Com a rápida e constante digitalização dos canais de relacionamento com os clientes e da otimização dos processos, impulsionadas pela Inteligência Artificial, o uso de dados para guiar decisões e estratégias se torna uma prática cada vez mais comum em qualquer tipo ou tamanho de negócio a utilização de dados para guiar decisões e estratégias. No entanto, para que essa prática seja verdadeiramente eficaz, é crucial que as empresas identifiquem as oportunidades e os desafios da gestão de dados nos negócios.
A importância da qualidade dos dados
A qualidade dos dados coletados é um fator decisivo para o sucesso das análises. Dados imprecisos ou desatualizados podem gerar interpretações erradas, que, por sua vez, resultam em decisões inadequadas. Para garantir que os dados sejam confiáveis, é fundamental implementar práticas de validação e limpeza durante o processo de captação.
As empresas devem manter um ciclo contínuo de revisão dos dados, de governança, de quais stakeholders estão aptos a acessar e editar os dados, assim como garantir um repositório único, assegurando que as informações utilizadas reflitam o que, de fato, acontece com os clientes ou seu negócio, possibilitando análises confiáveis e decisões estratégicas mais acertadas.
Identificando tendências com eficácia
A análise de dados passa necessariamente por entender o que aconteceu no passado. Assim como o mercado financeiro sempre ressalta que “resultados passados não garantem resultados futuros”, ao se analisar o desempenho de uma campanha digital, ou de uma pesquisa de satisfação, deve-se sempre levar em consideração as variáveis externas.
Em uma avaliação ruim de NPS, certa vez, verificamos que as chuvas impediram os caminhões a cumprirem a rota prevista, o que impactou o abastecimento e gerou uma avaliação negativa da operação.
Assim como condições econômicas, greves, variação cambial, mudanças nas preferências dos clientes e até novas tecnologias podem impactar a performance. Uma análise abrangente que leve em conta os dados históricos e as tendências emergentes ajudarão a criar previsões mais realistas e fundamentadas. Além disso, criar correlações entre as informações é crucial para uma análise completa.
Desenvolvimento de segmentação de clientes
Os dados nos permitem dividir a base de clientes em grupos distintos, de acordo com seus comportamentos e hábitos de compra, tempo e forma de relacionamento com a marca, construindo as famosas “personas”.
Essa prática não apenas possibilita uma compreensão mais ampla das preferências de cada segmento, como também a personalização das estratégias de marketing. Implementar campanhas direcionadas que atendam às necessidades específicas de cada grupo pode aumentar significativamente o engajamento e a fidelidade do cliente.
No entanto, devemos tomar o cuidado de não segmentar demais e ter uma limitação operacional para chegar adequadamente a cada uma das personas. De que adianta uma marca ter 15 personas distintas, se sua estrutura de dados e de relacionamento não tem capacidade para realizar campanhas com essa acuracidade? Pense nisso. Comece aos poucos e vá aprimorando sua atuação com consistência.
Oportunidades de modelagem preditiva e a importância da adaptabilidade
A modelagem preditiva é uma ferramenta valiosa que permite que as empresas antevejam comportamentos e tendências com base em dados históricos. Em uma experiência recente, desenvolvi um exemplo em que, por meio do monitoramento dos canais de relacionamento da empresa com seus clientes e da integração dos sistemas operacionais internos, criamos um algoritmo para prever o churn.
De acordo com a quantidade de chamados abertos, da criticidade desses chamados e das questões operacionais, era gerada uma lista semanal de clientes com propensão ao churn, que eram, então, priorizados para visitas pelas equipes comerciais e de atendimento, com o objetivo de evitar sua perda.
É fundamental reconhecer que esse tipo de modelagem não é sempre preciso. Para maximizar seu potencial, as empresas devem utilizá-la em conjunto com um entendimento claro dos fatores que influenciam os comportamentos dos clientes. Valide os modelos com frequência junto a todos os steakholders envolvidos, e ajuste suas abordagens conforme necessário, pois a adaptabilidade é chave para a eficácia nesse tipo de análise.
O impacto positivo da Inteligência Artificial
A Inteligência Artificial (IA) está revolucionando a forma como os negócios utilizam dados, pois permite análises de grandes volumes de dados em tempo real, identificando padrões e tendências que seriam difíceis de detectar manualmente.
Isso possibilita que as empresas não só prevejam comportamentos futuros com maior precisão, mas também personalizem experiências do cliente de forma dinâmica. Além disso, a automação de processos, como a segmentação de clientes e a criação de campanhas de marketing, pode aumentar a eficiência operacional e reduzir custos, liberando as equipes para se concentrarem em estratégias mais criativas e inovadoras.
Compromisso com o aprendizado contínuo
O ambiente de negócios é dinâmico, o que significa que a abordagem em relação aos dados deve ser igualmente flexível. Promover um ambiente de aprendizado contínuo dentro da organização permite que as equipes fiquem atualizadas sobre novas técnicas, ferramentas e tendências do setor. As empresas que fomentam a cultura de aprendizado e adaptação estão melhor posicionadas para responder a mudanças e aproveitar novas oportunidades assim que elas surgirem.
Pra fechar…
Os dados em si não têm valor se não forem traduzidos em ações práticas. Para que as informações adquiridas resultem em melhorias tangíveis, é essencial a identificação de prioridades e, a partir disso, desenvolver planos de ação que respondam às tendências identificadas. A comunicação clara e a colaboração entre equipes são fatores que facilitarão essa transição para a ação.
O uso eficaz de dados pode melhorar a eficiência operacional das empresas e impactar positivamente a forma como interagem com seus clientes. No entanto, para capitalizar essas oportunidades, é necessário um enfoque cuidadoso e estratégico.
Focando na qualidade das informações, na análise de tendências, na segmentação do público, na implementação de modelagens preditivas eficazes, na tradução de dados em ações e no investimento no aprendizado contínuo, as empresas estarão preparadas para competir em um mercado cada vez mais orientado por dados.
Alexandre van Beeck é executivo de CX, Inovação, Estratégia e Negócios.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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