A crise que o mundo enfrenta com a pandemia do coronavírus não tem precedentes, e, certamente, a prioridade é conter a disseminação do covid-19 e reduzir os danos à saúde. A FecomercioSP acompanha os desdobramentos que a pandemia tem provocado em diversos setores da sociedade, em especial o de comércio e serviços.
A Entidade entende e aceita as restrições impostas ao funcionamento do comércio e à circulação de pessoas, que devem permanecer em suas casas para evitar a contaminação, mas tem cobrado dos governos estadual e federal mais profundidade e velocidade das ações já anunciadas para a manutenção das empresas e dos empregos, bem como um plano de retomada da economia – que sofrerá consequências severas.
Para compreender melhor o cenário atual e o que esperar dos próximos meses, a Federação produziu uma estimativa exclusiva com base na retrospectiva de crises anteriores, como a que o País enfrentou em 2015 e 2016, quando o faturamento do comércio varejista sofreu 10% de retração nas vendas, o equivalente a um prejuízo de quase R$ 600 bilhões no período – atingindo diretamente o desempenho do setor e causando quedas de renda e de vagas de empregos formais.
Com três tipos de cenários que podem ocorrer durante a pandemia, as projeções levam em consideração uma redução das vendas nos meses de abril, maio e junho em relação às estimativas feitas pré-crise causada pelo coronavírus. Antes do período, a perspectiva da FecomercioSP era de que o comércio brasileiro atingisse quase R$ 2 trilhões de faturamento em 2020, registando crescimento de 2,4% em relação ao ano passado, ou R$ 5,4 bilhões de vendas diárias nos 366 dias deste ano.
No entanto, considerando os impactos da atual crise na economia, em um cenário moderado, a Federação prevê queda de ao menos 5,9% em cada um dos três meses citados e, depois, retorno gradual ao ritmo normal. Dessa maneira, haveria retração anual de vendas de aproximadamente R$ 115 bilhões, o equivalente a uma baixa de 3,6% sobre 2019, considerando as estimativas pré-crise. Para se ter uma ideia, o valor dessa baixa equivale a 21 dias de todos os estabelecimentos comerciais do País completamente fechados.
Já em uma conjuntura mais grave diante da pandemia, o varejo brasileiro pode registrar recuo mensal de 10% nas vendas de abril, maio e junho. A queda anual seria de R$126 bilhões, baixa de 4,2% em relação ao ano anterior, montante que representaria o equivalente a 23 dias de portas fechadas de todos os estabelecimentos em território nacional.
Por fim, em uma circunstância aguda, a queda poderá ser de 15% em cada um desses três meses. O recuo anual ficaria em torno de R$ 138 bilhões – retração de 4,8% em comparação a 2019. Esse impacto financeiro representa 25 dias dos estabelecimentos com faturamento zero.
Vale lembrar que tendo como referências as perdas dos anos de 2015 e 2016, que sofreram impactos profundos com o fechamento das empresas de pequeno porte e o aumento do desemprego, a previsão de prejuízo do varejo, ainda que em um cenário mais moderado, corresponde a quase 20% da perda nesses anos.
Cenário no Estado de São Paulo
De acordo com o estudo da Federação, no Estado de São Paulo podem ocorrer quedas de, no mínimo, 7,7% no faturamento do varejo em cada um dos meses de abril, maio e junho, em um cenário moderado durante a pandemia; de 8,3%, em uma conjuntura mais grave; e de 9%, em uma situação de crise mais aguda. As perdas podem chegar a R$ 60,3 bilhões, R$ 65,3 bilhões e R$ 70,2 bilhões, respectivamente.
Pequenos
Os pequenos comerciantes representam mais de 90% do setor varejista brasileiro. Levando em consideração uma conjuntura grave, com a queda média de 10% do faturamento nos meses de abril, maio e junho, em torno de 44 mil empresas pequenas não poderão suportar a crise e encerrar as atividades em 2020.
Haverá um prejuízo de ao menos R$ 54,5 bilhões em relação à estimativa de vendas antes da pandemia, com possibilidade de fechamento de até 191 mil vagas de empregos formais.
Retrospectiva de crises anteriores
O Brasil já vinha se recuperando de uma sequência de crises políticas e econômicas, nas quais os pequenos negócios foram diretamente abalados. Entre 2013 e 2017, 98.490 micros, pequenas e médias empresas (MPMEs) fecharam suas portas, reduzindo em 7,1% a quantidade de estabelecimentos atuantes no varejo. No mesmo período, o recuo das grandes empresas do segmento foi de 3,8%.
Entre 2013 e 2017, ocorreram 111.014 desligamentos de pessoas ocupadas no varejo brasileiro. Em apenas um ano, em 2015, o número de pessoas desocupadas aumentou mais de 40%, quando se registrou retração aguda de 4,3% no volume de vendas do setor. Esses postos de trabalho ainda não haviam sido restituídos até o início deste ano. Agora, fica ainda mais difícil para um país que estava em busca de recuperação econômica.
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