Todas as crises, independentemente da sua natureza ou geografia, seguem a mesma fórmula em termos de comportamento do consumidor e a atual crise do Covid-19 não é uma exceção.
O QUE ACONTECE COM OS INDICADORES ECONÔMICOS
Via de regra a ordem dos fatores é a seguinte: com a deterioração do cenário econômico e do ambiente de negócios (impulsionado em diferentes medidas pela mídia e mais atualmente pelas redes sociais), há uma queda na confiança do consumidor e do empresariado, com a queda na confiança o consumo cai, que por sua vez confirma e agrava o animus de todos os agentes econômicos, com a diminuição do ritmo econômico e deterioração do mercado o crédito passa a ficar mais caro e escasso contribuindo para a piora do cenário, a espiral negativa se confirma e acentuasse as demissões, com menos pessoas trabalhando reduz-se a massa salarial (quantidade de dinheiro no mercado) e esse ciclo se retroalimenta até chegarmos ao ponto mais profundo da crise.
O cenário resultante é um quadro com piora do emprego, redução do acesso ao crédito, queda na renda e deterioração da confiança. O que diferencia uma crise da outra é a rapidez com que essa espiral acontece, sua profundidade e tempo de duração do ciclo negativo.
Emprego e Renda: os dados oficiais ainda não refletem o impacto da atual crise, uma vez que levam de 45 a 60 dias para que o resultado do mês seja divulgado, porém as projeções dos principais agentes econômicos apontam para um aumento do desemprego médio anual dos atuais 12% para projeções que variam de 14% a 18%, dessa forma, teremos um pico de desemprego de 15% a 21% no 2-3º trimestres de 2020 e um número total de desempregados que deve flutuar no pico entre 16MM a 23MM de pessoas.
Confiança do consumidor: atingiu o menor patamar desde que o indicador passou a ser medido pela FGV em setembro de 2005, o indicador está sofrendo maior impacto pela confiança futura (perspectivas do consumidor) que atingiu o patamar de 55,0 pontos, já a confiança atual está em 65,6 pontos.
IMPACTO NOS SETORES:
Os Serviços são os primeiros segmentos a serem impactados, com uma menor confiança do consumidor e com menos renda disponível o consumidor passa a racionalizar suas compras, dessa forma, esses segmentos são os primeiros que são cortados do orçamento doméstico. São mais impactados aqueles serviços considerados “supérfluos” ou de entretenimento como alimentação fora do lar, turismo, hotelaria, entretenimento em geral, etc. Outros serviços já são considerados itens de primeira necessidade e tendem a ter o impacto reduzido ou postergado como telefonia/internet, escolas, planos de saúde, seguros, etc.
Os Bens Duráveis (material de construção, móveis, eletrodomésticos, eletrônicos, automóveis, etc.) também são imediatamente afetados por se tratar de categorias com compras mais racionais, de ticket médio maior, que dependem de crédito e de confiança do consumidor – ninguém troca e carro ou geladeira se acha que irá perder o emprego.
Na sequência são impactados os Bens Semiduráveis (vestuário, calçados, artigos esportivos, combustíveis, papelaria, etc.), são itens de compra mais emocional e que possuem ticket médio intermediário, dessa forma também dependem de crédito e confiança, mas em patamar menor que os itens duráveis, os segmentos de consumo enquadrados aqui passam a sentir a queda nas vendas conforme a crise se agrava.
Os bens não duráveis por sua vez (Hiper/Supermercados, Farmácias, Higiene, Beleza, etc.) sentem menos o impacto e são os últimos segmentos a apresentar redução nas vendas, beneficiam-se de comercializar itens de primeira necessidade e que não podem deixar de ser consumidos.
DESEMPENHO DOS SETORES:
Na atual crise do covid-19, os dados apurados pelo indicador ICVA-Cielo apontam alinhamento com o comportamento descrito acima, conforme tabela abaixo que mede o desempenho em faturamento por setor semanalmente na comparação com o dia 02/02/2020.
Apesar do preocupante cenário, temos que lembrar que a economia é cíclica e invariavelmente todas as crises passam e a pujança econômica é restaurada, nesse momento de recuperação os setores que mais se beneficiam são exatamente aqueles que foram mais impactados na crise, pois se gera uma forte demanda reprimida nos tempos de crise e consumidores ávidos para realizar seus desejos e sonhos com os primeiros sinais de melhoria do cenário econômico, dessa forma, com a inevitável recuperação da confiança, do crédito, da renda e do emprego, os setores de bens duráveis e serviços são aqueles que apresentam maior e mais rápida recuperação, seguido pelos bens semiduráveis e não-duráveis.
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