O blockchain está no varejo, mas não com toda a potencialidade com que poderia estar. A constatação é do economista Luiz Calado, especialista no assunto e ex-presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto). Ele fez uma apresentação durante mais uma edição do “Programa de Desenvolvimento Estratégico em Consumo e Varejo” promovido pela Gouvêa Academy, braço de educação corporativa da Gouvêa Ecosystem.
Para Calado, o potencial todo não foi alcançado, ainda, porque muitas empresas ainda contam com profissionais com mentalidade “engessada” – e, para usar o blockchain com eficiência, é preciso se aproximar da mentalidade característica das startups. “Por muitos anos, foi difícil desvincular o blockchain das criptomoedas e mostrar que ele é útil no mundo do negócios. Há várias aplicações do blockchain no varejo”, afirma.
Ele cita o exemplo da Nestlé, que usa o blockchain para dar, ao consumidor final, informações sobre alimentos infantis. “As pessoas querem saber, e com razão, de onde vêm os ingredientes dos produtos que elas dão para seus bebês. A Nestlé percebeu isso e desenvolveu uma solução junto com a IBM”, conta. Atualmente, na França, apontando o celular para um QR Code presente na embalagem de um purê, por exemplo, o consumidor pode saber, por exemplo, os tipos de batata usados num alimento, o método de cultura desses ingredientes e até o nome do agricultor.
Luiz Calado destaca, ainda, o caso do Carrefour, que viu as vendas serem impulsionadas pelo uso do blockchain para rastrear carne, leite e frutas das fazendas às lojas. Isso aumentou a confiança do consumidor, uma vez que permitiu que eles evitassem produtos com organismos geneticamente modificados, antibióticos ou pesticidas, se quisessem. “A grande palavra é confiança. Você consegue passar segurança ao consumidor, mostrando de onde vem o produto, se é orgânico, se é local – para quem se importa com essa característica.”
A tecnologia vem sendo cada vez mais usada, também, na moda. Da mesma forma como no caso dos alimentos, hoje clientes de grandes varejistas podem, por meio das etiquetas das roupas, saber de onde vem o algodão usado na fabricação, por exemplo. O CEO do Blockchain Research Institute (BRI) Brasil, Carl Amorim, destaca que esse pode ser um diferencial para os marketplaces que vendem produtos de sellers variados. O blockchain pode confirmar a procedência desses produtos. “O blockchain é um esporte no qual a gente precisa competir”, resume.
Imagem: Reprodução/Wall Street Journal