Você com certeza ouviu recentemente a frase: “há shoppings demais no Brasil”. Mas será que tem mesmo? Bem, vamos aos números:
Alguns argumentam que construímos muitos shoppings nos últimos anos. E isso é real. Entre 2007 e 2013, foram inaugurados 132 novos empreendimentos no país. No entanto, essa evolução foi até modesta, se comparada com a de outros países latinoamericanos. A Taxa Composta de Crescimento (CAGR) da quantidade de shoppings no Brasil durante este período foi de 5,3%, inferior à da Argentina (5,7%), Chile (6%), Colômbia (6,2%), México (10%) e Peru (19,3%).
Considere ainda que estamos falando de um país com cerca de 200 milhões de habitantes. A relação entre Área Bruta Locável (ABL) e população no Brasil é relativamente baixa – possuímos 65 m2 de ABL para cada 1.000 habitantes, praticamente a mesma proporção que a Colômbia (64m2/1.000 hab) e menos que Peru (81m2/1.000 hab), México (104 m2/1.000 hab) e Chile (175 m2/1.000 hab). Considerando os últimos lançamentos, chegaremos a 71m2 de ABL para cada 1.000 habitantes, ainda assim um índice pequeno.
É verdade que em cidades como São Paulo esse número sobe para 168 m2 de ABL/1.000 habitantes. No Rio de Janeiro ele é ainda maior: 172 m2/1.000 habitantes. Por outro lado, os dados da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) mostram que é forte o ritmo de chegada de shopping centers em novas cidades. Em 2013, pela primeira vez na história do país, a proporção de centros comerciais localizados em capitais e fora delas foi praticamente a mesma. Em outras palavras, muitos dessas inaugurações acontecem em áreas ainda pouco atendidas.
Leve em consideração ainda que os shopping centers concentram somente 21% das vendas do varejo nacional, segundo dados do ICSC (International Council of Shopping Centers), índice bem inferior ao do México (38%), Portugal (56%), Estados Unidos (56%) e Canadá (65%). Isso significa que boa parte das vendas ainda acontece no comércio de rua, e é daí que virão muitos clientes e vendas dos novos shoppings.
É inegável que algumas cidades estão recebendo ao mesmo tempo uma quantidade de centros comerciais superior à capacidade de absorção dos consumidores. Também seria tolice fechar os olhos para o fato de que alguns projetos são simplesmente ruins, por estarem mal localizados ou terem sido mal planejados. Mas não é possível generalizar e sair por aí afirmando que “tem shopping demais no Brasil”. Afinal os números não mentem.
Por isso, na próxima vez que você ouvir alguém dizer que tem shopping demais no país, responda com convicção: “não tem não!”.
Luiz Alberto Marinho (marinho@gsbw.com.br), sócio-diretor da GS&BW.