Depois de passar algumas edições com foco em conteúdos que mostravam como as plataformas podiam atrair visitantes para as páginas, o Fórum E-commerce Brasil 2024 destacou a logística como um dos principais temas da feira. O evento de três dias, realizado há 15 anos, ocorreu no Distrito Anhembi, em São Paulo, entre os dias 30 e 31 de julho e 1º de agosto.
Roberto Wajnsztok, sócio-diretor da Gouvêa Consulting, acompanha o Fórum desde a primeira edição. Segundo o executivo, a mudança reflete a fase que o e-commerce brasileiro está vivendo. “Havia uma preocupação muito grande em encher a loja de visitantes, e isso permeou o evento por muitos anos”, afirma Wajnsztok. “De uns anos para cá, houve uma maturidade da cadeia”, complementa.
Hoje, a quantidade de visitas importa menos que a taxa de conversão das vendas e a logística, que precisa ser eficiente para fazer o produto chegar mais rápido e com menor custo à casa do consumidor, sob o risco de perder clientes para plataformas que investiram ou estão investindo nesse setor.
De acordo com o consultor, muitos estandes deste ano foram ocupados por empresas full commerce, oferecendo soluções completas para as operações digitais, atraindo o varejista pela capacidade logística. Nas palestras, termos como “hub logístico” e “terceirização de toda logística do negócio” permearam as discussões sobre a evolução do e-commerce, também de acordo com com Wajnsztok.
Dados e IA
Um dos estandes que abordou o tema da logística foi o da Wake, ecossistema focado em soluções digitais para varejo, indústria e outros setores. O painel “Inteligência Artificial para o varejo: possibilidades para o presente e o futuro” reuniu, além da própria anfitriã como mediadora, a Nvidia, AWS e Intelipost, nesta quinta-feira, 1º de agosto.
Os painelistas foram unânimes sobre a necessidade de contar com soluções que integrem Inteligência Artificial para tratar dados que tornem o frete uma operação rápida e eficiente. Ross Saario, CEO da Intelipost, destacou que os e-commerces brasileiros perdem 70% das vendas e que o frete é um dos principais motivos para a desistência da compra: ou é muito caro ou é muito demorado.
Na visão de Saario, o Brasil possui dois desafios na comparação com mercados mais maduros, como os Estados Unidos: o primeiro deles é de infraestrutura, o que envolve políticas públicas, cujo tema ele não iria debater. O outro, e sobre o qual é mais otimista, é a aplicação de tecnologia para roteirizar entregas. As dificuldades em traçar rotas otimizadas encarem significativamente o custo do frete.
À frente de uma empresa que conecta 1.500 transportadoras e movimenta 120 milhões de pedidos em sua plataforma, Saario defende que somente a IA é capaz de associar os bilhões de dados e as variáveis das operações para sugerir, por exemplo, rotas mais viáveis, a menor custo e com mais velocidade de entrega. Para o executivo, o aprendizado de máquina ainda tem o benefício de se tornar cada vez melhor e com uma eficiência impossível para uma pessoa.
Fabio Balancin, arquiteto de Soluções da Amazon Web Services (AWS) pontou que, hoje em dia, existem inúmeras soluções capazes de atender os e-commerces, mas é preciso ter clareza sobre o problema para justificar o investimento. Segundo Balancin, um dos pontos fortes da aplicação dos algoritmos é a sua capacidade de predição e o valor que uma informação sobre o futuro pode impactar os negócios, desde as vendas à entrega de produtos ao consumidor final.
Nessa perspectiva, Guilherme Fuhrken, gerente de Varejo da Nvidia no Brasil, argumentou que conhecer o histórico, o passado, tem pouco valor, mas saber o que acontecerá nos próximos dias, tem um valor inestimável para as empresas e que esse é o potencial da Inteligência Artificial integrada às organizações. Como exemplo, cita que soluções da Nvidia possibilitam a inserção de algumas variáveis para predizer vendas e antecipar demandas, como eventos próximos, categorias de produtos, entre outras informações. A posse desses dados alavanca vendas e posiciona melhor uma empresa em relação à outra.
Responsável pela mediação do painel, Diego Santos, gerente executivo de Inovação e Novos Negócios da Wake, contou que a Inteligência Artificial foi debatida por ser ainda um tema muito atual e por estar conectada de ponta a ponta com a jornada do consumidor.
A Wake investe em soluções que cobrem o processo inteiro de compra e experiência de consumo. A Wake Creators, por exemplo, conta com influenciadores cadastrados e validados pela companhia. Um dos principais diferenciais do serviço oferecido é possibilidade de assertividade de uma campanha, uma vez que todos os dados gerados pelos influenciadores são captados pela Wake e transformados em insights e análise preditiva. Outro exemplo é a Wake Experience, cuja ferramenta promove experiência de compra hiperpersonalizada, que significa mostrar ao cliente certo, o produto certo, na hora certa.
Neste último quesito Santos ressalta que a customização de dados inclui predizer o que o cliente ira comprar e mostrar o produto no momento mais adequado. Humanamente, não seria possível realizar essa medida cliente a cliente.
Fórum E-commerce Brasil
Em três dias de evento, o Fórum reuniu cerca de 28,5 mil participantes, 350 palestrantes e mais de 270 expositores. A organização da feira estima que foi gerado R$ 1,5 bilhão em negócios.
Os palcos simultâneos somaram e as mais de 30 áreas de conteúdos somaram, aproximadamente, 330 horas de conteúdo.
Imagens: Mercado&Consumo