e são quatro pavilhões com os 24 espaços de fóruns e a grande arena central, numa área total de 5,4 km2. O tempo todo o ambiente está tomado pelo deslocamento frenético dos que não tem tempo a perder entre tantas sessões e atividades que ajudam a criar o clima de efervescência natural e inebriante, quase viciante, do evento.
Ainda que o caórdico possa ser a melhor definição para a organização geral do que lá acontece, a excelência da execução, aquela possível em algo dessas proporções, é ponto alto, com uma infraestrutura profissional digna do maior acontecimento mundial desse setor.
O evento hoje está limitado em seu crescimento pela questão do espaço físico da área que, por conta das perspectivas para os próximos anos, deverá ser ampliado e atualizado.
Se planejar muito bem para aproveitar o evento em toda sua plenitude, provavelmente você anda em torno de 12 km por dia, deslocando-se para tentar aproveitar o máximo possível dos temas que são apresentados e que podem interessar.
Tudo isso no período normal do evento que vai das 9h às 17h, porque depois tudo continua pela cidade com inúmeros encontros, festas, atividades sociais e badalações como seria de se esperar de um evento com foco em jovens empreendedores digitais vindos de todo o mundo, ávidos por ouvir e serem ouvidos.
A essência do extrato da síntese condensada ao máximo
Pretensioso e impossível seria tentar consolidar tudo que é apresentado e discutido. E a cada ano existe uma mutação genética temática, resultado natural da evolução das preocupações dominantes no ambiente digital global.
No evento deste ano alguns macro temas mereceram maior destaque e atenção. Eis uma listagem dos mesmos:
- A insegurança digital, seus riscos, impactos e ações possíveis para alterar seu processo evolutivo;
- A proposta de integração de governos, setores empresariais, corporações e organizações para promover um alinhamento auto-protetor na evolução da internet;
- O movimento pendular na Integração e Desintegração na Política Global e Regional e sua evolução próxima e futura;
- A realidade e os riscos inerentes à multiplicação das fake news e como buscar elementos inibidores de sua maior expansão;
- A promoção da Diversidade como fator de crescente importância para alinhamento de iniciativas e comportamento;
- O Propósito das Empresas e Organizações se sobrepondo em importância aos seus negócios e atividades empresariais;
- O irreversível avanço na utilização, produção e disseminação de uso da Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR) nos mais diversos campos;
- Gaming para além da diversão e entretenimento e como instrumento para uso disseminado nas mais diversas atividades empresariais e de negócios;
- A crescente disseminação do uso da Inteligência Artificial (AI) e seu impacto na sociedade, nos negócios, nas empresas e na relação das pessoas com o mundo em que vivem;
- Os avanços da tecnologia na medicina e nos tratamento em temas ligados à saúde;
- O repensar da Educação para alinhamento com as demandas emergentes de uma sociedade irreversivelmente mais digital;
- O impacto da tecnologia na visão do que é moda e o comportamento social das novas gerações na forma como se apresentam;
- Os caminhos para continuar subsidiando e investindo no desenvolvimento do empreendedorismo digital em escala global;
- Como nova comunicação multidirecional, multinterativa e em tempo real altera a própria indústria da comunicação e todas as formas de relacionamento entre marcas, empresas, negócios, instituições e pessoas;
- Criptomoedas, perspectivas e seu poder de interferir nas estruturas financeiras hoje existentes;
- O embate dos modelos de crescimento e expansão das corporações tecnológicas globais no Ocidente e na China;
- Os impactos da economia circular redesenhando a realidade, os negócios e a relação entre pessoas, organizações e governos;
- As muitas alternativas proporcionadas pela internet, pelo digital e pela tecnologia para solução de problemas que ainda não estão configurados.
Como ressaltamos é pretensioso em 18 tópicos tentar expressar o que de mais relevante aconteceu nesse período em Lisboa, mas nessa relação estão algumas pistas importantes dos assuntos que mereceram maior atenção.
Para além do evento em si, tivemos a oportunidade de estarmos com um grupo de dirigentes e executivos do Brasil, participando de visitas técnicas e reuniões com alguns dos conceitos mais relevantes do varejo e do foodservice de Lisboa e discutindo com dirigentes locais o momento e as perspectivas de mercado.
No título do artigo já reconhecíamos que, se o caos com alguma organização é um elemento com o qual devemos nos acostumar a conviver, ele pode ser profundamente inspirador e produzir importantes reflexões pessoais e sociais.
Nota: Um especial agradecimento aos participantes que estiveram conosco em nossa delegaçõa nessa jornada de conhecimento e ao time da IMR e GS&IMR de Portugal que foi fundamental que mais pudesse ser aproveitado.
- Imagem (Filipe Amorim / Global Imagens)