Existe alguma empresa que te encanta e que, se te oferecesse uma oportunidade de trabalho, você aceitaria imediatamente? Existe algum líder que te inspire a ter sucesso e que te faria deixar seu atual desafio profissional para fazer parte da equipe dele? Há alguma empresa, sua concorrente, que oferece melhores processos e ferramentas de trabalho e te traria maior potencial de sucesso na carreira?
Em meu último artigo na Mercado&Consumo, falei sobre o grande desafio da geração de empregos. Nele, falamos sobre a necessidade de elevação dos níveis de produtividade como alavanca de abertura de novos postos de trabalho e sobre o quanto está faltando gente qualificada para ocupar ofertas de trabalho oferecidas. Hoje o tema é engajamento – esse outro desafio que tanto impacta os níveis de produtividade das empresas.
Quando falamos de produtividade no Brasil, enxergamos um cenário ainda mais dramático. Estudo realizado pelo IMD (International Institute for Management Development), em 2020, aponta o Brasil na 56ª posição, entre os sete últimos colocados na lista. Apesar de o Brasil ter melhorado três posições no ranking no estudo de 2020 contra 2019, nossos níveis de produtividade ainda são baixíssimos. Como falamos no artigo anterior, a qualificação profissional do brasileiro derruba significativamente a capacidade produtiva e, consequentemente, o engajamento dessas pessoas com as empresas em que trabalham. O resultado é uma sequência de fatores negativos que desafiam a sobrevivência das empresas em um mercado cada vez mais competitivo. Investir no engajamento de seus colaboradores pode ser o primeiro passo para melhorar os níveis de produção e reverter o cenário.
Há lideranças que pensam que engajamento é algo que vem do colaborador. Acreditam que o comportamento engajado é algo que o indivíduo escolhe ter ou não ter. Grande engano! O engajamento vem da empresa para os indivíduos. A origem do conceito de engajamento pode ser a causa para essa inversão. A disposição para se alistar nas Forças Armadas dos Estados Unidos, durante a 1ª Guerra Mundial, e colocar a vida em risco em sangrentas batalhas na Europa realmente vinha de decisões pessoais de cada “engajado”. Mas precisamos entender que a decisão, por mais que fosse individual, pautava-se em um importante fator motivador para que jovens se alistassem. A defesa de seu território, de sua nação, de sua família e, principalmente, o valioso sentimento de estar sendo útil para uma causa grandiosa! Ninguém queria ir para a batalha; eles queriam defender o país das ameaças apresentadas pelo governo.
O que sua empresa está defendendo? Por qual causa sua loja abre as portas todos os dias? Por qual causa os colaboradores estão se expondo ao risco de contaminação nessa pandemia para ir ao trabalho diariamente? Certamente as pessoas têm uma causa pessoal para irem até o local de trabalho, mas será que possuem uma causa para fazerem suas atividades com o maior empenho e produtividade? Ou estão apenas focadas em receber seus salários ao final de um mês de presença no local de trabalho? Na edição do Retail Trends de 28 de janeiro deste ano, organizado pela Gouvêa Ecosystem, tive oportunidade de apresentar o tripé de sustentação do engajamento nas empresas:
- Admiração pela empresa/marca em que trabalha
Geralmente está associado à contribuição que essa empresa promove à sociedade ou comunidade local. - Liderança inspiradora
Quando o colaborador enxerga que a(s) liderança(s) da empresa estão genuinamente comprometidas com o sucesso dos colaboradores. - Satisfação com as atividades desenvolvidas
É o prazer em trabalhar! Acontece quando as pessoas foram capacitadas plenamente para executar as tarefas de seu cargo/função e sabem que estão contribuindo para a empresa. Também tem relação com o perfil pessoal, pois as atividades do cargo devem ter afinidade com a personalidade e valores do indivíduo.
Admiração pela marca/empresa está diretamente relacionada ao fato de se ter um propósito bem definido! O blog Clima em Curso cita que empresas com propósito aumentam a lealdade dos funcionários, atraem o melhor talento e criam uma cultura de excelência. A força do propósito bem definido é enorme.
Walt Disney tinha o propósito de levar felicidade às pessoas com a criação da Disneyland e, hoje, a empresa é ícone em encantamento e magia no atendimento aos seus consumidores. Isso só é possível de ser sustentado por conta da força com que aquele propósito, idealizado em 1955, vem sendo preservado e disseminado entre os colaboradores da empresa. A cultura de empoderamento da Disney garante esse engajamento fantástico que perpetua a presença de Walt Disney na empresa. Confesso que a Disney faz parte de uma lista de desejos pessoais. Há muitos anos, “sonho” em me engajar numa oportunidade de trabalho lá! Resultado de uma empresa que entende que o engajamento é resultado da causa que propõe aos colaboradores.
Não precisamos ir tão longe para ver o excelente resultado de empresas que nascem com propósito bem definido e trabalham seu(s) propósito(s) continuamente para conquistarem engajamento, com clientes internos e externos. A Natura é um dos maiores e bem-sucedidos exemplos de empresa nacional que, com muita competência, se tornou um gigante da Indústria de cosméticos sustentando seu propósito de “Deixar o Mundo mais bonito”. São cerca de 1,7 milhão de consultoras na América do Sul engajadas em fazer o seu melhor para serem mais bonitas e fazerem o mundo mais bonito. Durante a pandemia, o propósito de cuidar do mundo foi fortalecido com as diversas ações visando cuidar das pessoas e, assim, colocando em prática sua maior ferramenta de sucesso nos negócios: o engajamento de pessoas por uma causa importante para todos.
Chegando ao fim, te convido a reler as três perguntas no topo desse artigo. Se sua resposta for “sim” para alguma das perguntas, você identificou uma empresa engajadora! Torço para que muitos leitores tenham pensado em sua empresa!
Luiz Guilherme Baldacci é sócio-diretor da Friedman.
Imagem: Envato/Arte/Mercado&Consumo