Na formação dos Ecossistemas de Negócios pelo mundo, movimento capitaneado por empresas multinacionais como Amazon e Alibaba, as marcas de lifestyle, moda e luxo ainda estão nos estágios iniciais. Muitas varejistas do setor só começaram a investir nas vendas online do ano passado para cá, quando as lojas foram fechadas por causa da pandemia de Covid-19.
A análise é de Mark Greeven, professor de Inovação e Estratégia na IMD e autor do livro “Business Ecosystems in China: Alibaba and Competing Baidu, Tencent, Xiaomi and LeEco”. Especialista no tema, ele participou, nesta quinta-feira (27), da terceira edição do evento “Quando os presidentes se encontram”, promovido pela Gouvêa Ecosystem com o apoio da KPMG.
Greeven cita alguns exemplos bem-sucedidos no ramo. Um deles é o da SheIn, plataforma de comércio eletrônico de fast-fashion B2C cujo aplicativo é, atualmente, um dos mais baixados dos Estados Unidos. A companhia vende principalmente roupa feminina, mas também oferece peças de vestuário masculina e infantil, além de acessórios, sapatos, carteiras e outros artigos de moda.
Outro destaque é a Nio, fabricante chinesa de carros elétricos que produz muito mais do que veículos. “É um exemplo muito interessante porque eles construíram o ecossistema em torno da sustentabilidade dos carros e fizeram parcerias com empresas de moda, eletrônicos, artes, produtos de casa, joias e tudo o que está relacionado a lifestyle“, relata.
Alavancar negócio e gerar conexão
Greeven, que há 15 anos atua na Ásia, onde os ecossistemas se originaram, destaca as oportunidades geradas pelo modelo. “O propósito é alavancar o negócio e gerar conexão por meio de ofertas complementares ao core business“, define.
Ele afirma, ainda, que essa conexão independe do porte da empresa. Normalmente, as grandes são atores principais, fomentando a participação dos demais negócios. Mas pequenas e médias também podem formar um ecossistema. “O ponto do ecossistema não tem a ver com o tamanho da empresa, mas sim com ter uma mentalidade para ver aquilo que você pode fazer de melhor com as parcerias.”
A escolha dos parceiros é um dos principais pontos para que o ecossistema funcione e essa orquestração acontece antes mesmo da sua formação. “Se você for o orquestrador do ecossistema, é preciso entender o seu propósito para alinhar os diferentes temas. Você precisa trabalhar com parceiros que você já conhece, com os quais tem experiência. É um erro investir em negócios que você não conhece.”
Greeven admite, porém, que hoje as empresas digitais saem na frente. “Se pensarmos em ecossistemas, para empresas digitais é mais fácil conectar outros produtos e serviços e organizar negócios interdependentes de ofertas centradas no usuário.” O especialista cita como os três pilares fundamentais dos ecossistemas a orquestração das ofertas e parcerias, o conhecimento maior do cliente e a ampliação da vantagem competitiva.
Para ele, a conexão com outras empresas deve ser pensada a partir das necessidades do cliente. “É preciso pensar o ecossistemas com ofertas centradas no usuário, em como ajudar o cliente por meio de parcerias. O cliente não e só quem vai comprar o produto. Ele vai além e, por isso, é preciso pensar em ecossistema. Essa é uma grande máquina que vai beneficiar o cliente e o negócio.”
Principais erros cometidos
Antes de montar um ecossistema de negócios, é preciso entender o propósito dessa parceria e principalmente ter um core business bem estruturado. Um dos principais erros do ecossistema é não ter um negócio principal forte, segundo Mark Greeven. “O ecossistema não vai funcionar se o seu core businnes não for forte. O ecossistema não é para empurrar a venda do seu produto. Ele deve ser usado para melhorar a oferta para seu cliente”, diz.
Greeven citou como exemplo a empresa americana Lowes, do ramo de material de construção e utensílios domésticos. Avaliada em US$ 72 milhões, a empresa criou um ecossistema em 2012. Seis anos depois, porém, descobriu que não tinha um caixa forte para ser bem-sucedida. “Eles fizeram muitas promessas para os clientes, mas demoraram para realizar parcerias e não conseguiam entregar em tempo.”
Outro erro apontado por Greeven foi a demora para aproveitar os dados dos clientes gerados pelo ecossistema. “Eles não fizeram nada com os dados que coletavam dos clientes. Demoravam três anos para aprender alguma coisa e criar uma versão nova do aplicativo.” Com isso, no final de 2018, a empresa decidiu descontinuar o ecossistema.
Desenvolvimento estratégico
Nesta sexta-feira (28), a Gouvêa Ecosystem e a KPMG dão seguimento aos debates sobre varejo com o Programa de Desenvolvimento Estratégico em Consumo e Varejo (clique aqui para participar).
O evento contará com a participação de Shaoming Yang, de Hong Kong, e ex-vice-presidente de Alibaba-AliExpress, Ricardo Geromel, investidor na 3G Radar e autor dos best-sellers “O Poder da China”, sobre tecnologia e inovação da China, e “Bi.lio.nár.ios”.
Participam, ainda, o sócio-líder de Cyber Security & Privacy da KPMG Brasil e para as Américas, Leandro Augusto Marco Antonio, o sócio-diretor de Risk Advisory Services da KPMG Brasil, Eduardo C. Azevedo, e a sócia-líder de Tributos Indiretos – KPMG Brasil, Maria Isabel Ferreira.
A moderação será de Marcos Gouvêa de Souza (fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem) e Eduardo Yamashita (chefe de operações da Gouvêa Ecosystem), autores do whitepaper “Ecossistemas de negócios: Transformando o mercado, o consumo e o varejo”.
Por Aiana Freitas e Larissa Féria
Imagem: Divulgação