Algumas notícias recentes sobre o cenário macroeconômico de nosso país podem nos fazer pensar de forma mais positiva sobre o ano que está para chegar.
Consumidor mais confiante, empresário idem. Queda nos juros do cheque especial e aumento da ocupação – mesmo que na informalidade – podem fazer a economia girar um pouco mais rápido do que em 2019.
No entanto, alguns desafios que o empresário enfrenta não têm origem apenas no cenário macroeconômico nacional. Eles vão muito além de nossas fronteiras.
As economias globais têm passado por turbulências que além de econômicas, são, em grande parte, políticas. Alguns líderes globais têm provocado uma sensação de instabilidade e de risco iminente de recessão, visto que provocam tensões no comércio entre os países com medidas protecionistas e discursos inflamados (muitas vezes até desastrosos) para a diplomacia mundial.
O cenário atual
Para as indústrias esse tem sido um grande desafio. Já não é de hoje que concorrer na fabricação de produtos com países como China, Índia e Vietnã faz parte do seu cotidiano. Em alguns mercados como o calçadista, temos a China como produtor de mais de 50% do que se consome no mundo desse setor. Se somarmos Índia e Vietnã, o número chega a impressionantes 72% da produção mundial de calçados.
Mais do que a indústria, recentemente, o varejo nacional também tem sentido a competição acirrada com essas mesmas indústrias asiáticas que passaram a vender diretamente ao consumidor final por meio de marketplaces e plataformas de e-commerces internacionais que, diga-se de passagem, têm sido muito eficazes no ajuste dos prazos de entrega, além de proporcionar rastreabilidade dos produtos comprados. A experiência de consumo nesses canais tem se aprimorado bastante e num ritmo muitas vezes difícil de acompanhar.
Os números
Estima-se que o e-commerce crossborder no mundo esteja com um crescimento anual de mais de 30%. E, observando de perto o comportamento do consumidor, que está cada vez mais adotando o comércio online como aliado no ganho de eficiência e conveniência, é possível perceber a grande oportunidade de se cruzar as fronteiras. Além de diluir os riscos de atuação num único mercado, o e-commerce crossborder muitas vezes representa a primeira iniciativa de muitas marcas no que podemos chamar de processo de internacionalização. Muitas redes de franquia inclusive têm testado a aceitação do produto no mercado externo por meio dessa iniciativa.
Oportunidades que geram desafios
Mas essa grande oportunidade também representa aderir a algumas batalhas. As empresas que desejam competir nesse ambiente inóspito devem se preparar para enfrentar um ambiente regulatório mais complexo e muitas vezes completamente diverso do encontrado no mercado local. Pode haver restrições à venda de produtos e exigências de agências regulatórias nos países de destino.
As flutuações cambiais e a cultura de forma e meio de pagamento também não podem ser ignoradas. Assim como no Brasil o parcelamento é quase que regra no comércio local, outros países podem ter suas particularidades que devem ser estudadas para oferecer conveniência para o consumidor de cada destino.
A logística então é um monstro a ser enfrentado. Lembrando que não é apenas a entrega do produto que precisa ser pensada, mas também a devolução. Esse ponto é um dos que pode ser considerado impeditivo para muitas marcas que desejam operar em países com pouca infraestrutura, o que certamente vai representar custos muito mais elevados.
São muitos os aspectos a serem pensados e considerados para o ingresso no comércio sem fronteiras. Quem deseja entrar no jogo do comércio mundial já deve saber que onde há um desafio também há uma oportunidade e já deve ter sentido que se não cruzar a fronteira e ir para o “lado de lá”, será alcançado rapidinho no “lado de cá”.
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