Por Marcos Gouvêa de Souza*
Depois de meses de profunda retração de consumo, o mercado sinaliza uma perspectiva diferente do cenário anterior. Aparentemente descobrimos que parece existir um túnel no fundo, do qual pode haver uma luz. No mínimo, o sentimento é que paramos de piorar.
Nada que possa ser ainda entendido como recuperação de investimentos e aumento de emprego, mas ao menos as empresas ligadas ao consumo e varejo voltam a olhar para frente, com um horizonte de perspectivas diferente do que vinha ocorrendo.
Nenhuma grande ilusão e apenas a certeza de que até que haja uma definição final no congresso na terceira semana de agosto, estamos todos “pisando em ovos” e esperando que o tempo passe mais rápido para que possamos engatar outra marcha para sair do atoleiro que o País se meteu.
Os elementos que marcam essa perspectiva de que “existe túnel” envolvem, como fato mais marcante, o terceiro mês consecutivo de recuperação da confiança do consumidor. Esse é um fato a ser comemorado depois de sucessivas quedas que levou o índice ao seu menor patamar histórico. Foi após a aprovação do início do processo de impeachment que se desenhou a recuperação do indicador oficial da confiança do consumidor, um dos quatro elementos fundamentais da equação que determina o comportamento do consumo e das vendas do varejo.
Outro elemento fundamental é o nível de emprego que se encontra no patamar de 11,2% para o período março a maio, na nova metodologia implantada com base na PNAD do IBGE. Para efeito de comparação, esse indicador no período março-maio de 2012 era de 7,6%, ou seja, cresceu 3.6 pontos percentuais no período de apenas quatro anos.
Regionalmente, são os estados do Sudeste e a população na faixa etária de 18 a 24 anos que mais sofre no atual quadro.
Um em cada quatro jovens de 18 a 24 anos está desempregado.
Como resultado a massa salarial real, ou seja, o volume de recursos disponível para consumo e pagamento de encargos de toda a população neste momento está praticamente igual ao que era no mesmo período em 2013 ou, traduzindo, em termos reais retrocedemos três anos no quesito potencial de consume da população.
Mas não deixa de ser surpreendente que, no atual quadro, a inadimplência das pessoas físicas tenha tido, até o momento, um comportamento razoavelmente equilibrado, sendo o atual indicador de 4,3%, baseado na inadimplência acima de 90 dias, segundo o Banco Central, muito próximo do mesmo indicador no mesmo período em 2014, quando começou o período recessivo.
Esses indicadores são resultado de uma combinação de consumidores que se tornaram mais maduros e cautelosos e dos bancos e financeiras que “travaram” a concessão de crédito com preocupações sobre o comportamento futuro. Mas o resultado é que uma retomada de consumo encontrará o mercado razoavelmente saudável sem excessivo endividamento e com capacidade de assumir novos financiamentos.
O País, em especial os consumidores, empresários e investidores, depois de passarem meses sem nenhum sinal que pudesse significar uma reversão de tendências, parece começar a acordar desse longo período de letargia e prostração que acometeu o País e só espera o sinal definitivo, configurado na votação definitiva no congresso, para voltar a sonhar com um futuro mais interessante e positivo.
Por enquanto fica o sentimento de que, aparentemente, encontramos o túnel no meio do cipoal.
*Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza. Siga-o no Twitter: @marcosgouveaGS