Na tentativa de recuperar a sustentabilidade da sua operação, a Amil pretende se apoiar em um novo modelo de planos individuais e familiares, entre outras estratégias, para encontrar uma rota de crescimento no País. A empresa vinha amargando anos de prejuízos e virou centro de rumores de venda pela sua dona, a gestora de planos de saúde norte-americana UnitedHealth Group (UHG). O grupo trouxe Aline Schellhas, que ocupou o cargo de diretora financeira da UHG Brasil e da Amil nos últimos três anos, para ser a presidente da companhia e promover mudanças.
“Como meta primordial, temos o foco no crescimento, olhando para as grades de produtos que melhor representam as necessidades da saúde no Brasil”, disse Aline. Por isso, a Amil está investindo em um novo plano individual e familiar, desenvolvido por 14 meses, com o objetivo de atender um público que não tem plano empresarial ou não pode recorrer a entidades de classe para adquirir um convênio.
A nova proposta é diferente dos planos individuais e familiares que a companhia tinha em sua prateleira – e que são a causa de boa parte do rombo financeiro do grupo de saúde. “São produtos mais previsíveis e com risco mais controlado”, diz Aline. Agora, eles serão regionais, sem abrangência nacional, e os usuários terão acesso somente a hospitais, laboratórios e consultórios da própria rede.
Com segmentação ambulatorial e hospitalar com obstetrícia, o plano tem abrangência de atendimento em quatro municípios do Estado de São Paulo: na capital, em Guarulhos, Arujá e Mogi das Cruzes. Os valores dos planos da nova carteira variam entre R$ 600 e R$ 1,4 mil.
Planos
A executiva ressalta que a Amil vai manter a gestão da carteira legada de planos individuais e familiares e que não fará esforço para que os clientes dessa carteira migrem para o novo plano, apesar de esperar que haja uma “migração voluntária para um plano mais sustentável”.
“Os produtos legados foram criados há 20 anos e serviam um mercado em que quanto maior a rede melhor era a percepção do produto”, lembrou, afirmando que este não é mais o entendimento. A presidente da empresa avalia que os beneficiários ficavam perdidos em uma rede “desnecessariamente complexa”, em suas palavras. Ela não explica, porém, como a empresa pretende compensar o prejuízo que o plano legado deixou. “Crescer e diversificar risco. Não há nenhum plano específico”, disse.
Dois dos maiores desafios dos planos individuais e familiares abertos são a dificuldade de obter maior escala e o pesado custo em contraste a um limite de reajuste imposto pela Agência Nacional de Saúde (ANS). Enquanto os corporativos têm maior liberdade para aumento de preços, os individuais e familiares precisam respeitar o teto definido pela agência reguladora.
Venda cancelada
Com 350 mil usuários, a carteira legada de planos individuais da Amil foi alvo de intensos rumores de venda e chegou a ser passada, no final de 2021, para a APS, empresa do grupo UHG, mas a transação foi cancelada pela ANS. “Estamos reafirmando nosso compromisso no Brasil”, diz Aline, acrescentando que o lançamento do plano representa um reforço por parte da UHG de que não sairá de nenhum segmento no País. Nesse sentido, a executiva nota ainda que os esforços estão na reversão de um prejuízo que superou os R$ 2 bilhões em 2022.
No ano passado, a Amil investiu R$ 500 milhões em tecnologia e nos hospitais. Além dos planos individuais, outros projetos estão em evolução, como o desenvolvimento de uma ferramenta que facilita o engajamento dos corretores e dos beneficiários com a operadora, disse a executiva, sem revelar mais detalhes.
Com a preocupação geral das operadoras e seguradoras de saúde em relação à sinistralidade, que se encontra em patamares elevados desde a pandemia, Aline diz que a aposta no novo plano é uma resposta à preocupação da Amil com o índice, que mostra a relação entre as despesas e a utilização dos serviços, já que seria um plano mais sustentável.
Mesmo assim, oferece planos com opção sem coparticipação, mecanismo de controle de frequência usado para promover um uso mais racional por parte dos beneficiários. “Estamos confortáveis em dar as duas opções. Há um risco diferente, e as mensalidades refletem esse risco”, explicou a presidente.
Com informações de Estadão Conteúdo (Cynthia Decloedt e Isabela Moya)
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