Por Marcos Gouvêa de Souza*
O Brasil e o mercado continuam travados na esteira das indefinições no plano político, que bloqueiam as medidas econômicas que poderiam precipitar uma reversão do atual cenário e sinalizar um melhor desempenho do País em 2016.
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Ao mesmo tempo, o País assiste estupefato o desenrolar do filme de horrores que se transformou a apuração dos crimes de corrupção envolvendo políticos, administradores, empresas públicas e privadas, numa espiral crescente de surpresas que atestam o sentimento generalizado de impunidade que grassava no Brasil.
E fica o sentimento de que enquanto não se chegar ao fim desse processo de identificação e apuração de responsabilidades e a condenação dos envolvidos, estaremos vivendo nesse limbo que se estabeleceu no País, onde o vácuo de liderança tanto no executivo quanto no legislativo federal impede o destravamento no plano econômico.
Enquanto isso, o desemprego e a inadimplência crescem, a confiança empresarial e dos consumidores cai, os investimentos não se realizam, as vendas e consumo esfriam e o crescimento do País e dos diversos setores econômicos, com exceção dos que podem exportar, caem a cada mês.
Esse diagnóstico é aquele discutido e debatido em todos os setores empresariais de Norte a Sul do País com nuances apenas por conta de algumas visões setoriais ou regionais. Mas na sua essência pouco difere na visão da maioria.
E daí ?
Quanto vamos ainda esperar para rompermos o impasse que se criou?
Está configurada uma situação de inanição com as lideranças no Governo Federal, no Congresso e no Senado, comprometidos e impossibilitados de se moverem para um novo ordenamento que faça o País destravar.
Quando o setor empresarial vai se articular para assumir a responsabilidade que lhe cabe no orquestrar de uma outra ordem que resgate valores, ética e visão de longo prazo para romper o quadro atual?
Ainda que a evolução no plano jurídico crie expectativas altamente positivas sobre o processo de transformação ética estrutural que estamos vivendo, algo inimaginável num passado recente, é muito, porém é pouco. É muito como processo de mudança cultural, condenando a corrupção do lado dos corruptores e corrompidos. Mas é pouco para a dimensão dos problemas que temos por resolver.
É preciso que o processo de articulação no plano empresarial aconteça antes que venha das ruas, como ocorreu num passado recente, o clamor por mudanças e ação descoordenada, o que pode trazer consequências imprevisíveis.
É preciso sairmos do debate sensibilizador para a articulação construtiva.
Os empregos que estão sendo perdidos, os recursos que estão sendo desperdiçados, os profissionais que se afastam do País, a migração de inteligências para outros países, o capital que se afasta e as oportunidades que estão desperdiçadas exigem uma outra postura e atitude do setor empresarial.
Fazer parte do problema, mas não da solução é incompatível com o discurso empresarial e com a gravidade do momento.
Muitas das entidades empresariais perderam sua capacidade de reagir, o que explica em parte seu envolvimento na inanição coletiva. Várias delas estão comprometidas com a velha ordem ou manietadas pelos recursos que lhes são destinados pela própria estrutura do Estado. Essa é a razão pela qual essa articulação precisaria ser feita por empresários e as poucas entidades com visão estratégica do País.
Definitivamente não é tempo de assistir o que se passa, mas é dever passar a fazer parte do processo de reconstrução ética, moral e econômica. É uma questão de opção que o futuro nos cobrará.
*Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza. Siga-o no Twitter: @marcosgouveaGS