Tudo não terás

Se o tema geral é o momento, nada mais atual do que a discussão das perspectivas sobre as eleições presidenciais que vão para a rua com as definições oficiais dos candidatos a presidente e vice, com a propaganda oficial e os debates.

E quais os potenciais impactos no comportamento do mercado, do consumo e do varejo. Este é o tema do momento até porque o quadro de indefinição está impactando o desempenho setorial de forma marcante. A somatória de greve dos camioneiros, resultado da Copa do Mundo e agora eleições tem impacto direto na cautela dos consumidores e no resultado das vendas, com reflexos no emprego, expansão e investimentos. Estamos andando de lado fazem alguns meses.

O cenário das candidaturas

Talvez o candidato ideal fosse aquele que somasse a experiência de Alckmin, a visão financeira global de Meirelles, a proposta ideológica de Flávio Rocha (mesmo já afastado da disputa direta), a visão sustentável de Marina Silva, a militância aguerrida do PT, a visão econômica de Paulo Rabello (agora definido como vice), o destemor de Bolsonaro, a empolgação de Ciro, o equilíbrio de Álvaro Dias, a renovação proposta por Amoedo e mais eventual alguma coisa da Manuela D’Ávila, Boulos, Eymael e outros.

Mas o dito popular do “Tudo não terás” explica mais uma vez a importância das escolhas, especialmente quando as cartas estão colocadas na mesa e uma análise de nossa realidade recente é absolutamente desanimadora pelo fosso que tem se ampliado entre o que temos vivido no Brasil e a realidade internacional. Conseguimos o prodígio de estarmos ficando para trás na América Latina!

É inegável que um balanço das últimas décadas mostra um país quase à deriva, sem projeto e visão, sendo administrado pela contingência do momento e se distanciando de melhores níveis em educação, saúde e segurança, atribuições fundamentais do Estado.

Um país que tem sobrevivido pela resiliência do setor privado concorrendo em absoluta desiqualdade de condições com outros países.

Realisticamente somos competitivos globalmente no agronegócio e em alguns poucos setores de serviços e indústria.

No varejo e na distribuição, a flexibilidade e capacidade adaptativa permitem a sobrevivência de cada vez menos empresas de origem nacional e cresce de forma marcante a participação de empresas globais em todos os setores, com poucas e honrosas exceções, como eletroeletronicos, móveis, calçados e farmácias.

Sem juízo de valor, apenas de fato, até porque essa é a irreversível tendência mundial. E poucas empresas nacionais, muito poucas, se reposicionam para buscarem sua internacionalização.

Um novo ciclo se iniciará em poucos meses

As regras e os candidatos, suas chapas, coligações e estratégias de comunicação já estão praticamente definidas, com alguns poucos detalhes por serem concluídos e alguns elementos permitem alguma análise definitiva.

A menos que haja algum fato novo absolutamente imprevisível, teremos as eleições definidas no segundo turno, o que deverá significar pelo menos mais quatro meses de letargia na economia.

De outro lado, quem quer que seja eleito, terá que dirigir o país com um Congresso que será marcado por baixa renovação. Apesar da enorme expectativa, para não dizer absoluta necessidade, a renovação não será aquela que precisaríamos por conta das regras de uso das verbas de comunicação.

Por mais destemido, visionário e voluntarioso que seja o presidente eleito, dentro do jogo democrático, ele terá que ter a experiência e habilidade para governar com um Congresso cujas características são sobejamente conhecidas.

O que gera alguma esperança é que parece haver entre os candidatos com maior chance, um certo compromisso com a continuidade de mudanças estruturais, especialmente envolvendo as reformas previdenciária, tributária e política, sem o que nada terá efeito prático em termos de transformação da realidade atual.

Da mesma forma, entre os mais cotados e com real chance de avançarem, parece haver consenso da absoluta necessidade de não haver nenhum recuo no combate à corrupção, o pior legado dos últimos governos.

Nas próximas semanas, teremos uma visão mais clara das reais chances dos candidatos nesta eleição e, como sempre, se renovam esperanças de que o que tenhamos pela frente seja melhor que o passado recente e que possamos sair para um novo ciclo de expansão e crescimento, potencializando todos os elementos que já permitiram, num passado não muito distante, que fossemos uma das maiores economias do mundo, condição da qual nos afastamos exclusivamente por conta de nossos próprios erros e opções equivocadas.

Ainda que aceitemos plenamente que tudo não teremos, podemos decisivamente atuar para termos mais do que temos. É uma questão pessoal de opção e decisão pela transformação.

 

Nota:

Entre os dias 28 e 30 de agosto, no Latam Retail Show, no Expo Center Norte, em São Paulo, serão apresentadas as perspectivas de curto, médio e longo prazo que irão impactar o mercado no Brasil, na América Latina e no Mundo e os impactos que as próximas eleições podem ter no varejo brasileiro, pela visão e contribuição de mais de 160 palestrantes e debatedores, líderes que inspiram líderes, em diversos painéis.

*Imagem reprodução

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