A melhor síntese para o momento atual no Brasil é a Crise de Confiança que o país vive em todos os setores, retratada e medida por todos os indicadores que têm sido divulgados.
Queda na confiança dos empresários do setor industrial, do setor de serviços, do setor de varejo e comércio e, recém-divulgada, dos pequenos e médios empresários, medida através do Insper que aponta o menor índice desde o primeiro trimestre de 2010.
Em todos os casos existe clara correlação desses índices com o comportamento da economia do país, sendo que a queda da confiança empresarial antecipa períodos de menor crescimento ou mesmo retração da economia.
Todos os indicadores de confiança empresarial estão diretamente atrelados à Confiança do Consumidor, medido pelo IBRE-FGV, que também tem se mostrado débil, apesar do crescimento de um ponto percentual de Junho em relação a Maio, quando passou de 102,8 para 103,8, em parte embalado pela clima reinante na fase inicial da Copa do Mundo que é, porém, o menor índice da série desde Maio de 2009, em meio aos reflexos no Brasil da crise financeira global.
O próximo indicador da Confiança do Consumidor dessa série será divulgado no dia 25-7, baseado na coleta de dados ao longo do mês de Julho e deverá retratar em parte o clima que se abateu no país na fase final da Copa e mais os elementos que avaliam a perspectiva futura, o que pressupõe um potencial de queda razoavelmente elevado.
A consequência mais direta de todo esse quadro de baixa confiança é um esfriamento da economia que deve se prolongar pelo menos até o final de Outubro, após um eventual segundo turno, apesar de que a renda das famílias ainda apresente um crescimento real, ainda que mais baixo do que no passado recente. A perspectiva, porém, da massa salarial também é de menor crescimento por conta de uma sensível acomodação do nível de emprego, em especial nos setores industrial e de serviços.
Como consequência desse quadro, o crédito que vinha sendo um dos mais importantes emuladores de consumo no passado próximo terá menor crescimento, por conta da baixa confiança do consumidor e da elevação das taxas de juros e forte pressão na análise e concessão pelos agentes financeiros privados, influenciando as vendas no varejo, em especial o de bens duráveis e semi-duráveis.
A generalizada Crise de Confiança está atrelada à falta de perspectivas percebida por todos, empresários e consumidores, e é mais do que sugestivo que as pesquisas eleitorais que mostram a possibilidade de segundo turno nas eleições presidenciais de Outubro e, adicionalmente, uma maior igualdade nas preferências nos votos para esse segundo turno, tenham como reflexo imediato uma melhoria na Bolsa de Valores.
E como com investimentos e dinheiro, ninguém brinca, objetivamente, a leitura que deve ser feita é que os mercados locais e internacionais só veem uma perspectiva diferente para o país se houver profundas mudanças no governo, na economia e na forma como é gerida a área pública brasileira.
Até que esse quadro mais amplo se defina o país “andará de lado” nesse segundo semestre, pelo menos até Outubro, retomando algum ritmo depois da Copa nas questões mais táticas mas deixando para depois o que for estrutural ou estratégico, como resultado dessa Crise de Confiança.
Por Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.