Há alguns anos, fazer compras de mercado era significado de ir a grandes lojas, cheias e exigindo um tempo longo. Com a mudança de hábitos de consumo, cada vez mais convenientes, as pessoas passaram a dar preferência por compras menores, mais rápidas e mas mais frequentes. É nesse cenário que entra o mercado de vizinhança, ou os mercadinhos de bairro, como eram chamados antigamente. Eles são minimercados, padarias, bombonieres e lojas de autoatendimento em condomínios, com uma gama selecionada de produtos para atender ao consumidor de forma cômoda.
Neste cenário, a pandemia teve um papel de acelerar essa tendência, que essencialmente é uma modernização das antigas mercearias de bairro, popularizando e consolidando esse tipo de comércio como opções reais para o dia a dia das pessoas. Segundo a Allis, uma empresa de Field Marketing, houve um crescimento de 20% na busca dos consumidores pelo comércio perto de casa. Com a aceleração da jornada de consumo, o cliente de agora considera a comodidade e a rapidez como pontos fundamentais na hora de escolher onde comprar.
Conveniência para além dos postos
Até um tempo atrás, a questão da conveniência era diretamente atrelada aos postos de combustível, com as tradicionais lojas que ofereciam um mix de lanchonete e produtos rápidos em um espaço pequeno do estabelecimento. Com a alteração do comportamento do consumidor, a conveniência se emancipou dos postos, ganhou os bairros e, agora, é buscada em diversas frentes do varejo.
Com as medidas restritivas no início da pandemia, uma parte da população passou a buscar por locais mais próximos de casa, evitando grandes centros para comprar. Segundo o Sincovaga (Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo), uma pesquisa com 100 varejistas de pequeno porte na capital São Paulo revelou que 46% tiveram aumento de vendas com a pandemia, e 63% de crescimento das vendas à distância. O segredo pode estar na integração com diferentes canais: 79% dessas lojas investiram em redes sociais e 28% criaram pontos logísticos destinados a vendas não presenciais.
Digital como sinônimo de crescimento
Essas estratégias de otimização estão diretamente ligadas à digitalização, que já provou ser algo que impulsiona o negócio de modo positivo. Um estudo da consultoria BCG revelou que 33% das empresas brasileiras já maduras digitalmente tiveram mais de 10% de aumento na receita desde o início da pandemia; enquanto, para as atrasadas no âmbito digital, somente 15% conseguiram ultrapassar os 10% de crescimento. Como o mercado de vizinhança já traz para si o conceito de ser ágil e cômodo para o cliente, não investir em tecnologia pode até mesmo afastar consumidores em potencial.
Como uma saída para sanar possíveis gargalos, o mercado tem olhado atentamente para sistemas de gestão completos, voltados especificamente para mercados de proximidade. É uma forma de implementar operação facilitada, totens de autoatendimento, cadastro de produtos, controle de estoques e serviço de delivery, por meio de uma única solução. Para a experiência dos clientes, alguns sistemas até mesmo criam programas de fidelidade, descontos e promoções.
Com a gestão endereçada, o varejista deve também ficar atento às estratégias de crescimento. Entender a clientela, oferecendo um mix de produtos coerente é crucial para o cliente enxergar valor e não buscar por um hipermercado para encontrar o produto necessário. Uma pesquisa da GFK Brasil revelou que 37,9% dos pequenos estabelecimentos fizeram mudanças no mix de produtos nas lojas em 2020, de olho justamente no que os clientes mais buscavam.
A tendência que ganhou força na pandemia pode se estabilizar de vez, desde que as estratégias corretas sejam colocadas em prática, mesmo que pouco a pouco. O varejista do mercado de vizinhança que oferecer uma jornada de consumo ágil, simples, personalizada, qualificada e digital para o cliente conseguirá observar mais lucratividade.
E aproveitar os momentos de picos de vendas do varejo é uma estratégia importante. Uma pesquisa da Offerwise encomendada pelo Facebook mostrou que para a próxima Black Friday, 50% dos brasileiros irão dar preferência a comércios locais, e 43% pagariam um valor a mais por uma forma mais fácil de fazer compras durante a data. A data será uma chance de provar que a conveniência ganhou relevância o suficiente para manter pequenos negócios de bairro no páreo da competição também.
Samuel Carvalho é gerente de Mercado de Proximidade da Linx
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