Por Claudia Bittencourt*
Resiliente ou estruturado? O que sustenta uma rede de franquias em momentos tão desafiadores e por que o impacto da crise no franchising tende a ser menor?
O franchising, desde o seu apogeu no Brasil, no final da década de 80, vem crescendo em faturamento e em números de redes que aderem ao sistema para a expansão de seus negócios. Ano a ano ele vem crescendo na casa dos dois dígitos, porém nos últimos três anos não apresentou o mesmo desempenho, mas ainda assim apresentou um crescimento muito acima do PIB.
O crescimento do franchising sempre foi exaltado nos meios de comunicação, mas não podemos deduzir que ele esteja imune aos impactos da crise por qual passa o nosso País. Porém, ele traz lições para a classe empresarial de uma maneira geral que podem ser copiadas, melhoradas e por fim aprendidas. Se sustentar em meio à crise pode ser uma prerrogativa do modelo de gestão utilizado pelas redes de franquias.
Portanto, o que o empresários podem aprender com o franchising? Algo simples e até óbvio, a partir do momento que se coloca atenção nesse modelo. Comentamos alguns considerados mais relevantes:
Avaliação estratégica do modelo e conceito do negócio
O franchising nasce a partir de um negócio em operação, muitas vezes pelo desejo do empresário de expandir a marca e a distribuição de seus produtos para outras áreas ou regiões até então não exploradas. O sucesso dessa expansão está na diferença entre o desejo e a condição. Nem sempre a empresa está preparada em relação à estrutura, processos e tecnologia, gestão de pessoas e cadeia de abastecimento para sustentar uma rede de franquias, e aqui surge o primeiro aprendizado ou ponto de estrangulamento.
Se a intenção é real e se o empresário tem clareza suficiente de suas deficiências ou do seu desconhecimento sobre o que sustenta um negócio de franquias, via de regra ele busca ajuda. Muitos têm seguido por esse caminho, sem colocar em risco a marca e o conceito do negócio que opera atualmente com sucesso.
A ida para o franchising antecipa ou provoca discussões e revisões estratégicas sobre o modelo de negócio, formato, mix de produtos, posicionamento, etc, uma vez que esse modelo deverá ser formatado e estruturado para ser replicado, em sua essência, permitindo o acesso a outros empreendedores à marca, ao conceito e à fórmula operacional de sucesso e, serem bem-sucedidos.
Tudo começa com planejamento e com processos claros e bem definidos
Quando um franqueado entra em um negócio de franquia ele recebe um “kit tecnológico” que o capacita a iniciar bem a operação, como por exemplo, os manuais com o detalhamento de cada processo que deve executar, deste a abertura do negócio no inicio do dia até o encerramento das atividades no final do dia. E, associado a esses instrumentos, um treinamento antes de iniciar a operação para capacitá-lo nos respectivos processos e deixar claro quais são suas responsabilidades e direitos. Tudo isso com um acompanhamento de perto de um consultor, na unidade, para avaliar o quanto ele assimilou o processo e ajudá-lo nos seus primeiros dias até que se sinta seguro.
A Relação é de interdependência e ganha-ganha
Outro aspecto importante é que no franchising o conceito de interdependência e de relação ganha-ganha é real. Para que o franqueado tenha sucesso, o franqueador coloca uma estrutura à sua disposição, e a transferência de know-how e o acompanhamento dos resultados da rede é contínuo. Primeiro porque faz parte do conceito do franchising e segundo porque os próprios franqueados acionam e cobram esse apoio em suas unidades, uma vez que precisam ser remunerados pelo emprego de sua força e trabalho além de obterem o retorno do capital investido. Se compararmos com uma rede própria, a postura de um gerente de uma filial nem sempre é a mesma.
Consequentemente, esse processo reflete na remuneração da franqueadora, que precisa ser compensada pela concessão do uso da marca e pela transferência de know-how.
Franqueadores estruturam equipes multidisciplinares para dar suporte aos franqueados em finanças, vendas, pessoas, gestão de estoque, marketing, enfim, nas atividades fim e meio da unidade franqueada. E se existem os que não fazem a lição de casa? É claro que sim, porém os resultados e os cases de sucesso de quem pratica são visíveis e para estes empresários a expansão acontece de forma saudável e sustentável ao longo dos anos, com franqueados motivados e ávidos por mais unidades da rede.
Aqui, podem estar um dos principais pontos que contribuem para que as redes de franquias suportem e sobrevivam a uma crise e eventual recessão econômica. O fato de o franqueador estar junto, contribuindo com ações para melhorar resultados, com programas de capacitação com foco em custos, produtividade e revisão de processos pode fazer diferença nesse momento.
Condição para Diluir Risco em diferentes mercados com diferentes formatos de negócio
O franchising é dinâmico, permite ao franqueador criar diferentes formatos de negócios, em sinergia com os diferentes mercados, diferentes públicos, diferentes mix de produtos e serviços e com empreendedores com porte de capital diferentes.
Estamos acompanhando um movimento lindo no franchising, a capacidade de inovar em formatos e na forma de atender o cliente tem sido surpreendente. Franqueados de loja que operam no porta a porta, que faz o caminho inverso e abre lojas, o de lojas que montam trucks e que vão ao encontro do cliente e oferecem conveniência. Há muitos exemplos, como o mercado pet, alimentação e beleza. Marcas que se juntam e geram influência uma para a outra e assim vão criando barreiras para a crise.
Enfim, são muitas as lições do franchising que podem contribuir para que empresários de qualquer porte e qualquer segmento, mesmos os considerados mais tradicionais, possam se beneficiar, independentemente de usarem ou não o modelo de expansão com franquias.
*Claudia Bittencourt (diretoria@bcef.com.br) é sócia e diretora-geral do Grupo BITTENCOURT