Fernando Valente Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), alerta sobre o risco, em meio à pandemia da Covid-19, de o mercado nacional enfrentar um forte e abrupto crescimento de importações provenientes da China no momento em que forem reiniciadas as atividades no Brasil. “Com o reinício da produção industrial no país asiático, simultaneamente ao período de quarentena no Brasil, pode-se abrir um flanco muito perigoso para a produção, o emprego e a retomada do nosso setor”, explica.
Pimentel salienta que enquanto a China estava parada por conta do novo coronavírus, houve mais espaço para os fabricantes nacionais, pois, metade das importações brasileiras de têxteis e de confeccionados vêm daquela nação. No início do ano, ocorreu queda na importação de confeccionados e se verificou equilíbrio no tocante aos produtos intermediários – fios, filamentos, linhas, tecidos, malhas, zíperes, botões, dentre outros.
“Agora, estamos parados aqui e eles voltam a operar lá. Por isso, permanecemos atentos, inclusive quanto aos preços praticados, dado o excesso de produtos existentes no mundo e os principais mercados consumidores paralisados ou semiparalisados em função da pandemia”.
O presidente da Abit lembra que, tradicionalmente, já é complicado competir com a China, pois os fabricantes de lá têm vantagens em relação aos brasileiros, como subsídios do governo, menos impostos, mais acesso a crédito e juros menores. Por isso, neste momento de pandemia, seria muito importante que as medidas de contingência adotadas pelo Governo Federal, que estão na direção correta, se viabilizassem mais rapidamente.
“No entanto, o que se nota, no que diz respeito ao crédito, é que não está chegando às empresas. Há forte restrição bancária, elevação dos juros e limitação dos prazos”, destaca Pimentel, acrescentando: “Na área trabalhista, a Medida Provisória 936, que criou melhores condições para a preservação do emprego foi profundamente abalada pela liminar do ministro Ricardo Lewandovisk, do Supremo Tribunal Federal (STF), que criou condicionantes à sua aplicação não condizentes com o momento de emergência em que vivemos e aumentando a insegurança jurídica para a aplicação dos mecanismos da MP”.
Situação do setor
Mais de 80% das indústrias têxteis e de confecção estão chegando ao final das férias coletivas concedidas neste período atual de quarentena. Agora, se movimentam para buscar alternativas do que fazer num cenário no qual o varejo segue fechado. Por enquanto, não há como produzir de forma sistemática e organizada, pois não tem para quem vender. Verifica-se nas pesquisas de mercado a queda de 90% das vendas, devido ao fechamento das lojas. Movimento mínimo vem se mantendo por meio do e-commerce.
Parte da indústria que fabrica produtos médico-hospitalares está funcionando a plena carga para atender ao enorme crescimento da demanda desses artigos. Multiplicou-se por 10, 15 vezes a busca por itens como máscaras, aventais, lençóis, entre outros itens. Num esforço de guerra e junto ao trabalho solidário da sociedade brasileira, parte da indústria têxtil e de confecção está se transformando para produzir e atender a essa imensa demanda do setor médico e hospitalar.
“Num momento de crise, como este que estamos vivendo, é que podemos constatar a importância vital para o Brasil em ter um parque industrial que consiga atender as necessidades da nossa população” enfatiza Pimentel.
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