Nenhum assunto tem causado mais interesse recentemente na economia do que o avanço das criptomoedas, capitaneado pelo boom do valor de mercado do Bitcoin, e que parece que tem tudo para mudar a maneira como entendemos as relações de compra e venda de produtos através de uma nova moeda, um novo dinheiro.
Para quem ainda não conseguiu ler nada a respeito, de maneira simplificada, criptomoedas são uma nova maneira de contabilizar uma relação de compra/venda através de um sistema que não utiliza um intermediário como o governo ou os bancos para a realização das operações. Essas operações levam esse nome pois utilizam criptografia para criar um sistema anti-hacking, associada a um novo sistema de armazenamento de dados, chamado blockchain, que, em suma, é um sistema de dados que não tem um local específico de armazenamento de dados, estando ao mesmo tempo em todos os computadores ligados ao sistema.
Como exemplo: Para realizar a maioria das operações hoje, você precisa do banco como um intermediário. Mesmo a parte da população que se encontra desbancarizada, tem o governo como intermediário, pois esse é o emissor de moedas e, por isso, controla o quanto de moeda é disponibilizado no mercado.
Tentando trazer para a discussão o impacto disso no mundo do varejo, a questão é que se trata de algo totalmente novo, e que conseguiu rapidamente sair da teoria para algo que se difundiu e conquistou o mundo. Por isso, acredito que seja difícil tratar do assunto através de análises que têm como base os fundamentos da antiga economia. É realmente mais complexo do que parece entender qual será o futuro das criptomoedas no mercado.
Hoje há mais de 1000 novas criptomoedas em circulação e há até mesmo governos interessados em criar suas próprias criptomoedas, como a China ou a Venezuela (que vê nesse caso, uma forma de controlar sua hiperinflação e até já tem um nome de batismo para a nova criptomoeda – Petros). De fato, parece que a criptomoeda pode sim se tornar um substituto ao dinheiro, num mundo onde ainda usamos papel e metal para contabilizar a compra/venda da economia.
Mas você pode estar se perguntando: Mas já não usamos cartões e formas de pagamento digitais como substituto ao dinheiro? Não necessariamente. Esses são “representantes” do dinheiro, mas não seus substitutos.
A grande questão para que as criptomoedas sobrevivam é que elas precisam ser utilizadas para o propósito pelo qual foram criadas: Para serem utilizadas. Embora muita gente esteja comprando bitcoins aguardando sua valorização para revendê-las, o que vai ditar o futuro das criptomoedas será sua aceitação nos mercados, principalmente os grandes varejistas. Se as pessoas apenas guardarem bitcoins, e o mercado não tiver interesse em aceitá-las, será sempre necessário convertê-las novamente ao dinheiro em circulação, para poder consumir/comprar alguma coisa. Isso cria um efeito similar à bolha econômica que ficou conhecida como a “crise das tulipas” no século XVII, também conhecida como a primeira bolha mundial, por isso, tanta gente vem discutindo a possibilidade do mesmo efeito.
Um estudo da JPMorgan, mostrou que dos 500 maiores varejistas online do mundo, apenas 3 aceitam o Bitcoin como forma de pagamento, contra 5 em 2016. Ou seja, ao invés de aumentar, está caindo o número de varejistas que aceitam a moeda.
Ainda segundo o estudo, um dos fatores para a baixa aceitação é que dado o fato de que as pessoas estão “segurando” a moeda para valorização, o número de pessoas que as usa para transações é muito pequeno, quase irrelevante, se comparado ao investimento que o varejo precisa realizar para poder aceitar e gerenciar a questão do Bitcoin. Em resumo: Ainda não se justifica o investimento. Até mesmo a Amazon vem relutando em aceitar criptomoedas como forma de pagamento.
Mas no caso do varejo, sempre vale a máxima de “quem sai na frente, colhe melhores resultados”. A questão é definir qual é o melhor momento de entrada para aceitação. Apesar dos dados do estudo acima, a questão parece ser menos de aceitar ou não, e mais de “quando” começar a aceitar.
Há algo que pode facilitar facilmente a adoção de criptomoedas pelo varejo mundial: O percentual de população adulta ainda desbancarizada no planeta, que gira em torno de 40%, (no Brasil, em torno de 15%), versus a disponibilidade de celulares no mundo, que no Brasil já chegou a um número quase 2 vezes maior que sua população. Uma moeda 100% digital poderia facilitar o acesso e uso de populações mais carentes. Varejistas que têm seu foco nessa população, se as criptomoedas se tornarem de fato moedas correntes ao invés de ativos financeiros, talvez possam obter bons resultados adotando as mesmas como forma de pagamento.
2018 tende a ser um ano que definirá o futuro das criptomoedas e seu caminho no mercado. Com a rápida explosão e interesse mundial, será o ano que definirá o termo de fato como uma nova forma de dinheiro, ou de fato, poderemos assistir algum efeito bolha.
Veremos.