Por Luiz Alberto Marinho*
Há um certo consenso entre os líderes do varejo nacional de que, independentemente do que acontecer nas esferas política e policial, o cenário econômico desfavorável ainda deve durar bastante tempo. Isso ficou claro durante o Fórum de Consumo, Varejo e Shopping Centers, que o LIDE** promoveu neste último final de semana, no Guarujá, em São Paulo.
Em função da crise, o brasileiro já mudou seu comportamento de compra – nada menos do que 59% dos consumidores reduziram frequência ou gasto em supermercados e 66% deles passaram a visitar mais lojas em busca do melhor preço, de acordo com dados da dunnhumby, apresentados durante o Fórum. Curiosamente, 80% dessas pessoas querem economizar em produtos básicos, como itens de higiene e limpeza, para manter o gasto em pequenas extravagâncias, como doces e bebidas. Adriano Araújo, head da dunnhummby no Brasil, acredita ainda que nestes tempos bicudos, passarão maior aperto as marcas intermediárias. Em outras palavras, a tendência é de polarização, com vantagem para quem vende barato e também para quem consegue agregar valor ao seu produto.
Da teoria para a prática
Ronaldo Iabrudi, presidente do GPA – Grupo Pão de Açúcar, é outro que não acredita que os ventos voltarão a soprar a favor do varejo tão cedo. Por isso, o GPA reforçou sua posição de caixa, para possibilitar uma travessia menos turbulenta. Iabrudi teme que muitos varejistas, sem o mesmo fôlego financeiro, não consigam permanecer no mercado. Outras medidas estão sendo tomadas no GPA, tais como promover sinergias com outros países, cortar custos por meio da busca da eficiência e da pesquisa por soluções sustentáveis, otimizar investimentos, diversificar canais e agregar valor por meio de diferenciação. Ou seja, a receita é fazer mais com menos.
Outra empresa que está procurando fazer o dever de casa direitinho, para passar pela tempestade sem muitos sobressaltos, é a C&A. Paulo Correa, seu presidente, também esteve no Fórum do LIDE, para apresentar sua estratégia omnichannel e o incrível novo posicionamento: ‘tudo lindo e misturado’. A C&A quer se beneficiar deste momento, oferecendo em diferentes canais produtos cobiçados pelos seus clientes, a preços acessíveis. Também está de olho nos custos, fechando lojas deficitárias para focar naquelas que trazem melhores resultados.
Se de um lado a C&A experimenta canais virtuais, de outro marcas tradicionalmente vendidas no porta a porta flertam abertamente com as lojas físicas. Roberto Lima, presidente da Natura, confirmou no Guarujá que além de abrir lojas em shoppings (a primeira, com projeto dos irmãos Campana deve inaugurar até o meio do ano em São Paulo), pretende expandir a venda de seus produtos em lojas parceiras, como a Raia Drogasil.
E os shoppings nisso tudo?
As discussões do Fórum do Guarujá deveriam inspirar a indústria de shopping centers na procura por novos caminhos. Afinal, as medidas adotadas por parte do varejo, que passam pela busca por sinergias, corte de custos, maior eficiência, otimização de investimentos, abertura de novos canais e fontes de receitas, diferenciação e um novo posicionamento, também são adequadas à maioria das empresas deste setor.
Na abertura do evento, Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, disse uma frase antológica: “Não me considero nem otimista, nem pessimista. Sou um ‘possibilista’. Prefiro olhar para as possibilidades que existem para o Brasil”.
Concordo com ele. É hora de pararmos as lamentações, arregaçarmos as mangas e começarmos a aproveitar as possibilidades que estão por aí. Possibilidades de fazer melhor, com menos recursos e mais eficiência. De repensar nosso modelo de negócio. De nos reposicionarmos, com coragem, ousadia e criatividade. Nos nossos shoppings não precisamos de otimistas nem de pessimistas. Queremos, isso sim, ‘possibilistas’. Quem se candidata?
😉
**Ps.: O conteúdo do 4º Fórum de Varejo, Consumo e Shopping Centers teve curadoria da GS&MD e da GS&BW.
*Luiz Alberto Marinho (marinho@gsbw.com.br) é sócio-diretor da GS&BW. Siga-o no Twitter: @luizmarinho