Esse é um período onde tradicionalmente se criam ou se renovam promessas. Algumas das quais vão para a caixa do esquecimento e outras se tornam realidade. Seria importante que o setor empresarial brasileiro fizesse uma profunda reflexão sobre seu papel na transformação estrutural do país, especialmente neste momento, e fizesse ao menos uma Promessa solene de mudança em sua forma de atuação a partir de 2017. Não mais ser coadjuvante, mas se tornar protagonista nas questões estratégicas que envolvem o Brasil.
O modelo de representação empresarial no país está fragmentado, disperso e pulverizado, quando não desalinhado com a realidade global e é em parte responsável pela situação que o país viveu e vive. São muitas instituições, mais formais ou informais, mais oficiais ou privadas. Sem falar nas empresas de donos travestidas de entidades.
A representatividade oficial e formal é uma herança do que foi criado por Getúlio Vargas com sua estrutura de Confederações, Federações e Sindicatos patronais, alguns deles com o mesmo comando há décadas e muitos deles perderam sua capacidade de interpretar e representar a situação atual em toda sua complexidade, o que fez surgir inúmeras outras entidades, com maior ou menor representatividade, precipitando esse processo de fragmentação e perda de capacidade de atuação integrada.
O resultado disso é a ausência de uma voz ativa e respaldada que possa falar com todo o peso do setor empresarial, especialmente quando os temas envolvem aspectos mais relevantes e estratégicos do Brasil.
As inúmeras entidades existentes acabam focando sua atuação no âmbito específico de seu setor, tema ou região e os grandes temas nacionais são decididos na esfera institucional, envolvendo os três poderes constituídos. Os empresários e suas entidades, com maior ou menor representatividade, são convidados a opinar, participar em Conselhos e até ouvidos. Mas não tem a força da integração e do alinhamento para respaldar suas posições. E, principalmente, dificilmente chegam a um consenso sobre o diagnóstico e a visão que deve prevalecer nos temas estratégicos.
Essa ausência de alinhamento é resultado direto da fragmentação e faz com que os grandes temas nacionais fiquem a margem dos assuntos mais emergenciais e oportunistas. Não deveria ser assim.
Poucos países, é verdade, têm modelos de representação empresarial integrada e atuante. O que não deveria nos desencorajar, mas sim nos desafiar.
Está provado que quando as coisas vão bem os empresários se dedicam a cuidar de seu negócio para aproveitar o vento a favor. E quando vão mal, se dedicam a seus negócios para evitar o pior. Essa é a lógica que tem prevalecido e a história recente no Brasil é prova cabal dessa realidade.
Não deveria e não pode ser assim.
A crise que estamos passando mostra que não é possível delegar as responsabilidades sobre os grandes temas estratégicos aos poderes constituídos. E mostra também que a corrupção e as ligações setoriais e empresariais espúrias podem corromper e destruir o tecido social colocando-nos em situação frágil e com iminentes riscos institucionais.
Empresários não devem ser convidados a falar.
Precisam falar em nome do que é relevante para as empresas, para o emprego e para a competitividade global do país a partir de sua experiência como líderes com visão estratégica desenvolvida e praticada permanentemente como modelo de negócio.
E nada pode ser mais saudável para uma Nação do que um setor empresarial protagonista, presente, atuante e forte para negociar junto aos poderes constitucionais o que é melhor para o país no longo prazo.
Talvez fosse a melhor promessa de ano novo que os líderes empresariais brasileiros poderiam fazer neste momento. Seria o melhor para o Brasil. Só não pode ser esquecida e postergada. As dores da crise recente poderiam ser a melhor forma de nos mantermos atentos a essa necessidade.