Tendência no mercado mundial, as boas práticas de sustentabilidade também fazem parte do planejamento das empresas de bebidas alcoólicas no Brasil, com definição de metas e concretização de iniciativas relacionadas ao tema. É o que apontam os Indicadores Setoriais de Sustentabilidade da Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), instituição que reúne todas as categorias de bebidas alcoólicas.
Os dados indicam que 57% das empresas de bebidas alcoólicas já apresentam iniciativas ou práticas relativas às políticas de meio ambiente e sustentabilidade e 69% trabalham com a redução de resíduos sólidos.
Com base no trabalho realizado em parceria com a KPMG, o “Primeiro Relatório Sustentabilidade Abrabe” vem complementar o diagnóstico setorial realizado em 2019, que consistiu em um estudo de mercado do setor de bebidas alcoólicas. Este ano, a incluiu temas e indicadores de governança ambiental, social e corporativa pela primeira vez. Com isso, além de apresentar o cenário econômico de volume de vendas, volume de produção, faturamento, importação, exportação, distribuição e empregos, a Abrabe traça um panorama com as perspectivas sobre o tema da sustentabilidade no setor.
“Além de uma importante referência para o mercado, [o estudo] é uma ferramenta poderosa de medição para que o setor planeje sua rota e continue evoluindo suas práticas no objetivo de ambiente mais sustentável e cada vez mais conectado com as demandas da sociedade e do planeta”, ressalta a presidente-executiva da Abrabe, Cristiane Foja.
3 bilhões de toneladas de resíduos
De acordo com dados do Banco Mundial, em 2050 o mundo deve gerar mais de 3 bilhões de toneladas de resíduos. Como forma de conter e reduzir esse número, organizações têm adotado a economia circular, processo que visa o desenvolvimento econômico sustentável por meio da redução, reutilização e reciclagem do produto de modo repetido no ciclo de produção como forma de estender a sua vida útil.
Atualmente, cerca de 73% das embalagens de bebidas alcoólicas na Abrabe são de vidro, resíduo infinitamente reciclável, uma vez que uma garrafa pode se transformar em outra, gerando um ciclo de sustentabilidade e, também, encaixam-se no conceito de reuso. Entre as empresas que participaram da pesquisa, 31% adotam embalagens retornáveis de vidro em seu portfólio de produtos, variando a taxa de reutilização entre 53% e 100%.
Há também uma adesão cada vez maior pelas associadas a iniciativas para reduzir ou eliminar resíduos sólidos em suas operações, com 69% das empresas com alguma iniciativa, sendo a reciclagem a prática mais utilizada entre elas, com adesão de 83%, seguida pela reutilização, com 50%, e compostagem, com 46%. Das empresas que têm meta de redução de resíduos em suas operações, três empresas já conseguiram atingir a meta de Aterro Zero, três estão próximas de conseguir e as restantes devem alcançar até 2023.
A Abrabe atua na reciclagem do vidro por meio do “Glass is Good”, programa de logística reversa do vidro que envolve toda a cadeia. Com a reciclagem das embalagens de vidro, há menos consumo de energia, redução na extração de matéria-prima e emissões de CO2 na atmosfera durante a produção, além de diminuir o depósito de resíduos de vidros nos aterros sanitários, onde ficariam ocupando espaço, já que o material não se decompõe como os produtos degradáveis. Há também o Ecogesto, focado em cooperativas, atuando nos pilares ambiental, social e econômico. Juntos, os dois programas recuperaram, em 2020, 77 mil toneladas de embalagens pós-consumo, junto a 150 parceiros em 18 estados e mais o Distrito Federal.
Redução do consumo de energia
Outras estratégias inseridas no processo para minimizar impactos negativos ao meio ambiente estão relacionadas ao clima e energia. Segundo a pesquisa, 46% das associadas têm projetos nessa esfera, sendo que, destas, 88% possuem iniciativas de redução e gestão de consumo de energia, 56% trabalham na redução e gestão de emissão de gases do efeito estufa. Entre as associadas, 14% também têm metas de reduzir a emissão de gases nocivos ao meio ambiente.
A prática de redução de consumo de energia é adotada, na maioria dos casos, através da migração para outras fontes de energia renovável, com instalação de placas solares, parques eólicos e caldeiras de biomassa; substituição no tipo de iluminação com maior utilização de LED e sensores de presença; além de projetos arquitetônicos que privilegiam a utilização de luz natural e pouco uso de ar-condicionado. Já as práticas para menor emissão de gases envolvem o consumo e geração de energia renovável; substituição de frota; substituição de matéria-prima; compensação de emissões; identificação de riscos relacionados às mudanças climáticas; e precificação de carbono.
No campo da diversidade, dobrou o número de empresas com metas entre 2019 e 2020: atualmente, 23% das associadas têm iniciativas para ampliação da diversidade em seu quadro de colaboradores, enquanto 20% têm essa esfera como meta, porcentagem que era de apenas 9% em 2019. Entre as iniciativas realizadas, estão a realização de palestras, participação em eventos de combate à homofobia e o preconceito de raças. Entre as metas citadas pelas companhias, estão: dobrar a participação feminina em posições de liderança; elevar a representação de líderes de origens étnicas diversas para 45% até 2030; e ter 50% de todas as posições de liderança ocupadas por mulheres.
Produção e gestão sustentáveis
O relatório apresentado mostra a preocupação das empresas associadas com o consumo responsável de água ao apontar que 34% apresentam meta de redução de consumo, como a recuperação de 60% da água de lavagem dos vasilhames. O tema consumo de água ainda aponta que 51% das associadas abraçam práticas relacionadas à redução de consumo – destas, 72% têm iniciativas de reuso.
O trabalho ainda encontrou diversas referências ao fortalecimento de estruturas internas relacionadas ao ESG, mostrando que esse pilar é uma prioridade da agenda: 31% das empresas responderam que publicam relatório anual de sustentabilidade e 37% levam em consideração os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU durante a elaboração de políticas corporativas. Em 2019, esses números eram de 26% e 31%, respectivamente. Além disso, 50% das empresas respondentes já possuem sistema de gestão ambiental (SGA), isto é, estrutura organizacional que atua auxiliando a empresa na avaliação e controle de impactos ambientais de suas atividades. E, entre essas, 47% também dispõem de certificação de qualidade ISO.
Quanto aos números coletados relacionados ao mercado de bebidas alcoólicas no Brasil, o documento aponta um aumento de share em volume no universo Abrabe. Em 2019, juntas, as associadas representavam cerca de 30% de todo volume de bebidas alcoólicas comercializado no país. Passados dois anos, o indicador subiu para 34%. O faturamento bruto também cresceu: foi de R$ 32,2 bilhões em 2020, enquanto esse valor era de R$ 29,7 bilhões em 2019, um crescimento de quase 40% em relação à primeira medição, e geração de 21.183 mil empregos diretos no ano passado.
Em 2020, comparado a 2018, houve um aumento em empregos diretos em 12% nas associadas. Além disso, as empresas foram responsáveis por 29% do volume de bebidas alcoólicas produzidas pelo setor em 2020, representando um aumento de 20% comparando com 2018. Houve um incremento no número de centros de distribuição, de 73 para 78, e de unidades fabris, de 48 para 49. Naturalmente, com a pandemia, houve uma mudança significativa no volume comercializado nos diferentes canais. Em 2018, o volume on-trade representava 59% do todo. Hoje representa apenas 47%.
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