Os shopping centers que ficam em regiões com grande concentração de prédios corporativos estão entre os que mais encontram dificuldades para recuperar público após a pandemia de covid-19. Com a adesão ao trabalho remoto, não há mais garantia de público nos cinco dias da semana. Ou seja: os shoppings perderam espaço na rotina dos habitantes de cidades como São Paulo. E não só pelo home office, mas também pelo crescimento de compras no comércio eletrônico e pela falta de interesse na atual grade de cinema, segundo relataram especialistas no setor ao Estadão.
Um exemplo é o Shopping Market Place, do Grupo Iguatemi, que tem muitos pontos vazios. “O Market Place é um shopping de almoço para a região dos escritórios. O home office reduziu o fluxo de forma impactante, e houve o aumento do e-commerce, o que também afeta outros empreendimentos em regiões de escritórios, como o Shopping Vila Olímpia”, diz Priscila Cardanha, sócia da assessoria de fusões e aquisições Fortezza Partners.
Em 2022, os shoppings ainda estão mais vazios do que antes da pandemia. Segundo dados da Associação Brasileira dos Shopping Centers (Abrasce), ainda que o volume nominal de vendas de 2022, de R$ 202 bilhões, tenha superado a marca de 2019, de R$ 193 bilhões, uma entre cinco pessoas que visitavam os shoppings ainda não voltou – são 105 milhões de consumidores a menos nos centros de compras.
Entre as apostas para atrair o público, estão desde postos de troca de figurinhas da Copa do Mundo até eventos e exposições. Mas especialistas avaliam que será necessária uma adaptação do mix de lojas para incluir mais serviços presenciais, como consultórios médicos, academias e restaurantes.
Procurado, o grupo Iguatemi afirmou que o Market Place está inserido em uma área que tem se adensado com torres residenciais e comerciais, com retomada gradual de atividades no entorno. A empresa diz que o empreendimento “não é alvo de fusão ou aquisição”.
Consolidação
Com a redução de público e de vendas em 2020 e 2021, a vacância média dos shoppings no País chegou a passar de 10%, o que reduziu o valor dos empreendimentos e favoreceu a consolidação do setor. O grupo HSI, a Gafisa e a Multiplan fizeram aquisições desde então para ingressar em novas cidades ou aumentar a exposição a nichos, como o de alta renda. “A pandemia trouxe oportunidades de fusão e aquisição porque o setor é muito fragmentado. São mais de 30 administradores, sem contar mais de 200 que são individuais”, diz Glauco Humai, presidente da Abrasce. O executivo afirma que o setor passa por uma fase de retomada, que não é afetada pela consolidação.
Além disso, em junho deste ano houve a fusão das gigantes BRMalls e Aliansce Sonae. Juntas, elas serão de longe o maior grupo de shoppings do País. Para Luiz Marinho, sócio-diretor da Gouvêa Malls e colunista da Mercado&Consumo, o movimento de concentração do setor ainda não terminou. “Em 2023, se a taxa de juros e a inflação caírem, a consolidação de shoppings deve acelerar no Brasil”, afirma.
Menos lançamentos
Para Alexandre Machado, sócio do Hedge Investments, o apetite do mercado por aquisições está ligado ao alto custo da criação de novos shoppings. José Isaac Peres, presidente da Multiplan, reforça essa visão. “A gente gosta de fazer, mas nesse momento uma aquisição ou uma fusão pode ser o melhor negócio”, disse.
Com informações de Estadão Conteúdo (Lucas Agrela; colaborou Circe Bonatelli).
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