Tudo indica que os momentos de bonança vividos pelo consumo no Brasil estão perto do fim. O período de forte crescimento estimulado pela ampliação do mercado interno marcou os últimos anos pela conjugação de melhoria da renda das famílias, emprego, crédito e confiança do consumidor e proporcionou a mais importante transformação da estrutura socioeconômica do mercado com a incorporação de mais 40 milhões de brasileiros à classe média.
A verdadeira transformação do consumo não ocorreu exclusivamente por estímulos fiscais ou tributários mas foi decorrente da transformação estrutural do mercado. Porém é preciso reconhecer que nada de relevante deverá acontecer nos próximos seis meses.
Sem importantes ajustes macro econômicos e, portanto, o potencial para continuidade de crescimento futuro está muito limitado. Esse cenário já vinha se desenhando desde o ano passado e se considerou que a Copa do Mundo pudesse contribuir decisivamente para uma mudança dessas perspectivas.
Por conta de investimentos diretos em alguns setores de fato houveram alguns benefícios expressivos mas, passado esse período e na entressafra que ficará entre a Copa e o resultado das eleições associado com o efeito prático de medidas que possam ser implantadas, teremos um tempo em que o consumo vai andar de lado, impactando o comportamento do consumidor, as vendas no varejo e as decisões de novos investimentos.
Período de “banho-maria” na economia brasileira
Em termos muito práticos nesse período as empresas não contarão com vento à favor e em alguns segmentos devem considerar a perspectiva do vento contra num quadro agravado pela baixa confiança geral do mercado, a reticente inflação e o aperto no crédito precipitado, principalmente, pelos bancos privados nacionais, ante o temor de aumento da inadimplência.
Sem considerarmos a “argentinização” da inflação brasileira cujos índices parecem não representar exatamente a realidade do aumento dos preços aos consumidores, o que agrava a confiança e o próprio consumo, em especial nos segmentos de menor poder aquisitivo.
O resultado é o necessário ajuste de velas para navegar com maiores dificuldades e menor velocidade. Como parte desse processo muitas empresas já começaram a revisão das projeções futuras de vendas e a promoção de ajustes em suas estruturas, redução ou maior cautela nos investimentos e igualmente a renegociação de volumes de compras e prazos de pagamentos num processo que, inevitavelmente, só tende a agravar os sintomas percebidos. Mas que não podem ser protelados ou ignorados.
O lado mais claro de toda essa situação é a absoluta prioridade em privilegiar tudo o que possa significar melhoria de Eficiência e Produtividade nas operações atuais.
Especialmente para os operadores varejistas e seus fornecedores de produtos e serviços o momento é de rever operações de lojas, centros de distribuição, ecommerce, comunicação, promoção, propaganda, preços e condições praticadas, fluxo de caixa, relações com fornecedores, logística e abastecimento, rotação de estoques, análise e concessão de crédito, enfim, rigorosamente tudo.
A ênfase que predominou no passado recente de privilegiar a expansão, o crescimentos e a incorporação de novos segmentos e regiões baseado no aumento da participação de mercado foi substituída pela busca da eficiência e produtividade, mesmo que com eventual sacrifício da participação.
De forma estruturada porém profunda e ampla é tempo de repensar tudo e até que um eventual novo ciclo econômico se inicie os negócios de forma geral, mas especialmente os ligados ao consumo, precisarão fazer um mergulho para buscar alternativas para encontrar respostas e resultados em suas próprias realidades já que não poderão contar com o estímulo do mercado.
O lado positivo de momentos como esses é que sempre se descobre que é possível fazer mais com menos incorporando a mesma lógica predominante no comportamento dos consumidores que também querem cada vez mais por menos.
Nota: Alinhado com o momento que vive o mercado, a 17a edição do Fórum de Varejo da América Latina, realizado pela GS&MD – Gouvêa de Souza nos dias 26 e 27 de Agosto no auditório da Fecomércio em São Paulo, terá com tema central a busca da Eficiência e Produtividade no setor. Acesse o programa completo através do site www.forumdevarejo.com.br.
Por Marcos Gouvêa de Souza, fundador e diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.