Cada vez mais, o cartão de crédito vem se consolidando como uma opção de pagamento entre os brasileiros, embora esteja entre as modalidades com os juros mais altos do mercado em caso de atraso no pagamento. Dados do Indicador de Uso do Crédito, apurados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), mostram que, em fevereiro, quase quatro em cada dez (37%) consumidores no país recorreram ao cartão de crédito para fazer algum tipo de compra, se mantendo na dianteira em relação aos outros instrumentos de crédito.
O uso da modalidade ficou bastante à frente do segundo colocado, que é o crediário (10%). O limite do cheque especial foi citado por 9% da amostra, os empréstimos por 7% e os financiamentos por 5%. Ao todo, 44% dos consumidores utilizaram, ao menos, uma dessas opções de crédito ao longo do mês de fevereiro, ante 56% que não usaram nenhuma.
Para o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior, as facilidades oferecidas pelo cartão de crédito e o aumento da sua aceitação pelos estabelecimentos comerciais são as principais razões para a liderança no ranking. “É preciso ter cuidado para evitar o endividamento excessivo que pode levar ao não pagamento da fatura, aumentando muito o valor da dívida inicial em razão dos juros cobrados pelo atraso”, alertou.
De acordo com a sondagem, embora 73% dos consumidores tenham pago o valor integral da fatura em fevereiro, 25% acabaram entrando no rotativo, cuja taxa média de juros chegou a 296% ao ano naquele mês. Com o pagamento do cartão de crédito em dia, o consumidor tem a possibilidade de parcelar compras sem pagar juros, algo que aumenta a comodidade. Mas isso está mudando. Os bancos estão criando uma nova linha de parcelamento no cartão de crédito, que permitirá dividir as compras em mais vezes, mediante o pagamento de juros.
“Essa será uma forma de fazer com que o cartão assuma o caráter mais de linha de crédito do que meio de pagamento. Nesse contexto, manter o pagamento da fatura em dia é ainda mais importante, já que em caso de atraso, além dos juros do próprio crediário, o consumidor terá de arcar com os juros do rotativo”, explicou o presidente do SPC Brasil.
O levantamento aponta também que o cartão de crédito tem sido usado cada vez mais para despesas correntes do mês. As compras de alimentos no cartão aparecem em primeiro lugar, citadas por 66% dos entrevistados. Em seguida aparecem compras de remédios (46%); roupas e calçados (36%); combustíveis (35%); idas a bares e restaurantes (29%); assinatura de serviços de streaming, como conteúdo de vídeo e áudio, e revistas (19%). Já o valor médio da fatura em fevereiro foi de R$ 897,67, com a maior parte dos consumidores mantendo o mesmo valor do mês anterior (42%).
Considerando outras modalidades de crédito, o gasto médio com crediário foi de R$ 310,66, usado para a compra de roupas e calçados (42%) em primeiro lugar. Aparecem em seguida despesas com alimentos (26%), eletrônicos (21%), eletrodomésticos (10%) e cosméticos (10%).
Embora a Selic (taxa básica de juros da economia) permaneça no menor patamar de sua série histórica, o impacto da crise nos últimos anos sobre o nível de empregos formais e a renda das famílias brasileiras ainda afeta a população. O indicador aponta que 19% dos brasileiros tiveram crédito negado em fevereiro ao tentarem parcelar uma compra. A principal razão para a recusa foi o fato de estarem com nome sujo (6%). Além disso, a maior parte (39%) dos consumidores acredita que os juros finais cobrados na ponta estiveram mais altos nos últimos três meses. Para 27%, ficaram estáveis, ao passo que somente 4% notaram alguma diminuição.
Ainda de acordo com a sondagem, 76% dos consumidores brasileiros vêm vivendo no limite do orçamento — sendo que destes, 45% se mantêm no ‘zero a zero’, ou seja, terminam o mês sem sobras de dinheiro e 32% disseram estar no vermelho. Apenas 15% disseram estar no azul.
“O mercado de crédito vem passando por mudanças importantes, que poderão impactar a oferta de crédito e as taxas de juros nos próximos meses. A chegada de fintechs para competir com os bancos, as novas regras do rotativo e do cheque especial e, mais recentemente, a aprovação do Cadastro Positivo são algumas das medidas que vão nesse sentido. Os dados do Banco Central mostram, com efeito, que as concessões de crédito estão crescendo. Há, portanto, espaço para que o uso do crédito avance entre os consumidores, mas isso dependerá da continuidade da recuperação econômica e da retomada da confiança do consumidor”, ressaltou Pellizzaro Junior.
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