O lançamento anunciado nesta semana do novo formato e bandeira Fresh do Pão de Açúcar, de lojas de vizinhança dedicadas a alimentos frescos e saudáveis, é mais um exemplo de aceleração de ciclos precipitada pela pandemia.
Ao combinar mais uma proposta de lojas de proximidade, vizinhança ou conveniência – conceitos que se mesclam na visão do consumidor – com uma oferta focada em alimentos frescos e com apelo saudável, o Pão de Açúcar atende a demandas emergentes dos consumidores pós-pandemia com alternativas mais fáceis, convenientes, próximas e acessíveis, perto do lar, ao mesmo tempo em que reforça sua oferta focada no cuidar melhor de si, a começar pela alimentação.
Do lado do apelo saudável, essa demanda já vinha sendo parcialmente atendida por conceitos como Hortifruti Natural da Terra, Mundo Verde, Boali e outros, em alternativas corporativas, franquias ou lojas e mercadinhos especializados independentes. Além das muitas opções que cresceram exponencialmente pelo delivery e e-commerce, como Liv Up, Teé, Pronto Light, Panelinha e muitas mais.
Tudo tem a ver com a forma como a pandemia acelerou em muito a preocupação que já crescia dos consumidores com o bem-estar, alimentação correta, saudável e origem dos produtos consumidos.
De outro lado, a questão da conveniência, facilidade e proximidade já era outro movimento em expansão pré-pandemia, por conta da questão da consciência do tempo envolvido em deslocamentos e no processo de compra em si, que o período mais crítico da covid-19 só aumentou, acelerando a transformação do mercado, tornando menos convenientes formatos maiores, que consumissem mais tempo para serem acessados e usados (clique aqui para ler o Momentum nº 936 sobre hipermercados).
Carrefour, com suas bandeiras Express e Market, o próprio Pão de Açúcar, com o formato Minuto e agora com Fresh, Hirota e muitos mais, incluindo as redes de conveniência dos postos, Am/Pm, BR Mania e a recente entrada da Oxxo no mercado já eram respostas para essa crescente orientação para a demanda por proximidade, facilidade e conveniência.
É fundamental destacar o avanço das alternativas de alimentação por meio do e-commerce, a próxima e mais importante fronteira a ser conquistada que aproximou o Pão de Açúcar do Mercado Livre, acelerou os projetos do Carrefour nessa frente e precipitou a aquisição do Hortifruti Natural da Terra pelas Americanas, além das compras de startups de delivery de alimentos e outros movimentos feitos por Magalu.
Sem falar no enorme crescimento do delivery pelas redes de foodservice, que, tecnicamente, organiza todo o mercado de alimentação preparada fora do lar, e que vem roubando de forma significativa fatia do mercado de alimentação do canal lojas, pois atende à também emergente demanda por soluções que marca o comportamento do consumidor pré, durante e que crescerá ainda mais pós-pandemia.
Fragilidade das redes de alimentação tradicionais
Uma das principais fragilidades do canal loja das redes tradicionais de alimentos é sua dificuldade em se reposicionar com respeito às soluções em alimentação, ou seja, os alimentos prontos ou semiprontos para consumir, que têm sido exploradas pelo delivery, o foodservice e os novos conceitos lançados mais recentemente.
Historicamente os alimentos preparados e prontos dos supermercados, das “rotisseries”, eram alternativas para atender a uma demanda limitada e uma forma de melhorar a oferta para uma parcela pequena de consumidores que precisava dessa opção. Nas lojas de conveniência no Brasil, uma opção para capturar vendas incrementais pelo apelo do impulso.
Com a evolução de mercado, poucas empresas desse setor focaram na criação de reais diferenciais competitivos nessa área, como acontece com redes como a Wegmans ou o benchmark Whole Foods nos Estados Unidos. E isso explica em parte o rápido avanço das opções do setor de foodservice, ocupando espaços e avançando no “share of pocket”.
O que vem por aí
O que vamos acompanhar de forma crescente nos próximos anos no canal lojas é a combinação da expansão de formatos de proximidade, combinados com uma maior e mais competente oferta de alimentos prontos e semiprontos, ao mesmo tempo em que se manterá, ou sofrerá pequena redução, o espaço do delivery do foodservice ou das redes tradicionais – porém todos sofrendo a crescente concorrência das alternativas ofertadas pelo e-commerce, que vai diversificar, aumentar o nível de serviço, qualidade e competitividade.
Como sempre o maior beneficiário será o consumidor final, que terá mais alternativas, mais convenientes e mais serviços e facilidades. Para não falar em preços ainda mais competitivos.
E fica o crescente desafio para as organizações que atuam no setor de como continuar a oferecer ainda mais, por menos, num ambiente pressionado pela inflação, como se enfrenta no presente e no futuro próximo.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
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